sexta-feira, 6 de junho de 2014
JORNALISMO DE MODA - UMA PASSARELA ENTRE O GLAMOUR E O PRECONCEITO
"O jornalismo de moda exige muito mais do que simples conhecimento sobre saia e blusa", diz a jornalista Patricia Rubano, diretora do GNT Fashion, o mais importante programa de moda da televisão brasileira.
Em tempo: Patricia Rubano não está mais no canal à cabo GNT - a "dança das cadeiras" é grande, é imensa ...!
"(....) Os jornalistas que atuam na cobertura do mundo da moda reclamam do preconceito dos que acham que moda é assunto fútil e só rende matérias sobre banalidades. Muitos jornalistas relatam já ter passado pelo desconforto de serem subestimados dentro das redações, muito embora os profissionais de revistas e cadernos de assuntos femininos tenham que cumprir as mesmas regras e terem as mesmas competências que são exigidas em qualquer área de jornalismo.
É claro que falar de tailleurs, looks e do perfil de modelos famosas como Gisele Bundchen e Naomi Campbel não leva às tensões do dia-a-dia pesado de Cidade, por exemplo, mas também exige que o profissional tenha uma boa formação, frequente cursos de extensão e de pós-graduação,esteja sempre antenado com assuntos ligados à sua área de atuação, leia e pesquise sobre diversos temas, saiba cultivar boas fontes e sobretudo, seja capaz de produzir bons textos como em qualquer outra editora.
(...) Ainda há muito preconceito com relação à moda, que está associada a futilidade e coisa de dondoca que não tem o que fazer. Mas as cabeças mais modernas perceberam que nem só a política é importante. Não é à toa que as universidades privadas, sim as universidades privadas perceberam o nicho de mercado que é a moda e passaram a investir nesses cursos - diz a jornalista Simone Serpa, editora de moda e artesanato da revista Manequim, a primeira revista brasileira de moda lançada em São Paulo em 1959, pela Editora Abril.
Para os jornalistas que cobrem o segmento de moda é bastante clara a comparação que se costuma fazer entre os outros setores da imprensa e a imprensa feminina - invariavelmente valoriza-se a primeira:
--Considerando que a imprensa feminina tem penetração no mundo inteiro, vale mais pensar suas funções do que caracterizá-la como jornalística ou não -- opina a jornalista Dulcília Schroeder Buitoni, autora de um livro sobre imprensa feminina
--Nesta linha de raciocínio, interessa afirmar que jornalismo não é uma categoria para julgamento. A imprensa feminina é passível de críticas, porém os critérios para análise não devem partir da oposição jornalismo não-jornalismo -, avalia
A jornalista e professora de moda Ruth Joffily conta que o preconceito contra os jornalistas que produzem matérias para o segmento feminino surgiu na década de 1970, durante o regime militar, período no qual o jornalismo, apesar da censura, nunca deixou de ser crítico. O jornalismo de moda, então, era visto como alienado e fútil.
-- Me formei na UFF (Universidade Federal Fluminense), mas aprendi a trabalhar o jornalismo de moda na prática, e ao entrar nele percebi a riqueza dos profissionais da área, vi que eram pessoas altamente preparadas.Mas na visão dos colegas nos anos 70 quem não estivesse ligado em economia e política era um alienado --, conta.
Esse debate fica mais apimentado quando a professora Ivana Bentes, coordenadora-adjunta da Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz que o jornalismo de moda ficou muito relacionado a divulgação, a coluna social, que acabou contaminando outras editorias com o chamado jornalismo de notinhas.
-- O jornalismo de moda não é crítico e deixa de explorar o mercado em expansão de mulheres consumidoras - diz Ivana, sugerindo que os repórteres que cobrem moda e assuntos femininos passem a explorar mais, nas suas matérias, as questões mercadológicas, a economia da moda e a movimentação financeira da indústria ligada ao setor.
-- No caso das escolas de Comunicação das universidades públicas, estas devem também investir em estudos de comportamento e mercado, pois há muito interesse por parte dos alunos, diz."
(trechos do texto da entrevista "Jornalismo de moda: uma passarela entre o glamour e o preconceito - editada no jornal impresso e no jornal on line (na internet) da ABI - Associação Brasileira de Imprensa , ano de 2005. Amanhã editarei a segunda e última parte desta entrevista)
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MUITO boa a matéria. vou acompanhar a outra parte, e olha que apesar disso não desisto da minha pós em Jornalismo de Moda que começa em setembro.
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