sexta-feira, 4 de abril de 2014

VELHO VÍCIO

"A coisa mais interessante que me ocorreu ultimamente foi em Brasília, e só podia ter sido lá. Fui chamada para falar

num daqueles debates sobre a nova Constituição. Eles chamam gente de todas as áreas para falar. Antes de mim, falava um psicólogo e eu estava assitindo, naquele auditório imenso, com mil lugares, ocupados por umas 300 pessoas, mais ou menos. Uns dez minutos antes de eu entrar, me chamaram dizendo que a mulher de um certo ministro, que não vou revelar qual é, queria conversar comigo antes de eu começar. Disse que tinha que ser rápido e fui levada até uma sala onde ela me recebeu elegantérrima, de cáqui, vestida da cabeça aos pés por Andrea Saletto. A saia era comprida, muito chique. Ela me recebeu com o dedinho para cima e disse:'eu sei que a senhora vai falar das tendências da próxima estação'. Sim, a proposta era esta, o programa estava lá. Ela disse:' e eu sei também que a senhora vai falar que o que vai se usar é a minissaia. Mas eu não quero que a senhora fale, porque nós não gostamos.' Comecei a rir porque me divirto com essas coisas. Eu disse: 'minha querida, eu acho que você não sabe que a moda se tornou muito democrática, e portanto nós temos todas as opções, não precisamos viver no clima de ditadura dos anos 60. Você vai poder continuar com essa sua saia linda da Andrea Saletto, e ser feliz, ao mesmo tempo em que as outras que estavam loucas pra mudar de look, mudar de desejo, vão poder arriscar.' E sai rindo. Achei divina essa coisa, que é tipica de Brasilia. Não daria para entender isso em outro lugar. Dizer pra você não falar sobre uma determinada tendência porque ela não gosta. Ela e as amigas dela, sei lá. Nós não queremos. Eu morri de rir."

(texto de Costanza Pascolato, jornal alternativo "Vista-se", edição de agosto, 1987. Diretor: Tarso de Castro)


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