MODA, PARA MIM, É UNIVERSAL - FERNANDO DE BARROS

     "Fui diretor dos estúdios  Vera Cruz de cinema e, durante dez anos, crítico de cinema no extinto (mas inesquecível)  jornal "Última Hora" Samuel Wainer.

     Larguei o cinema pela moda. Comecei na revista "O Cruzeiro", empresa dos Diários Associados. Eu produzi a capa de uma edição histórica: o dia  em que o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial. Isto foi no ano de 1942.
     Eu comecei na Editora Abril em 1954. Naquela época não se falava em moda no Brasil. E nem existia indústria de moda no país. Havia apenas algumas fábricas de roupas e umas lojas muito ruins. Fiquei oito anos como free-lancer (ou colaborador) na Editora Abril, em São Paulo.
     Em 1962 assumi a editoria de moda masculina. Coube à Costanza Pascolato a editoria de moda feminina. Eu e a Costanza trabalhávamos em dupla. Até pensavam que éramos um casal.
     No início, havia muito poucos produtos de moda masculina. Existia o blazer 'Pierre Cardin', grife que também era responsável pelas duas grandes novidades da época: as camisas cor-de-rosa e azul-celeste.
     A Rhodia criou o "Clube 1" e a primeira campanha publicitária do "Clube" foi para lançar os tecidos sintéticos masculinos. A equipe Rhodia era de primeira. O diretor era Livio Ragan; Alceu Penna era diretor de arte e ia à Paris com frequência, ver a novidades, os lançamentos. A modelo era Lucia Curi.
     Assisti, na Editora Abril, ao nascimento da indústria de moda nacional. Moda é criatividade, feito um filme ou uma ópera. A moda, para mim, é universal.
    Estilo, cada país tem o seu. A moda brasileira, então, é o que define o estilo nacional. E dentro deste estilo nacional há o estilo carioca, o estilo gaúcho, o estilo paulista, o estilo amazonense, etc. Em cada região do país as pessoas se vestem de um jeito. E o estilo define a criatividade e a evolução da moda. O jeans, por exemplo, foi descoberto no século XIX e continuará sendo usado no século XXI. O estilista trabalha à reboque da evolução do tempo. A moda é uma grande indústria no mundo inteiro. Mas, atualmente, está mais associada ao comportamento."

(Depoimento do jornalista e escritor Fernando de Barros para o livro "Um negócio chamado Moda", feito por mim, sob encomenda, para a editora Senac)