No Brasil do século do século XIX, quem usava diariamente o tecido de algodão eram os escravos. E quando eles fugiam ou desapareciam, seus proprietários colocavam anúncios em jornais da época. E nestes anúncios costumavam descrever a roupa que o escravo estava vestindo no momento da fuga. Exemplos de anúncios no Jornal Gazeta, ano 1810:
"No dia 03 do corrente, fugiu um preto novo da nação Cabinda vestindo uma camisa de linho azul e calça larga de algodão, estatura ordinária. Quem tiver achado dirija-se à loja da Gazeta (nota, Gazeta era o nome do jornal) que será premiado.. (...) Igualmente o pedreiro por nome Filippe, fugido há 2 meses, de estatura ordinária, beiços grossos, ventas grandes, olhos grandes, cabeça pequena."
"Descaminhou-se no dia 15, um negro novo, nação Congo, estatura ordinária, foi vestido com calça de algodão, colete liso e embrulhado em uma manta também de algodão. Quem tiver notícia pode anunciar na loja da Gazeta, e receberá um bom premio em dinheiro."
Para refletir: o algodão , tecido considerado inferior no Brasil Império, onde o negro era uma mercadoria -- lembrar que o Brasil foi o último país a libertar seus escravos - - é hoje um tecido ecologicamente correto, e cultivado em novas linhagens, inclusive colorida, no nordeste, mais precisamente na Paraíba.
Trocando em miúdos: no Brasil escravocrata vestir algodão era coisa de pobre,de escravo. Atualmente, vestir algodão é um ato de consciência ecológica, ambiental, ou seja, é chique!
Caso a pensar: os valores mudam, e como! E a estética sempre traduz uma cultura e também uma ideologia.
Abaixo, estão escaneadas duas pequenas reportagens sobre moda natural e sobre o algodão: uma abordando a onda ecológica na Inglaterra, ou seja, na Europa; e a segunda reportagem trata do algodão colorido na Paraiba.
As imagens (históricas) dos escravos brasileiros são do Debret. Observem que as roupas dos escravos eram em tecidos leves, que permitiam a transpiração pois eles trabalhavam e muito. Havia inclusive os escravos de ganho, que iam para a rua vender mercadorias para seus patrões, as escravas-costureiras , que faziam costuras de graça para suas patroas, os escravos-cozinheiros, os escravos-pedreiros, etc. E os senhores também alugavam seus escravos para terceiros, cobrando diárias. Resumindo, o trabalho quem realizava na época, no Brasil, eram os escravos -- enquanto seus senhores ficavam no ócio e vestiam tecidos pesados, à moda européia em um país tropical.
Ano da abolição da escravatura no Brasil: 1888
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