Troca de perspectiva porque historicamente o jornalismo de moda, filho ( bastardo) do jornalismo feminino é que era (e ainda é) tido como alienado. Escrevi artigos, livros buscando mostrar a seriedade do jornalismo de moda, como expressão de uma cultura, de um momento histórico, politico e econômico. Abaixo, farei um breve resumo do que pensei e ainda penso.
" (....) O jornalismo de moda não escapa da imagem forjada pelo brilho de plumas e paetês. Para os leigos, o profissional do setor viveria de desfile em desfile, cercado por manequins deslumbrantes e ganhando altos salários para desfrutar de um permanente glamour - Mera fantasia até inofensiva se não contribuísse para a desvalorização de um trabalho que, feito a sério, é dos mais sérios. (...) Moda é vista como uma especialização menor" Publicado na revista Desfile, Bloch Editores, em julho de 1987
" (....) A moda sofre uma discriminação grande (...) Até pelos demais jornalistas é visto como uma especialização menor, pouco digna de respeito. (...) Numa conversa com a jornalista Regina Guerreiro escutei um desabafo que resume toda má vontade em relação aos jornalistas de moda: 'As pessoas acreditam que para entender de moda basta ser mulher ou homossexual - o que em si enfatiza um preconceito contra a mulher e contra o homossexual." Publicado na Revista de Domingo, do Jornal do Brasil, em 12 de maio de 1987
" (...) A moda é tão discriminada que o jornalismo de moda é visto por seus colegas especializados em outras áreas (economia, saúde, educação, politica ou esporte) como um produto menor, pouco digno de respeito. Mas a desconsideração pela moda não vai diminuir sua importância na economia nacional. Título: "A moda é discriminada", jornal Folha de São Paulo, em 25 de maio de 1988.
"O Primeiro curso do Brasil: Ruth Joffily criou no Centro Cultural Candido Mendes o primeiro curso de jornalismo e produção de moda do país. (...) O curso - é o primeiro e único do Brasil - divide-se em 3 partes. O texto, onde se discute pautas. texto, reportagem e fechamento de matéria. Na parte de produção nós fazemos a seleção de roupas, escolha do fotógrafo, da modelo, cabeleireiro e maquiador, definição de local e a montagem das roupas. Numa terceira parte do curso nós fazemos um resumo sobre a história da moda.(...) O curso de verão será um resumo da historia da moda no Brasil e no exterior. Você vai conhecer os estilos através dos tempos, inclusive como nasceram as coleções Dior, Coco Chanel e Mary Quant, os japoneses, os grandes centros de moda e sua influência no Brasil. (...) " Jornal Mobile Cultural do Centro Cultural Candido Mendes, Ipanema, RJ.
" (....) O imortal escritor Machado de Assis já havia captado, no século XIX, a importância do vestuário, que é analisado com uma atualidade impressionante na seguinte passagem do romance Brás Cuba: 'A natureza previu a vestidura humana, condição necessária ao desenvolvimento da nossa espécie. A nudez habitual, dada a multiplicidade das obras e dos cuidados do individuo tenderia a embotar os sentidos e a retardar os sexos, ao passo que o vestuário, negaceando a natureza, aguça e atrai as vontades." Jornal Última Moda, Universidade Veiga de Almeida, em "A importância do curso de moda", edição de julho de 2001.
" (....) A moda é uma porta aberta para a forma de ser, para o espírito de uma época. Também faz parte da trama da vida. Do momento em que nascemos até a nossa morte estamos permanentemente envolvidos em tecidos, naturais ou sintéticos. (...) Basta olhar uma foto amarelecida pelo tempo para captar pela maneira como as pessoas estão vestidas qual era, por exemplo, o estilo que determinava a feminilidade ou a masculinidade naquela época, pois estes conceitos também são mutantes, e como ....." Em "A moda imita a vida" , publicado na Revista Claudia Moda, Editora Abril, em outubro de 1991.
Um parenteses, o título "A moda imita a vida", criado por mim, em 1991, ao editar, a convite do imortal jornalista Fernando de Barros, uma página com reflexões sobre o jornalismo de moda, na revista Claudia Moda (Editora Abril), foi posteriormente usado por André Carvalhal, que assim batizou um livro seu. Nada mais apropriado que um livro feito em violação a ética autoral tenha vendido tanto.
Eu, como jornalista de moda, defendi e defendo que a moda necessita se adaptar às necessidades das consumidoras e não vice-versa. Talvez por isso eu não tenha ido muito longe. Refiro-me no feminino, às consumidoras, porque até hoje, estamos no século XXI, a moda continua sendo vista como fonte de alienação e como questão feminina, sendo atrelada às publicações dirigidas ao publico feminino, inclusive blogs, sites, nas redes sociais.