domingo, 13 de setembro de 2020

TROCANDO PERSPECTIVA: A ALIENAÇÃO DO JORNALISMO POLITICO E ECONÔMICO

 Troca de perspectiva porque historicamente o jornalismo de moda, filho ( bastardo) do jornalismo feminino é que era (e ainda é) tido como alienado.  Escrevi artigos, livros buscando mostrar a seriedade do jornalismo de moda, como expressão de uma cultura, de um momento histórico, politico e econômico. Abaixo, farei um breve resumo do que pensei  e ainda penso.

" (....) O jornalismo de moda não escapa da imagem forjada pelo brilho de plumas e paetês. Para os leigos, o profissional do setor viveria de desfile em desfile, cercado por manequins deslumbrantes e ganhando altos salários para desfrutar de um permanente glamour - Mera fantasia até inofensiva se não contribuísse para a desvalorização de um trabalho que, feito a sério, é dos mais sérios. (...) Moda é vista como uma especialização menor" Publicado na revista Desfile, Bloch Editores, em julho de 1987


" (....) A moda sofre uma discriminação grande (...) Até pelos demais jornalistas é visto como uma especialização menor, pouco digna de respeito. (...) Numa conversa com a jornalista Regina Guerreiro escutei um desabafo que resume toda má vontade em relação aos jornalistas de moda: 'As pessoas acreditam que para entender de moda basta ser mulher ou homossexual - o que em si enfatiza um preconceito contra a mulher e contra o homossexual." Publicado na Revista de Domingo, do Jornal do Brasil, em 12 de maio de 1987

" (...) A moda é tão discriminada que o jornalismo de moda é visto por seus colegas especializados em outras áreas (economia, saúde, educação, politica ou esporte) como um produto menor, pouco digno de respeito. Mas a desconsideração pela moda não vai diminuir sua importância na economia nacional. Título: "A moda é discriminada", jornal Folha de São Paulo, em 25 de maio de 1988.

"O Primeiro curso do Brasil: Ruth Joffily criou no Centro Cultural Candido Mendes o primeiro curso de jornalismo e produção de moda do país. (...) O curso - é o primeiro e único do Brasil - divide-se em 3 partes. O texto, onde se discute pautas. texto, reportagem e fechamento de matéria. Na parte de produção nós fazemos a seleção de roupas, escolha do fotógrafo, da modelo, cabeleireiro e maquiador, definição de local e a montagem das roupas. Numa terceira parte do curso nós fazemos um resumo sobre a história da moda.(...) O curso de verão será um resumo da historia da moda no Brasil e no exterior. Você vai conhecer os estilos através dos tempos, inclusive como nasceram as coleções Dior, Coco Chanel e Mary Quant, os japoneses, os grandes centros de moda e sua influência no Brasil. (...) " Jornal Mobile Cultural do Centro Cultural Candido Mendes, Ipanema, RJ.

" (....) O imortal escritor Machado de Assis já havia captado, no século XIX, a importância do vestuário, que é analisado com uma atualidade impressionante na seguinte passagem do romance  Brás Cuba: 'A natureza previu a vestidura humana, condição necessária ao desenvolvimento da nossa espécie. A nudez habitual, dada a multiplicidade das obras e dos cuidados do individuo tenderia a embotar os sentidos e a retardar os sexos, ao passo que o vestuário, negaceando a natureza, aguça e atrai as vontades." Jornal Última Moda, Universidade Veiga de Almeida, em "A importância do curso de moda", edição de julho de 2001.

" (....) A moda é uma porta aberta para a forma de ser, para o espírito de uma época. Também faz parte da trama da vida. Do momento em que nascemos até a nossa morte estamos permanentemente envolvidos em tecidos, naturais ou sintéticos. (...) Basta olhar uma foto amarelecida pelo tempo para captar pela maneira como as pessoas estão vestidas qual era, por exemplo, o estilo que determinava a feminilidade ou a masculinidade naquela época,  pois estes conceitos também são mutantes, e como ....." Em "A moda imita a vida" , publicado na Revista Claudia Moda, Editora Abril, em outubro de 1991. 

Um parenteses, o título "A moda imita a vida", criado por mim, em 1991, ao editar, a convite do imortal jornalista Fernando de Barros,  uma página com reflexões sobre o jornalismo de moda, na revista Claudia Moda (Editora Abril), foi posteriormente usado por André Carvalhal, que assim batizou um livro seu. Nada mais apropriado que um livro feito em violação a ética autoral tenha vendido tanto. 

Eu, como jornalista de moda, defendi e defendo que a moda necessita se adaptar às necessidades das consumidoras e não vice-versa. Talvez por isso eu não tenha ido muito longe. Refiro-me no feminino, às consumidoras, porque até hoje, estamos no século XXI, a moda continua sendo vista como fonte de alienação e como questão feminina, sendo atrelada às publicações dirigidas ao publico feminino, inclusive blogs, sites, nas redes sociais. 


A moda imita a vida (Nova edição): Como construir uma marca de moda por [André Carvalhal]




quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

SINDROME DE ESTOCOLMO; SINDROME DO CHEGOU






      Estava andando pelas calçadas da zona sul da cidade do Rio de Janeiro e observei: dezenas de transeuntes com camisetas com dizeres em inglês: "No pain, no gain", "Take me to Paris", "Love is all", "Pet, my love",etc. 

     São tantas palavras; são tantas frases escritas em inglês. Muitas palavras e frases não têm imaginação; caem no lugar comum. Há quem afirme que se trata de Sindrome de Estocolmo, assim definido como "nome normalmente dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia, até mesmo amor ou amizade perante seu agressor."* 

     A Cultura da moda nacional é pode-se dizer, inexistente. A classe média (média e baixa) veste o que dá; a classe média alta aprecia muito o que vem de fora. Tenho parentes que só usam roupa comprada nos EUA e  na Europa, inclusive calcinhas e cuecas. A roupa estadunidense e a européia, segundo quem as compra com regularidade,  é mais barata e de maior qualidade. 

Segundo ouvi de uma pessoa muito querida, "o brasileiro é um monte de mané: trepa em mim que estou gostando". E os fatos falam por si mesmo.  Conforme escrito na reportagem publicada no jornal O Globo, edição de 28 de janeiro:

"Com um orçamento de US$ 120 milhões (R$ 503 milhões , na cotação de ontem, dia 27 de janeiro), a Embratur elaborou um plano para divulgar o Brasil no exterior neste ano".  
O plano inclui aventuras de Mickey e Minnie pelo Brasil. 
Vide abaixo comentário da jornalista Ana Maria Ramalho, que copiei do facebook.  



"Cada uma que a gente fica sabendo !!!! Quero ver a Sharon Stone pagando calcinha nas praias do Nordeste num governo que tem a evangélica Damares com horror a tudo que lembre sexo. E o que dizer de Mickey em quadrinhos passeando com a Minnie pelo Brasil? Agora, nada supera o reality show q dará ao vencedor gringo uma residência no Brasil a sua escolha. Será tipo Minha casa, minha vida ou um apê na Vivendas da Barra, perto da praia? O espanto maior fica com o orçamento da Embratur: nesse país carente de saúde, educação e segurança, a estatal tem orçamento de 120 milhões de dólares pra queimar nesses delírios. Francamente !!!! #loucuradahora #desperdicio #dinheiropublico #chosedeloque #embratur #sharonstone 
Segundo reportagem publicada no jornal O Globo (edição de 28 de janeiro), "para a professora de patrimônio cultural e políticas públicas do curso de turismo e da pós-graduação de museologia da USP, Clarissa Gabliardi, o governo usa o plano para fazer propaganda política." 

E por que usar personagens infantis estrangeiros - Mickey e Minnie - e não brasileiros?  Atrelar o país à personagens da Disney consequência da Sindrome de Estocolmo ou de uma infantilização de nossa cultura? 

De acordo com o sociólogo, José de Souza Martins (em artigo em "Eu & Fim de Semana", jornal Valor, edição de 17 de janeiro). " (...)  Chegamos à pós-modernidade sem ter conhecido propriamente o moderno, a sociedade da igualdade e dos direitos sociais. Chegamos ao capitalismo de plástico, da poluição, do lixo das falsas abundâncias, das "fake news". Mas não chegamos à sociedade de idéias próprias. Hoje importamos ignorância, frases feitas, expressões de uma lingua que não é nossa e que não sabemos o que querem dizer."

Em 1985, no "Caderno B" do Jornal do Brasil, Jean Morisset, escritor e professor da Universidade de Québec, Montreal, Canadá, dizia em um artigo: "em praticamente todas as boutiques é impossível encontrar uma única camiseta, um único blusão que não tenha alguma coisa escrita em inglês na frente, nas costas ou nas mangas. Vi em Belém (PA) uma velha cabocla de 80 anos usando um colete onde se ia Massachusets Institute of Science and Technology. (...) Na realidade, as pessoas não compreendem o que está escrito nessas roupas,  e eu me pergunto se essas palavras não têm significação para elas ou se, mais simplesmente, constituem sinais com um só sentido -- a lingua inglesa, ser´que não é justamente por não saberem o que está escrito, que elas exibem estes sinais?(..) Existe aqui um processo bastante especial, que eu chamaria de "Sindrome do 'chegou'; Chegou ao Brasil a última moda de Paris. Chegou enfim, o último xerox. Chegou ao Brasil Texas Instruments. Chegou enfim ao Brasil a Heinekem International em lata, etc. É como se eles sempre temessem que a última moda, o que o último gadget que o mundo inteiro conhece, não chegassem ao Brasil. É como se o Brasil fosse um ser à parte, um continente à parte, sempre ameaçado de não fazer parte - e que tira sua maior fome do medo de não ser convidado para a mesa de todos os outros."
E o professor Jean Marisset conclui, afirmando: "Esse Brasil que não é nem exatamente o Terceiro Mundo, nem exatamente a América Latina, mas alguma coisa que eu chamei uma vez a América Brasileira. Pergunto a mim mesmo o que acontecerá quando o Brasil decidir aplicar a si próprio a "Sindrome do chegou". Chegou o Brasil ao Brasil mesmo."


Fontes: Google; Jornal O Globo, edição de 28 de janeiro; revista "Eu & Fim de Semana", jornal Valor, edição de 17 de janeiro; livro "O Brasil tem Estilo?" de minha autoria, editora Senac, 2000.



HELVÉCIO CARLOS

'Top' e 'coach' se mantêm na lista de palavras mais chatas do ano



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https://www.washingtonpost.com/world/national-security/7-year-old-migrant-girl-taken-into-border-patrol-custody-dies-of-dehydration-exhaustion/2018/12/13/8909e356-ff03-11e8-862a-b6a6f3ce8199_story.html?fbclid=IwAR3ZD7J-ZpsXiMqDYkk-G8EGrupMGyRWYCJfsNTE0KRXqHHE_sh8NpPamCs

Camisa Baby Look - Como dizer em inglês? - Pocket English



17 de set. de 2019 - Sei que parece inglês, mas não é. O termo baby look é 100% brasileiro.Para quem não sabe, uma roupa baby look normalmente é uma ...
https://www.nytimes.com/2019/06/16/us/baby-constantine-romania-migrants.html?fbclid=IwAR0KDkq0DasgCE_fIknPwpZKfHlxhQypV0INBLe8-JLoGpfN9MBQxg2XGfg


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