Mexendo nos meus arquivos,mexendo nos meus papéis guardados, encontrei uma reportagem publicada no (infelizmente extinto) Jornal do Brasil, em 15/10/1988, cujo título é: 'Juiz se recusa a ouvir cacique de calção e cocar'. Coloco aqui um pequeno trecho da entrevista escrita pelo jornalista Antonio José:
" (...) Como o cacique Cubei se apresentou à justiça Federal hoje de manhã trajando apenas um calção e cocar, com o corpo todo coberto de pintura de guerra, foi impedido de ingressar no prédio e também se recusou a vestir calça e camisa, como exigia o juiz, alegando que é um índio e tem que ser respeitado em seus trajes de chefe."
(...) O cacique Cubei, o também indio Paiacan e um antropólogo norte-americano estavam sendo julgados, após serem, em 1988, enquadrados no artigo 107 por terem denegrido a "imagem do Brasil no exterior".
" No inicio do ano (de 1988) Cubei foi com o antropólogo norte-americano à Universidade da Flórida falar sobre manejo de florestas e aproveitaram para pedir que o Banco Mundial (BIRD) sustasse os créditos de US$ 250 milhões ao Brasil para a construção de uma hidrelétrica no Xingu, porque suas terras seriam inundadas, desabrigando 10 mil índios de 12 aldeias. (...)"
O BIRD suspendeu os créditos e o então governo brasileiro ficou irritado com isso, mandando processar o índio e o cientista norte-americano, através do Ministério da Justiça, que os enquadrou no Estatuto do Estrangeiro, por considerar o índio como co-autor de um "crime contra o Brasil" (..)
O cacique Raoni, do Parque Nacional do Xingu, solidário com o cacique Cubei, disse que até o Presidente da República já os havia recebido em trajes típicos e, portanto, não dava para entender o juiz.
E esta reportagem é uma prova da importância cultural do vestir e também da cabeça conservadora da justiça nacional.
O cacique Cubei, lider dos indios Caiapós, se tivesse respeitado integralmente a sua cultura indígena, teria aparecido no tribunal com o corpo nú - sem calção - e pintado.
Ele vestiu um calção em respeito à nossa cultura, que, no passado remoto, lhes foi imposta pelos descobridores portugueses. E mesmo assim, o juiz achou os trajes não apropriados ...! Creio que o juiz Iran desejava o cacique de terno e (sic!!) gravata ...!
E tudo nos leva, mais uma vez , aos versos do poema "Erro de Português" que o brilhante Oswald de Andrade escreveu em 1925!
(Abaixo escaneado o texto da reportagem do Jornal do Brasil. E postei,mais uma vez, o poema do Oswald de Andrade)
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