quarta-feira, 30 de abril de 2014

"A IMAGEM É TUDO' - SILVIA DE SOUZA



     "Sempre fui uma pessoa muito curiosa, que desejava saber sobre tudo. Acabei me formando em história, que reúne uma série de conhecimentos sobre o mundo e sobre os seres humanos, de uma maneira geral. Ganhei um colégio do meu avô, ao me casar. Fui mãe com 22 anos.
     Ao me separar do pai da Daniela, minha filha única, resolvi mudar de vida. Como sou alta, tenho  1.76 cms de altura, me aconselharam, na época, deixar de lado a profissão de professora e me tornar modelo, carreira que poderia me gerar ganhos maiores. Decidi, então, me matricular num curso de manequim do Senac do Rio de Janeiro. Marie Claude e Isis de Oliveira (que depois marcaram uma época como modelos) foram minhas colegas de turma. Trabalhei com a Beth Lago, que hoje é atriz. Mas logo descobri que moda é sinônimo de muito trabalho. Eu fico aflita com as pessoas que acham que moda significa festa ...
     Trabalhei como modelo e logo comecei a exercer a função de produtora de moda no extinto Diário de Notícias e na TV Rio. Acabei sendo indicada pelo estilista Marco Rica para integrar a equipe de produção da Bloch Editores, chefiada pela Gilda Chataignier. A Editora Bloch, no Rio de Janeiro e a Editora Abril, em São Paulo, foram grandes escolas de formação de produtoras de moda extremamente profissionais e eficientes. A equipe da Bloch editores acabou sendo formada por Isa Goldberg, Claudia Duarte, Ruth Joffily, Selma Guedes e eu, Silvia de Souza. Havia um espírito de equipe e muita organização. Ou seja, nós éramos organizadas e nos ajudávamos umas às outras.
     Eu era a responsável pela revista Fatos & Fotos, cujo diretor era o saudoso Justino Martins, um grande jornalista que me ensinou muito sobre o glamour do cinema. Justino nunca deixava de cobrir os festivais de cinema de Cannes (França). 
     A redação da revista Fatos & Fotos era formada só por intelectuais: Ruy Castro, Renato Sérgio, Júlio Bartolo, Marco Santarrita, José Guilherme Correia, José Esmeraldo Gonçalves. Detalhe importantíssimo: eram eles que escreviam os textos das minhas reportagens de moda. E todos eles me tratavam muito bem. Eu produzia as imagens. A minha parte sempre foi imagem. Aliás considero que cabe ao produtor de moda botar a mão na massa e criar a imagem, materializando o desejo de um diretor e/ou de um editor.
     E cabe ao produtor ser discreto, ser simples. Nada de ficar se vangloriando, de ficar cheio de pose, se achando o máximo. Considero que a simplicidade é sinônimo de profissionalismo. Pois o bom produtor é 'um pé de boi', um obstinado, um trabalhador, um ser criativo, um observador, além de ser muito organizado, porque a produção exige disciplina. Nesta profissão não existe o 'showman' nem o 'show- woman'. Tudo é um trabalho de equipe, tudo necessita ser coordenado. Nada se faz sozinho.Para realizar a produção de uma simples foto, o profissional vai precisar chamar um fotógrafo (que às vezes leva um assistente), um maquiador, um cabeleireiro, além de ter que marcar - caso o trabalho seja externo - uma van, que transportará toda a equipe e o material necessário. E a equipe necessita estar antenada.
     Tudo isto que estou contando para vocês eu fui aprendendo na prática, porque na época que eu comecei a trabalhar como produtora de moda ainda não existiam, no Rio de Janeiro e nem no Brasil, os cursos de estilismo e muito menos os cursos de produção de moda.
     Quando saí da Bloch Editores fui para a Editora Vecchi e, posteriormente, para a Editora Rio Gráfica (que hoje se chama Editora Globo) onde fui trabalhar na revista Moda Brasil. Um parêntese: no meu curriculo profissional há também uma passagem pela revista L'Officiel, onde fui editora, além de um retorno à Bloch Editores, como coordenadora de moda, no período em que a editora era Angela de Rego Monteiro.
     Quando a Moda Brasil fechou eu senti que o mercado editorial iria afunilar e fiquei aflita. Tinha muito medo do desemprego, porque, na época, eu havia me tornado arrimo de familia: era responsável pela minha filha, tinha um pai doente, uma irmã doente e, depois, minha mãe também adoeceu. Eu havia me tornado responsável por todas as contas da minha familia. 
     Artur Bernstein, que foi proprietário da agência de publicidade SGB, vendo a minha aflição, me convidou para montar o primeiro departamento de moda dentro de uma agência de propaganda. Assim nasceu a Fashion, que vem a ser a empresa que tenho junto com a Ana Maria Andreazza. 
        Na Fashion realizamos todos os tipos de produção, ou seja, produção de fotos (editorial e/ou publicidade), produção de eventos, produção de desfiles, etc. E se uma pessoa deseja ter uma grife/uma marca/uma etiqueta de moda, nós damos toda a orientação e ainda indicamos os profissionais que ela necessita contratar. Eu também desenho muito. Faço minhas 'bonequinhas', sem nunca ter feito um curso. Aliás nunca pensei que iria ganhar (como acabei ganhando) dinheiro com os meus croquis.
     Da prática para a teoria: fui a professora de produção de moda do curso de estilismo do Senai/Cetiqt e organizei desfile de moda com as roupas criadas pelos alunos do Senai. Passei para os meus alunos o que aprendi na prática da profissão. Depois, também ministrei aulas de produção na Faculdade Candido Mendes,Rio de Janeiro. Acabei deixando de lado a profissão de 
professora, geralmente mal remunerada.
     Trabalho 18 horas por dia. Adoro trabalhar. Atualmente tenho também um pequeno escritório em Paris (França), pois a minha filha Daniela casou-se com um francês e tornou-se mãe, aos 21 anos, de duas filhas gêmeas. Meu pequeno escritório parisiense funciona na casa da minha filha, para onde vou duas vezes por ano. Minha constante companheira de viagem é a jornalista Iesa Rodrigues. Em Paris vou a todas as feiras, observo os lançamento e o comportamento das pessoas.
     O que é moda? Para mim é, sobretudo, reflexo da sociedade. E os franceses estudam, como ninguém, o que está acontecendo no mundo. São grandes filósofos.
     Muitas vezes já trabalhei (e trabalho) na montagem do visual para um personagem de novela. Para este trabalho, o produtor necessita estar antenado. Tem que saber de tudo, pois acaba trabalhando com o mesmo painel do historiador, do cientista social. Eu também utilizo  muitos métodos de psicanálise no meu trabalho, pois para montar um painel eu necessito, por exemplo, saber quem é o personagem, como ele (personagem) se comporta, o que ele pretende, etc.
     O Brasil ainda não tem confiança. Os profissionais de moda necessitam sempre do aval de alguém de fora, do exterior. Apesar deste insegurança, o mercado de moda cresceu muito e as pessoas estão se profissionalizando. Eu sou a favor dos cursos de formação profissional."


(Depoimento de Silvia de Souza, sócia-proprietária da empresa Fashion, para o livro 'Um negócio chamado moda', editora Senac, primeira década do século XXI)

terça-feira, 29 de abril de 2014

"EXERÇO A MINHA PROFISSÃO COM PRAZER" POR RONALD PIMENTEL


     "Sou psicólogo. Formei-me em 1980 na Universidade Gama Filho. E a psicologia não foi em vão, pois me ajuda muito a conhecer e a entender as pessoas. Já encontrei muita gente interessante na minha profissão de maquiador. E todos estes conhecimentos me tornaram um ser humano mais rico.
     Trabalho como maquiador free-lancer e prefiro assim. Ser maquiador num salão é exercer a profissão de uma maneira mais fria. E eu gosto de captar a pessoa na sua essência.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O RAI DAS CORES ANA CAROLINA



A música "Rai das cores" de Caetano Veloso é uma ótima reflexão sobre a importância das cores, todas elas, sem exceções, nas nossas vidas. Afinal, o que seriamos de nós sem as cores?

RAI DAS CORES DE CAETANO VELOSO



"Para a folha: verde
Para o céu: azul
Para a rosa: rosa
Para o mar: azul

Para o cinza: cinza
Para areia: ouro
Para a terra: pardo
Para a terra: azul

(QUAIS SÃO AS CORES QUE SÃO SUAS CORES DE PREDILEÇÃO?)

Para a chuva: prata
Para o sol: laranja
Para o carro: negro
Para a pluma: azul

Para a nuvem: branco
Para a duna: branco
Para a espuma: branco
Para o ar: azul

(QUAIS SÃO AS CORES QUE SÃO SUAS CORES DE PREDILEÇÃO)

Para o bicho: verde
Para o bicho:branco
Para o bicho: pardo
Para o homem: azul
Para o homem: negro
Para o homem: rosa
Para o homem: ouro
Para o anjo: azul

(QUAIS SÃO AS CORES QUE SÃO SUAS CORES DE PREDILEÇÃO?)

Para a folha: rubro
Para o rosa: palha
Para o acaso: verde
Para o mar: cinzento
Para o fogo: azul
Para o fumo: azul
Para a pedra: azul
Para tudo: azul



https://www.youtube.com/watch?v=O747_G2lo70













domingo, 27 de abril de 2014

QUEM LANÇA MODA NO BRASIL?

  Para o estilista Walter Rodrigues, quem lança moda no Brasil é a tevê, mais precisamente a novela das oito (vinte) horas que agora é a novela das nove (vinte e uma) horas. E de acordo com o professor e escritor Antonio Candido, a novela (das oito/nove) é o nosso elo de unificação nacional.
E agora o grande modismo são as unhas azuis que foram lançadas pela personagem Clara (interpretada por Giovanna Antonelli) na novela "Em familia" de Manoel Carlos.
Abaixo, escaniei uma reportagem de Denise Assis, publicada na revista Manchete, Bloch Editores O título é uma pergunta:  "EXISTE MODA BRASILEIRA?".  Fotos de David Drew Zingg, Jacques Avadis e do arquivo da Bloch Editores.

" Entre alta-costura e "haute-coûture" existe toda a diferença do mundo. A moda mais colunável procede, há séculos, da mesma meca: Paris. Durante a Segunda Guerra, a Austria importou centenas de 'costureirinhas' francesas, na tentativa de transformar Viena em um grande centro produtor. O projeto não foi avante. Hollywood enquanto isso, criava gerações sucessivas de grandes figurinistas. Mas Edith Head, Adrian e outros continuavam buscando inspiração no requinte da velha Gália. O mundo girou. A moda mudou, o prêt-à-porter se impôs e hoje, nesta época de jeans universais, só ricaços excêntricos têm 5 ou 10 mil dólares para dar por um vestido 'soirée'. Como se explicam, então, as clientelas principescas de grandes alfaites, como o siciliano Litrico? As respostas estão aqui, com a palavra , os 'connoisseurs'.

 Além dos depoimentos acima, há o depoimento de  Guilherme Guimarães que afirma: "A moda não tem pátria. Se as pessoas no Brasil tivessem alguma noção de moda entenderiam que a moda francesa, italiana, norte-americana, brasileira são todas internacionais. Ou, para ser brasileira, é obrigatório vestir uma baianinha?"
E a estilista Regina Lebelson (na época criadora, supervisora da Butique Lebelson), diz: "Existem os adaptadores da moda internacional. Lançadores e criadores não existem. E eu acho que é mais difícil adaptar do que criar. Esses adaptadores trabalham com material brasileiro como, por exemplo, o nosso bordado, a renda e o colorido. O algodão nacional é magnifico e dá margem a um grande aproveitamento. Acho que há possibilidade de exportar a confecção brasileira explorando, inclusive, o bordado."





sábado, 26 de abril de 2014

MINI-MINI DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

                      






                          


                       "MINI MINI MINI MINI
                     ONDE ESTÁ ESSE BIQUINI
                      ESSA HIPÓTESE DE SAIA
                      EM PROJETO DE MENINA
                      ALÉM DA LINHA DE OUTONO?
                      MINI-SONHO, MINI-IDÉIA
                      (....)
                      MINI MINI MINI MINI
                      TUA BOMBA VIRA PÍLULA
                      QUE É MUITO MAIS BARATINHA
                       E DISPENSA DE MATAR
                       DISPENSANDO DE NASCER"

Acima, parte do poema "Mini-Mini" De Carlos Drummond de Andrade, onde o poeta, sabiamente, associa o surgimento da minissaia ao surgimento da pílula (anticoncepcional) na década de 60 - É a mulher deixando o corpo mais à mostra na medida em que controla os seus meios de reprodução. 
A minissaia, quando surgiu, era usada apenas por jovens, jovens muito jovens. Hoje é usada por todas as faixas etárias já que as jovens que a lançaram nos anos 60 amadureceram com outra cabeça. Ninguém passa por uma revolução de costumes impunemente. Ou será que passa? 

       
                      

sexta-feira, 25 de abril de 2014

A BUNDA - PARTE 2: ORDEM SEM PROGRESSO

Erro de português

     Em 2013 quebrei um jejum que me forçaram a fazer e voltei, graças a Deus, a dar aulas. As aulas eram em Paraty e fizeram parte do curso profissionalizante do Paraty Ecofashion.
   Peguei um ônibus na Rodoviária Novo Rio e cinco horas depois cheguei, com muitas idéias e muitos livros para trocar com os alunos.
  Na primeira aula, refletimos sobre os indios - antigos donos das terras - e que foram "vestidos" pela cultura puritana  dos nossos 'descobridores' .
Lemos - as alunas e eu - alguns textos, algumas poesias, algumas crônicas. E durante o curso fomos trocando idéias, que fugiam da "casinha acadêmica" (com todo respeito) e englobavam a teoria e a prática. Realizamos, em sala de aula, um trabalho sobre a "bunda" que vem a ser o destaque,uma verdadeira porta-bandeira da estética feminina já faz um tempo.
         Várias alunas realizaram trabalhos práticos. Débora Oltramari criou uma luminária com um exótico (e muito estético) formato de  bumbum; Lariane Gomes modelou e fez um vestido que tem um acabamento em renda, exatamente onde se localiza a bunda, deixando ela não à mostra, e sim se insinuando, dando asas às imaginações, alheias ... Outra aluna levou um belíssimo texto onde a bunda se apresentava em várias expressões de uso corriqueiro. Exemplos: "pé na bunda", nasceu com a bunda virada para a lua, bunda frouxa, chute na bunda, bundão ou "é um bundão ", bunda de tanajura (quando a bunda é muito grande) , etc. Não vou me lembrar de todas. Mas ela fez um texto onde ia alinhavando uma expressão na outra de forma poética, com muita musicalidade. Uma outra aluna bolou pesos de porta, em formato de bumbum. Ficamos de montar uma pequena exposição e batizamos o projeto com o título "A bunda é nossa".
Observamos, as alunas e eu, que Oswald de Andrade (1890-1954) acertou em cheio quando criou o poema "Erro de Português", onde diz: "Quando o português chegou debaixo de uma bruta chuva, vestiu o índio. Que pena! Fosse uma manhã de sol, o indio teria despido o português." O poema se encontra numa imagem, abaixo.


Vale destacar que roupas justas, calças leggings (que a poucas favorecem) , calças com ganchos curtos, jeans justissimos, micro-saias que parecem mais  "abajur" de xoxotas, calcinhas e biquinis fio dental (algo parecido com os indios?) são coisas nossas. E nossa moda praia é um estilo que fala da nossa realidade, fala de quem somos,não é motivo de vergonha,não é algo que deva ser reprimido e nem é um "pedido para ser estuprada"  .  A nossa moda praia atinge o mundo inteiro. É aí que (por enquanto) mais reside a nossa originalidade, nosso jeito de ser. E a bunda, ora-ora, é abundante.
            
N
























quinta-feira, 24 de abril de 2014

O TRAJE FAZ O HOMEM?



A revista (norte-americana) Forbes,num experimento, para 'averiguar' como o "mundo é injusto",contratou um ator pra simular que estava passando mal.A "pegadinha" é que ele 'interpretaria a cena' duas vezes:uma, vestido como um empresario,todo de terno e gravata,muito estiloso; a segunda com roupas de um "cidadão genérico",conforme a imagem abaixo.O experimento aconteceu em Praga,capital da República Tcheca,lugar em que teoricamente,assim como em qualquer democracia,todo cidadão é igual perante a lei,o que implica que roupa não seria critério pra avaliar o "valor" de uma pessoa.

Como era de se esperar,provou-se que o traje faz o homem.O terno fez o ator ser "ajudado" prontamente, em 15 segundos  por um grupo de pessoas.Enquanto que as vestimentas dele na imagem abaixo fizeram ele esperar 8 minutos por um tímido socorro. As pessoas ainda se inocentaram alegando que,como ninguém foi ajudar,supuseram que não cabia a elas intervir e que  esperaram que uma outra pessoa faria isso por elas.Até um policial hesitou em socorre-lo. Como é bom ser julgado pela aparência ...!! Como é bom ser julgado como um pobre, pobre coitado ...!!!

Depois as pessoas afirmam que são totalmente livres do coletivo, e que são totalmente autônomos.O importante é realizarmos uma reflexão sobre como podemos nos vestir respeitando a nossa personalidade, o nosso tipo físico e ao mesmo tempo conciliando com a coletividade.Não há uma oposição entre o individuo e o coletivo,mas sim uma complementaridade.




Imagem retirada do link abaixo,respeitando os direitos autorais.

OBS:A Forbes,pra quem não sabe,é aquela revista que destaca as benesses do capitalismo,sempre exaltando os bilionarios e milionarios como prova do vigor do sistema.A associação status e riqueza com vestimentas é de certa forma apoiada por eles.





quarta-feira, 23 de abril de 2014

A BUNDA É NOSSA

 
Deu na coluna do Ancelmo Góis (jornal O Globo, edição de 22.04.2014) 
"Efeito Popuzada - A Du Loren vendeu cem mil calcinhas com enchimento, em março. É que o recheio costurado no microshort aumenta em até duas vezes o tamanho do bumbum."

Acima, na foto, uma gravata de papel, com a imagem de um super bumbum. Esta "gravata"foi super vendida no carnaval. 
Quando realizamos ( a assessora de imprensa Laura Oldenburg, o professor e artista plástico Robson Granado e eu) em 2009 --   a exposição "As dez calcinhas que abalaram o mundo" apresentamos em quadros (criações de Robson Granado) e também num varal  os dez modelos "históricos". 
Um deles era a calcinha com enchimento, coisa nossa. Mas fabricar gravatas de papel colorido com bumbum estampado é transformar a mulher brasileira em bunda. E depois reclamam das imagens que a Fifa andou divulgando do Brasil.  
Como dizem Rita Lee e Zélia Duncan na música Pagu "(...)Não sou freira nem sou puta. (....) Nem toda brasileira é bunda. Meu peito não é de silicone."  
Para finalizar, com chave de ouro, a poesia  sobre a bunda, "que engraçada" do imortal Carlos Drummond de Andrade


A bunda, que engraçada

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora — murmura a bunda — esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda
redunda.
(Poesia de Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 22 de abril de 2014

MEMORIAL DE MARIA MOURA - A CRIAÇÃO DO MODO DE VESTIR

    Tenho comigo muitos livros, muitos rascunhos, muitos textos, muitos recortes de jornais. Tudo que fala sobre "o vestir" me interessa. Sempre me interessou.
Achei nos meus "tesouros de baú" uma reportagem (da jornalista Eliane Azevedo) onde a imortal escritora cearense Rachel de Queiroz   descreve o processo de criação do livro (best-seller) "Memorial de Maria Moura".
Interessante observar que ao criar o personagem, a escritora pensa, imediatamente no seu modo de vestir. Em anotações, manuscritos, emendas feitas pela autora durante a elaboração do texto, podemos ver o processo de criação da personalidade, do jeito de ser, de viver, os desejos, os sonhos, e o jeito de vestir do personagem.
"No caso da Maria Moura, quem adivinharia que a mocinha, nas primeiras anotações feitas por Rachel de Queiróz, na agenda, a escritora tinha o hábito de tomar notas em papéis avulsos -- compondo a característica dos personagens (leia, o seu modo de ser) e a sinopse da história, antes de começar o livro -- era uma viúva, com filhos e netos, "alta, magra, azeitonada, cara de índia? olhos verdes. Veste roupa de couro, perneiras, gibão, como um homem (....) Quando está amando, roupa de mulher - cabeção de renda, anágua de babados?"

Como é o romance? "O romance de Maria Moura se passa no interior do nordeste, no século 19 - provavelmente, entre 1830 e 1840 - e retrata os primórdios do cangaço. A personagem-título, ainda jovem, mora com a mãe e o padrasto, numa propriedade que pertence à família, onde levam uma vida confortável. Um dia, Maria Moura encontra sua mãe morta e descobre que o assassino foi o padrasto. Ele tenta seduzi-la para ficar com ela e os bens que a moça herdou. A partir daí nasce uma nova mulher, que inicia sua saga mandando matar seu malfeitor." (texto de Marlene Gomes Mendes, professora de Letras da UFF , RJ)

       Os escritores criam personagens e modos de vestir, de acordo com a personalidade e o jeito de viver dos personagens criados. Tudo é ficção. Mas aonde acaba a ficção e começa a realidade?



Acima, Rachel de Queiróz, a autora de "Memorial de Maria Moura". Abaixo, Glória Pirez interpretando  o personagem numa minissérie da TV Globo. O figurino traduz o personagem.



segunda-feira, 21 de abril de 2014

MARILIA VALLS POR ELA MESMA

     "Tem um filme de Fellini chamado "A Estrada" com Anthony Quinn e Giulietta Massini, que é o filme da minha vida. Ele faz o cigano Zampanó ela, a Gelsomina. Ele é todo brutal, ela é frágil, praticamente indefesa.
     Os dois são artistas mambembes percorrendo um mundo que nunca se preocupou em garantir a felicidade de ninguém. Para ambos, é o mesmo mundo. Mas eles o vivem de maneira tão diversa ... Gelsomina acaba destruída. Zamparó também, apesar da sua força. É como se um precisasse do outro. E é como se às vezes eu me olhasse por dentro e visse convivendo nesta mulher Zamparó e Gelsomina.
     Fui criada desde pequena para ser exibida. Era uma criança linda: minha mãe me enfeitava e me levava à rua para que me olhassem como se eu fosse uma boneca, uma prenda. 
     Esse é o meu lado "pink", a necessidade de ser admirada, de receber reconhecimento e mesmo elogios. E, de repente, tive que ir à luta, enfrentar um mundo para o qual não estava bem preparada nem certa do que queria percorrer. Aí encontrei uma outra coisa dentro de mim que só eu poderia conhecer, antes, de forma intuitiva: aquele meu lado animal que me empurrava para a frente, me dava força, me jogava para um canto e outro, com uma fome de chegava a me assustar. 
     Até 31 (trinta e um) anos, quando me separei de Ferreira Vianna, vivi meu lado "pink". Usava a fragilidade para representar o que esperavam de mim no mundo. 
     Depois, descartei-o e passei a ser mulher de luta. Demorei muito e dei várias cabeçadas por aí até compreender que não era nem uma nem outra coisa, exclusivamente. Era Gelsomina e Zamparó. Um sem o outro está mutilado, incapaz de sobreviver."


Foto de Rogério Ehrich

domingo, 20 de abril de 2014

O CICLO DA MODA POR SUE JENKYN JONES

    1-   UM NOVO VISUAL SURGE NA PASSARELA
    2-   É MOSTRADO NA IMPRENSA DIÁRIA E DE 
          NEGÓCIOS (INCLUINDO BLOGS, SITES, REDES
           SOCIAIS)
     3 - O NOVO VISUAL É ADOTADO PELOS LÍDERES
           DA MODA.
     4 - É MOSTRADO NAS REVISTAS DE MODA E ESTILO
          ASSIM COMO NAS REDES SOCIAIS, BLOGS E SITES
      
     5 - É USADO PELOS QUE ENTENDEM DE MODA

     6 - SÃO FEITAS VERSÕES MAIS BARATAS

     7 -  É VISTO NA IMPRENSA SEMANAL, NA TV E NA
            INTERNET

     8 - SURGE A DEMANDA POR MAIOR DISPONIBILIDADE

     9 - OS PREÇOS SÃO REDUZIDOS - CAIMENTO E 
          CORTES RUINS
    
   10 - É USADO PELOS SEGUIDORES DA MODA
    
   11 - OS CONSUMIDORES PERDEM INTERESSE
  
   12 - FIM DA LINHA PARA AS VENDAS

   13 - OS  LIDERES DA MODA "NÃO USAM NEM  
           MORTOS".
   
   14 - MUDANÇA PARA O PRÓXIMO NOVO VISUAL

       Será que o ciclo "da aceitação à obsolescência" continua 
         se comportando assim? Ou houve mudanças? Dê a sua 
         opinião. Obrigada, pela participação.   
 (Fontes: livro "Fashion Design", de Sue Jenkyn Jones, editora Cosacnaify,2005 -- tradução de Iara Biederman e revisão técnica de Leusa Araujo -- e uma reportagem, sobre o livro, escrita pelo jornalista Alcino Leite Neto)  
Em tempo: no seu texto, o jornalista Alcino Leite Neto afirmou:  "(...) Mas o livro não fala da moda no Brasil. Há apenas uma referência a Carlos Miele, citado como estilista brasileiro entre parênteses, mas como grife americana pela autora, por causa da sua loja em Nova York. A editora poderia ter acrescentado um capítulo sobre a moda no país, para deixar ainda mais completa a publicação." 
     

sexta-feira, 18 de abril de 2014

SAIA DA SUA BOLHA, SE AVENTURE: "SE CONHEÇA"



  Oprah Gail Winfrey , apresentadora  e empresária norte-americana, afirmou e sempre afirma que estudou e continua estudando a história dos negros norte-americanos. Ou seja, estuda a sua própria história. E assim conseguiu criar o "talk-show" com maior audiência da história da TV norte-americana.


"Eu estudo a minha história, a história dos negros americanos. Por conhecê-la, passei a acreditar que, quando uma pessoa sabe quem é, ela tem uma habilidade de seguir em frente, Ao conhecer sua origem, você pode evoluir não só por sua força de vontade mas também com a ajuda da força de sua ancestralidade."- Oprah Winfray

  Uma pergunta: Os modelos negros, que fizeram, recentemente,  protestos na porta do Fashion Rio, têm estudado as suas histórias?
Caso estudem as suas histórias poderão trazer novidades, novas informações para a nossa industria de moda.  Ou seja, não basta ser negro, assim como não basta ser branco, amarelo, pardo, etc. O importante não é o "involucro" e sim o que está dentro, o conteúdo.E o processo é de dentro para fora: grandes vivências geram criativos e originais "invólucros".


O escritor russo Leon Tolstoi (1828-1910) afirmou: Se queres ser universal, começa  a pintar a tua aldeia." Ou ""para ser universal fale de sua aldeia" ou "fale de sua aldeia e estará falando do mundo" ou "fale de sua aldeia e falará do mundo".
Esta frase (e suas variações) já virou um bordão. Mas é sábia.
E não foi só a bem-sucedida norte-americana Ophah Gail que foi estudar (e estuda) sua história.


O Gabriel Garcia Marquez, no livro "El odor de la Guayaba" (O cheiro de goiaba) afirma que, para ele,  "dormir de meias" dá "pava", em português, dá azar, gera infortúnio, traz a má sorte, etc. Ele respeitava as superstições não só colombianas, como as sul-americanas e as caribenhas.


 Garcia Marquez era extremamente antenado com a história do seu país, com as superstições populares, com as crendices populares.
Garcia Marquez não vestiu um smoking (como ditava o protocolo) quando foi  receber o Prêmio Nobel. Ele foi receber o maior prêmio da literatura mundial vestindo o Liqui-liqui - tradicional traje caribenho.
Mergulhar na história da família, na história dos ancestrais, na histórias populares  pode gerar muitos frutos. E não temam enredos infelizes, porque aí reside a originalidade.
Já dizia o Tolstoi: "as histórias das famílias felizes são todas iguais. As famílias infelizes, cada uma tem uma história ....  Bingo!!