sexta-feira, 25 de abril de 2014

A BUNDA - PARTE 2: ORDEM SEM PROGRESSO

Erro de português

     Em 2013 quebrei um jejum que me forçaram a fazer e voltei, graças a Deus, a dar aulas. As aulas eram em Paraty e fizeram parte do curso profissionalizante do Paraty Ecofashion.
   Peguei um ônibus na Rodoviária Novo Rio e cinco horas depois cheguei, com muitas idéias e muitos livros para trocar com os alunos.
  Na primeira aula, refletimos sobre os indios - antigos donos das terras - e que foram "vestidos" pela cultura puritana  dos nossos 'descobridores' .
Lemos - as alunas e eu - alguns textos, algumas poesias, algumas crônicas. E durante o curso fomos trocando idéias, que fugiam da "casinha acadêmica" (com todo respeito) e englobavam a teoria e a prática. Realizamos, em sala de aula, um trabalho sobre a "bunda" que vem a ser o destaque,uma verdadeira porta-bandeira da estética feminina já faz um tempo.
         Várias alunas realizaram trabalhos práticos. Débora Oltramari criou uma luminária com um exótico (e muito estético) formato de  bumbum; Lariane Gomes modelou e fez um vestido que tem um acabamento em renda, exatamente onde se localiza a bunda, deixando ela não à mostra, e sim se insinuando, dando asas às imaginações, alheias ... Outra aluna levou um belíssimo texto onde a bunda se apresentava em várias expressões de uso corriqueiro. Exemplos: "pé na bunda", nasceu com a bunda virada para a lua, bunda frouxa, chute na bunda, bundão ou "é um bundão ", bunda de tanajura (quando a bunda é muito grande) , etc. Não vou me lembrar de todas. Mas ela fez um texto onde ia alinhavando uma expressão na outra de forma poética, com muita musicalidade. Uma outra aluna bolou pesos de porta, em formato de bumbum. Ficamos de montar uma pequena exposição e batizamos o projeto com o título "A bunda é nossa".
Observamos, as alunas e eu, que Oswald de Andrade (1890-1954) acertou em cheio quando criou o poema "Erro de Português", onde diz: "Quando o português chegou debaixo de uma bruta chuva, vestiu o índio. Que pena! Fosse uma manhã de sol, o indio teria despido o português." O poema se encontra numa imagem, abaixo.


Vale destacar que roupas justas, calças leggings (que a poucas favorecem) , calças com ganchos curtos, jeans justissimos, micro-saias que parecem mais  "abajur" de xoxotas, calcinhas e biquinis fio dental (algo parecido com os indios?) são coisas nossas. E nossa moda praia é um estilo que fala da nossa realidade, fala de quem somos,não é motivo de vergonha,não é algo que deva ser reprimido e nem é um "pedido para ser estuprada"  .  A nossa moda praia atinge o mundo inteiro. É aí que (por enquanto) mais reside a nossa originalidade, nosso jeito de ser. E a bunda, ora-ora, é abundante.
            
N
























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