terça-feira, 29 de abril de 2014
"EXERÇO A MINHA PROFISSÃO COM PRAZER" POR RONALD PIMENTEL
"Sou psicólogo. Formei-me em 1980 na Universidade Gama Filho. E a psicologia não foi em vão, pois me ajuda muito a conhecer e a entender as pessoas. Já encontrei muita gente interessante na minha profissão de maquiador. E todos estes conhecimentos me tornaram um ser humano mais rico.
Trabalho como maquiador free-lancer e prefiro assim. Ser maquiador num salão é exercer a profissão de uma maneira mais fria. E eu gosto de captar a pessoa na sua essência.
Gosto de ler, de observar, gosto de cinema (que é muito bom para observar imagens, captar expressões e gestos humanos). Considero que ser maquiador é um dom. Eu aprendi sózinho, sem fazer cursos. Posso dizer que aprendi muito lendo, vendo, convivendo, pesquisando muito.
Desde garoto eu gostava de pintar, eu apreciava as cores e era um bom desenhista. Acabei me envolvendo com um grupo de teatro no colégio. Mas meu pai não apreciava meus dons artísticos. Ele me dizia que eu tinha que estudar e deixar a arte de lado, que não dava futuro.
Como sabia desenhar bem, logo comecei a trabalhar como auxiliar de cartografia. E fui para o serviço da Secretaria de Planejamento da Presidência da República, onde era o desenhista que fazia as capas dos livros. Cheguei a fazer, nos anos 70 , no então Instituto de Pesquisa Econômica Social (órgão que fazia parte da Secretaria de Planejamento do governo Federal) a capa para um livro do economista e pesquisador Pedro Malan, que se tornou, depois, ministro da economia dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso.
Fiquei na Secretaria de Planejamento do governo federal de 1974 a 1982. Saí porque não aguentava ser obrigado a marcar ponto todo dia, ter horário controlado/vigiado e tendo que enfrentar muita burocracia. Às vezes ficava sentado, sem ter o que fazer. Mas era obrigado a ficar ali, sentado, à toa. Aquela burocracia me fazia mal.
Sai e fiquei sem perspectiva, sem horizonte. Em 1983, a francesa Régine realizou no Canecão (casa de espetáculos e shows) um concurso de maquiagem do corpo. Eu participei e, para a minha surpresa, conquistei o primeiro lugar. Logo a seguir, a marca Helena Rubinstein convidou vários modelos e maquiadores para um concurso que iria realizar em São Paulo. Eu telefonei para o escritório da Helena Rubinstein e lhes disse que gostaria de ser convidado para participar do concurso. Eles me disseram que as inscrições já estavam encerradas e se eu desejava ir/participar, deveria arcar com os custos de passagem, hospedagem e alimentação. Fui mesmo assim e me hospedei na casa de um amigo. A Fabiana Scaranzi foi a minha modelo: levei-a para o concurso pronta, ou seja, maquiada e penteada.
A banca examinadora - formada por jornalistas especializados em moda, entre eles Roberto Barreira (Bloch Editores) e Iesa Rodrigues (do Jornal do Brasil) me deu nota 10! Tirei primeiro lugar!
E na vida, uma coisa puxa a outra: logo fui convidado pelo João Vagner para fazer maquiagem de modelos nas produções de moda para a Revista Manchete (Bloch Editores). Um trabalho foi puxando outro, e eu fui indo.
Acabei indo a Paris (França) onde estagiei na Helena Rubinstein e fiz maquiagem em modelos que desfilaram nos lançamentos do prêt-â-porter. Foi bom ter ido à França, porque ganhei segurança, e percebi que estava fazendo" a coisa certa".
Considero que, no Brasil, o mercado - para maquiador free-lancer diminuiu na imprensa. Na publicidade há poucos anúncios bons de moda. Para garantir meu sustento eu, além de trabalhar em fotos de moda e publicidade, faço, também, maquiagem para noivas, maquiagem para festas, maquiagem para o cinema. Atendo muitas noivas e assim vou levando, sobrevivendo, sempre exercendo a profissão que tanto gosto.
A profissão de maquiador vai sempre existir, porque é indispensável na produção de imagens seja para a fotografia, para o cinema, teatro, video, redes sociais, etc. Trata-se de uma profissão que não vai acabar nunca. E não há a menor possibilidade de, no futuro, o maquiador ser substituído por um robô, por uma máquina,.
É possível se fazer um estudo, via computador, sobre cortes de cabelo viáveis para um determinado tipo de rosto. Ou seja, dá para visualizar, via computador, o corte de cabelo adequado para quem tem, por exemplo, um queixo proeminente ou um nariz comprido. Dá para organizar dados/informações estéticas, com a ajuda da internet, das redes sociais.
Mas para executar o corte de cabelo é necessário a mão humana. Também se precisa da mão humana na hora de se fazer uma boa maquiagem. Não dá para entregar bases, batons, blush, rimel,sombras a um robô, esperando que ele desenvolva uma capacidade artistica do ser humano."
(Depoimento de Ronald Pimentel para o livro "Um negócio chamado moda", editora Senac - primeira década do século XXI)
http://www.ronaldpimentel.com/inicio.html
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