sábado, 23 de março de 2019

MINHAS MEDIDAS, MINHAS REGRAS








A nossa miscigenação racial historicamente era omitida no berço, às crianças. Era, segundo Gilberto Freyre, "a negação da nossa cultura e, consequentemente da nossa morenice, que levava a burguesia do século XIX a importar bonecas francesas, loiras e róseas, para as meninas, o que concorreu para criar nessas meninas uma associação de idéias de beleza feminina com esse tipo antropológico de mulher. E perdura até hoje, a oxigenação dos cabelos para muitas mulheres castanhas ou até morenas, além do fato do alisamento dos cabelos ainda ser frequente entre mulheres negras.
São estes desvios europeizantes que levaram, segundo Gilberto Freyre, o educador Anisio Teixeira a pioneiramente sugerir "a necessidade de orientação antropológica para a industria brasileira de calçados e roupas feitas". Mas isto, porém, só poderia ser realizado caso o público apresentasse alguma mudança. Pois como bem diz Gilda Mello e Souza no livro "Espirito das roupas", nenhum produtor apresenta um produto sem que o público a quem se endereça o tenha solicitado."





O educador Anisio Teixeira foi assassinado pela ditadura militar. E a orientação antropológica para industria brasileira de roupas prontas ainda não foi oficialmente realizada. Consequência: é comum se ir numa loja é ser número M (médio) e já em outra loja, ou outra marca, se é número P (Pequeno), pois cada marca, infelizmente,  faz a medida do corpo humano nacional do jeito que lhe apraz.  

A professora Sonia Duarte, diretora da empresa MIB - Modelagem Industrial Brasileira - sabe da carência de um estudo dos nossos corpos. No passado, não remoto, cheguei a escrever, a pedido da professora Sonia Duarte, textos  sobre a questão da modelagem no Brasil. Pena que não fomos adiante. Mas cheguei a lhe entregar alguns poucos textos sobre a questão. 
O meu livro "Vista-se como você é", editado pela LP&M, em 1997, é todo  baseado em cartas reais de leitoras, que eu recebia quando trabalhei, respondendo a dúvidas de leitoras, na revista Desfile (Bloch Editores) e na revista Manequim (Editora Abril), onde tinha duas páginas mensais e assinava com o pseudônimo de Ruth Tavares (meu nome com o sobrenome de solteira de minha mãe, Aglaé). Neste livro, através das cartas das leitoras, fica claro, explicito, que o consumo de moda no Brasil não respeitava (e creio que ainda não respeita) as medidas e os anseios das mulheres. Era (e creio que infelizmente ainda é) imposto um modelo, modelo este difícil de se seguir. 
Daí a colocação sobre a marginalização das mulheres gordas, cheinhas, que pedem, na reportagem publicada no jornal O Globo (edição de 17 de março de 2019) "respeito para todos os corpos", o que ainda não ocorre. 
Meu livro "Vista-se como você é" não fez sucesso  e a editora LP&M nem se interessou em reeditá-lo, quando se esgotou. Mas o nome do livro virou o nome deste blog onde escrevo sobre moda, onde reflito sobre a questão do vestir, sobre a indumentária como uma forma de escrita.

O assunto jornalismo feminino também é pouco abordado nas faculdades de comunicação nacionais, onde sequer merece, na maioria das universidades, ser uma cadeira específica, apesar do jornalismo feminino nunca ter deixado de existir de uma maneira forte/ativa, seja em revistas impressas, seja nas redes sociais através de blogs, sites, etc. 

O vestir e o feminino no vestir ainda são feitos de maneira ditatorial, conservadora, com "mão de ferro": as mulheres têm que se vestir assim ou assado porque isto é moda e ponto final? 


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Desconstruindo conceitos
“Nós fomos com crianças que nunca tinham ido a um shopping, que só viam fast food pela televisão. Era para ser um dia especial, mas esbarramos no preconceito. A funcionária pediu que fôssemos a uma lanchonete na esquina do shopping e ainda justificou que poderíamos ter problemas com a segurança do espaço porque o shopping era considerado de elite”, contou a diretora ao G1.
ELITE!  (facebook, 21 de março de 2019)https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2F

terça-feira, 19 de março de 2019

O BRASIL NÃO SABE APRECIAR O QUE TEM




"O novo conceito de patriota: Aquele que ama a pátria alheia."  Moina Lima
  Um dos garotos  que cometeram, há poucos dias, o massacre na região metropolitana de São Paulo, publicou nas redes sociais, fotos com arma, com máscara no rosto  e com camiseta NYC - New York City. 
"É como e o fato de levar consigo a língua do outro sobre o seu seio ou em suas costas, o tornasse tão outro quanto o outro" afirma o professor  Jean Morisset, que vai mais além ao dizer que é a própria estética da pobreza, e o surrealismo da pobreza (inclusive cultural) que leva as pessoas a terem medo da marginalização. "Daí essa fome de querer ser o outro sem o saber, essa fome do inglês como exercício propiciatório, essa sede do outro, para si próprio, mas para se tornar um dos membros do corpo do outro."