quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

SINDROME DE ESTOCOLMO; SINDROME DO CHEGOU






      Estava andando pelas calçadas da zona sul da cidade do Rio de Janeiro e observei: dezenas de transeuntes com camisetas com dizeres em inglês: "No pain, no gain", "Take me to Paris", "Love is all", "Pet, my love",etc. 

     São tantas palavras; são tantas frases escritas em inglês. Muitas palavras e frases não têm imaginação; caem no lugar comum. Há quem afirme que se trata de Sindrome de Estocolmo, assim definido como "nome normalmente dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia, até mesmo amor ou amizade perante seu agressor."* 

     A Cultura da moda nacional é pode-se dizer, inexistente. A classe média (média e baixa) veste o que dá; a classe média alta aprecia muito o que vem de fora. Tenho parentes que só usam roupa comprada nos EUA e  na Europa, inclusive calcinhas e cuecas. A roupa estadunidense e a européia, segundo quem as compra com regularidade,  é mais barata e de maior qualidade. 

Segundo ouvi de uma pessoa muito querida, "o brasileiro é um monte de mané: trepa em mim que estou gostando". E os fatos falam por si mesmo.  Conforme escrito na reportagem publicada no jornal O Globo, edição de 28 de janeiro:

"Com um orçamento de US$ 120 milhões (R$ 503 milhões , na cotação de ontem, dia 27 de janeiro), a Embratur elaborou um plano para divulgar o Brasil no exterior neste ano".  
O plano inclui aventuras de Mickey e Minnie pelo Brasil. 
Vide abaixo comentário da jornalista Ana Maria Ramalho, que copiei do facebook.  



"Cada uma que a gente fica sabendo !!!! Quero ver a Sharon Stone pagando calcinha nas praias do Nordeste num governo que tem a evangélica Damares com horror a tudo que lembre sexo. E o que dizer de Mickey em quadrinhos passeando com a Minnie pelo Brasil? Agora, nada supera o reality show q dará ao vencedor gringo uma residência no Brasil a sua escolha. Será tipo Minha casa, minha vida ou um apê na Vivendas da Barra, perto da praia? O espanto maior fica com o orçamento da Embratur: nesse país carente de saúde, educação e segurança, a estatal tem orçamento de 120 milhões de dólares pra queimar nesses delírios. Francamente !!!! #loucuradahora #desperdicio #dinheiropublico #chosedeloque #embratur #sharonstone 
Segundo reportagem publicada no jornal O Globo (edição de 28 de janeiro), "para a professora de patrimônio cultural e políticas públicas do curso de turismo e da pós-graduação de museologia da USP, Clarissa Gabliardi, o governo usa o plano para fazer propaganda política." 

E por que usar personagens infantis estrangeiros - Mickey e Minnie - e não brasileiros?  Atrelar o país à personagens da Disney consequência da Sindrome de Estocolmo ou de uma infantilização de nossa cultura? 

De acordo com o sociólogo, José de Souza Martins (em artigo em "Eu & Fim de Semana", jornal Valor, edição de 17 de janeiro). " (...)  Chegamos à pós-modernidade sem ter conhecido propriamente o moderno, a sociedade da igualdade e dos direitos sociais. Chegamos ao capitalismo de plástico, da poluição, do lixo das falsas abundâncias, das "fake news". Mas não chegamos à sociedade de idéias próprias. Hoje importamos ignorância, frases feitas, expressões de uma lingua que não é nossa e que não sabemos o que querem dizer."

Em 1985, no "Caderno B" do Jornal do Brasil, Jean Morisset, escritor e professor da Universidade de Québec, Montreal, Canadá, dizia em um artigo: "em praticamente todas as boutiques é impossível encontrar uma única camiseta, um único blusão que não tenha alguma coisa escrita em inglês na frente, nas costas ou nas mangas. Vi em Belém (PA) uma velha cabocla de 80 anos usando um colete onde se ia Massachusets Institute of Science and Technology. (...) Na realidade, as pessoas não compreendem o que está escrito nessas roupas,  e eu me pergunto se essas palavras não têm significação para elas ou se, mais simplesmente, constituem sinais com um só sentido -- a lingua inglesa, ser´que não é justamente por não saberem o que está escrito, que elas exibem estes sinais?(..) Existe aqui um processo bastante especial, que eu chamaria de "Sindrome do 'chegou'; Chegou ao Brasil a última moda de Paris. Chegou enfim, o último xerox. Chegou ao Brasil Texas Instruments. Chegou enfim ao Brasil a Heinekem International em lata, etc. É como se eles sempre temessem que a última moda, o que o último gadget que o mundo inteiro conhece, não chegassem ao Brasil. É como se o Brasil fosse um ser à parte, um continente à parte, sempre ameaçado de não fazer parte - e que tira sua maior fome do medo de não ser convidado para a mesa de todos os outros."
E o professor Jean Marisset conclui, afirmando: "Esse Brasil que não é nem exatamente o Terceiro Mundo, nem exatamente a América Latina, mas alguma coisa que eu chamei uma vez a América Brasileira. Pergunto a mim mesmo o que acontecerá quando o Brasil decidir aplicar a si próprio a "Sindrome do chegou". Chegou o Brasil ao Brasil mesmo."


Fontes: Google; Jornal O Globo, edição de 28 de janeiro; revista "Eu & Fim de Semana", jornal Valor, edição de 17 de janeiro; livro "O Brasil tem Estilo?" de minha autoria, editora Senac, 2000.



HELVÉCIO CARLOS

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Camisa Baby Look - Como dizer em inglês? - Pocket English



17 de set. de 2019 - Sei que parece inglês, mas não é. O termo baby look é 100% brasileiro.Para quem não sabe, uma roupa baby look normalmente é uma ...
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