quinta-feira, 26 de março de 2015

MODA ESTADUNIDENSE 1930-1939











      A festa acabou. Após a queda (crash) da bolsa de Nova York, ocorrida em 1929, os EUA e o mundo sofrem de depressão econômica, o desemprego que dramaticamente vai alterar a estrutura social. Os anos 20, também conhecidos como a década da negligência, quebra com a economia mundial. 
      Nos EUA uma minoria de muito ricos conservam suas fortunas. A maioria das pessoas fica mais pobre com a depressão, que leva milhares de pessoas, ou seja, 1/4 da força produtiva, ao desemprego e encaminha as massas para as filas de pão.
     

domingo, 22 de março de 2015

MODA ESTADUNIDENSE - 1920-1929













             A vida é intrépida, desafiadora. Festeja-se hoje, as consequências vêem depois. Nos EUA e na Europa o fim da Primeira Grande Guerra trouxe alento ou "combustível" para as mudanças sociais que vão trazer muitas alterações a médio prazo.
           Numa visão é uma década onde há muitos choques de valores, desafios e gratificações instantâneas ou momentâneas. Mas estes "barulhentos" anos 20, também  conhecidos como a década do jazz ou a era dos absurdos, é um momento de esperança e idealismo. A penicilina é descoberta por Alexander Fleming; Albert Einstein apresenta a teoria da relatividade. Inicia-se o rádio comercial e surge o cinema falado. Charles Lindenbergh e Amélia Earhart sobrevoam, de avião, o oceano Atlântico. 
           Nos EUA bebidas proibidas: é a lei seca. E surge um novo tipo de diversão: banho de banheira de jim, além do consumo (frenético) de bebidas fabricadas clandestinamente.
          A imagem da mulher do período é a moça irreverente ou petulante,mesmo. Ela representa a coroação do poder da cultura jovem ao desrespeitar, ou melhor dizendo, alardear o desrespeito à tradição. Como parte deste cenário, a moda se transforma dramaticamente. Surge a garçonne ou a melindrosa, ou a "garota moleca". Ela tem cabelos curtos e apresenta uma nova silhueta: usa camisão solto, frouxo, folgado e comprido que alonga o dorso e remove as curvas da silhueta e tem um comprimento abaixo dos joelhos, uma audácia para a época.
         Outras modernidades: o uso de ternos e a ampla utilização do jérsei. E tudo era liderado pela mulher que se transformou na mais importante estilista do século. a Gabrielle Coco Chanel. 
          Outros acontecimentos entristecem a década: Klu Klux Klan, uma associação racista norte-americana, chega a ter 4 milhões de sócios. Mas a Europa também possui suas "bestas": o facismo toma conta da Itália e Adolfo Hitler organiza sua candidatura e eleição, após publicar Mein Kampf ("minha culpa") em 1925. Mas tais desagradáveis ou bestiais acontecimentos são ignorados enquanto "rolam os bons tempos" , o frenezi, os despropósitos da era do jazz.
          Os  "barulhentos anos 20" caem em 24 de outubro de 1929, com o crack da bolsa de Nova York. Dá-se, então, silêncio ensurdecedor, a quietude fora do comum.

                                 QUEBRANDO OS TABUS

          Uma revolução sexual toma forma. A discussão da teoria carnal de Sigmund Freud torna-se moda. Mães cautelosas se preocupam com suas filhas. Mas a juventude liberada esquece ou deixa em casa "seu cinto de castidade" antes de ir dançar nas festas que eram conhecidas como "festas das favoritas".

                                O PODER ESPORTIVO

           Inicia-e o eterno romance entre a moda e o esporte. O estilo feito para esquiar é desenvolvido como matéria-prima techno da época, ou seja, é à prova d'água e com um abotoamento especial.
           Até os estilistas entram na "onda esportiva": Chanel desenhou roupas para a prática do golfe e trajes para a praia. Patou embelezou Suzanne Lenglen, a estrela do tênis, criando para ela um cardigã sem mangas e com um decote em V para ser usado com uma saia curta. A partir daí, o decote em V fica na moda. O banho de  sol e a pele bronzeada se tornam chiques. Palm Beach e a Riviera são in e dão o tom, literalmente. A Côte d'Azur se transforma no ponto de encontro da intelectualidade que inclui Isadora Duncan, Aldous Huxley e D.H. Lawrence. Surge o maiô pequeno, curto e mais apertado. As mulheres também começam a usar shorts em público durante eventos esportivos. A calça-pijama, lançada por Chanel, é adaptada ao estilo praia.


                             MEIA COR PRETA

            Em 1922, as meias coloridas (inclusive a cor da  pele) em seda ou rayon se transformam no objeto de desejo das mulheres. E a meia preta torna-se, logo, a escolhida pelas consumidoras.

                       A GAROTA PETULANTE, A 'IT GIRL'

             As garotas petulantes representam uma época ou uma era de vibração, de procura, de "jovens aventuras". De acordo com o imortal escritor F.Scott Fitzgerald, um autêntico cronista dos anos 20, "eram jovens com talento para viver".
           A atriz Clara Bow, conhecida na época como a It Girl, revelou a fórmula então utilizada para viver na moda: "Nós tinhamos individualidade. Fazíamos o que gostávamos, dormíamos tarde e só nos vestíamos do jeito que a gente gostava. Eu, por exemplo, "zunia" na Sunset Boulevard na minha baratinha (um tipo de automóvel da época) com sete cachorros vermelhos para combinar com o meu cabelo."
        Que it era este que a Clara Bow tinha? De acordo com Elinor Glyn, uma conhecida autora de histórias de amor," o it é uma estranha capacidade, um estranho magnetismo capaz de atrair os dois sexos." Segundo Glyn outros possuidores de it em Hollywood são machos ou são do sexo masculino, incluindo um ator latino chamado Antonio Moreno, o porteiro do Hotel Embassador e um "garanhão" que atende pelo nome de Rex ...

O ACESSÓRIO MARCANTE:  As mulheres começam a fumar em público e a venda de cigarros duplica. As piteiras douradas e com pedras se tornam um símbolo de sofisticação.

CHANEL - A imortal estilista francesa emerge como a lider dos costureiros franceses. Ela havia iniciado seu negócio com uma loja em Deauville e na sua carreira haveria uma constante influência destes primeiros anos de profissão.
 Após a Primeira Grande Guerra, Chanel se mudou para Paris e a moda se modificou, para sempre. O seu lema (ou o seu mantra) era a palavra modernidade. Ela sempre foi a favor da linha clean e de uma atitude, de uma postura esportiva. 
 Muito mais que meramente chiques, as roupas de Chanel eram, sobretudo, práticas. E a praticidade resumia a audácia desta estilista. E o estilo Gabrielle Coco Chanel fazia muito sentido para as mulheres norte americanas, e para as mulheres  que agora sentiam o primeiro gosto pela liberdade e , pela primeira vez , se sentiam livres de certas restrições sociais. 
 Com Chanel a simplicidade alcançou a moda sofisticada e muitas de suas inovações se tornaram clássicos. Exemplos: suéteres, o visual (ou look) marinheiro, o lânguido jérsei e os revolucionários tailleurs de tweed também conhecidos como conjuntos ou ternos de tweed.
 O estilo Chanel conquista, nos EUA, ampla aceitação e é imitado. "Se não existisse imitação, como teriamos uma moda?", indaga a imortal estilista. Astuta mulher de negócios, ela lança, em 1925, o perfume "Chanel n* 5". E no final dos anos 20 ela já havia construído um império que empregava 2.400 profissionais.
  "Eu lancei a moda de 1/4 do século. E como consegui isto? Consegui porque eu soube expressar o meu tempo", afirmaria, posteriormente, Chanel.

                            ACESSÓRIOS EM VOGA

         O chapéu cloche, que vem a ser aquele apertado na cabeça, gênero campânula, adiciona um ar de mistério ao visual diurno. À noite, turbantes fazem a mágica. Os conjuntos de jóia (leia-se broche, brincos e pulseira iguais) explodem à medida que também cresce o interesse das mulheres pela pérolas.
        Pulseiras escravas, prendedores de cabelo com diamantes ou brilhantes e flores de seda usadas no ombro são detalhes presentes no estilo do bem-vestir. Para proteger a cabeça do frio, nada melhor do que turbantes de pele, especialmente os de raposa.

                      ATRAVESSANDO O OCEANO

        Madeleine Vionnet que reabriu sua maison em 1919, após um período de "hibernação", é uma artista que domina a técnica de modelagem. Em 1923, Norman Hartwell abre a sua loja na rua Bruton, anunciando uma nova era para a costura britânica. E Brit Edward Molyneaux, conhecido pela sua impecável arte de costura, abre uma loja na Rue de la Paix.
        Jean Patou tem como alvo a consumidora norte-americana. Assim como Madeleine Vionnet, Patou havia fechado sua maison durante a Primeira Grande Guerra, reabrindo-a em 1919.

                    O SOBE/DESCE DAS BAINHAS

          No início da década, as saias curtas chocam o mundo. Os estilistas ficam indecisos e as bainhas voltam a descer. Logo, elas voltam, facilmente, a subir e em meados dos anos 20 a saia estreita, comprimento na altura dos joelhos, passa a representar o visual feminino dominante. 
          Mais tarde, as barras longitudinais, as linhas livres, as bainhas assimétricas e em pontas, passam a representar a obsessão dos anos 20 pela dança. Todo mundo desejava dançar foxtrot ou tango durante toda uma noite.  Em 1928, a bainha das saias femininas voltam, mais uma vez, a descer.

   
Em tempo: Para quem deseja informações sobre a história norte-americana no século XIX, uma boa dica, inclusive para estudar o estilo, os figurinos norte-americano da época, é a série Deadwood, focada em 1876: "A concessão indígena de Black Hills, testemunha o nascimento de uma cidade na fronteira norte-americana, e a cruel guerra de poder entre pioneiros justos e injustos. Em uma época de pilhagem e cobiça, a mais rica corrida do ouro da história norte-americana leva uma multidão de incansáveis marginais a um acampamento fora-da-lei, onde tudo - e todos - têm um preço. Os desbravadores que vão desde um ex-advogado, ao astuto dono de um cabaré, até o lendário Wild Bill Hickok e Calamity Jane, têm algo em comum: o estado de espírito sempre inquieto e a sobrevivência a qualquer custo." 

         



terça-feira, 17 de março de 2015

MODA ESTADUNIDENSE - 1910 - 1919


 
     A segunda década do século XX é caracterizada por batalhas e progressos. A Primeira Grande Guerra é chamada de "a guerra que acabará ou dará fim a todas as guerras".
     As sufragistas lutam e conquistam, em alguns estados, o direito ao voto feminino em 1919. E os sindicatos norte-americanos mantêm  suas reivindicações a fim de desenvolver leis trabalhistas que protejam inclusive os trabalhadores imigrantes.
     Em 1917, EUA entra no conflito da Primeira Grande Guerra que, nesta época, já aniquila, há três anos, o solo europeu. Os soldados da infantaria do exército (conhecidos como doughboys) vão lutar na França. O conflito leva mulheres ao campo de batalha. E elas entram na guerra ocupando as seguintes funções: motorista de ambulância, enfermeiras e mecânicas de carro.
     No solo norte-americano, mulheres estão trabalhando nas linhas de montagem das fábricas ou como motoristas de carro, ascensoristas ou operadoras de telégrafos. Para elas, as roupas funcionais, que garantem a liberdade de movimentos tornam-se uma norma, uma necessidade.
     Em 1913, a sociedade norte-americana assume a juventude como o ideal de beleza "Este é um dos períodos mais revolucionários da moda", afirma Anne Holander, autora de "Sex and suits: the evolution of modern dress".   "A juventude e a liberdade eram novos ideias, os novos standards. E o novo ideal é sinônimo de movimento e de velocidade. A primeira edição do Women's Wear Daily - WWW - surge nas bancas no dia 13 de julho de 1910. A manchete de uma das reportagens é: "Fala-se sobre uma paixão pela cor preta em Paris."

                                  NOVOS ÍCONES

      No início foi a Gibson Girl que definiu a jovem mulher norte-americana, personificada ou traduzida em Alice, a filha do presidente Roosevelt. Mas o desabrochar da indústria do cinema mudo em Hollywood trouxe novos símbolos de beleza feminina: Theda Bera (a primeira 'vamp') e Mary Pickford (a namoradinha norte-americana). Em 1912, cinco milhões de norte-americanos iam, diariamente, ao cinema. As estrelas do cinema, contudo, iriam conquistar maior importância nos anos 20.

                 O DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA

        Em 1915, o comércio de roupa ocupa o terceiro lugar nos EUA. Só perdem para a indústria do aço e do óleo. O comércio do algodão e da lã cresce na Nova Inglaterra e passa a ocupar o sul e a Pensilvânia, junto com as fábricas de seda.
       Na época da Primeira Grande Guerra, a indústria do vestuário fatura, anualmente, mais de US$ 1 bilhão. No final da guerra, há mais de 15 estabelecimentos que fabricam, só em Nova York, roupas para mulheres.
       O lado negativo corresponde aos abusos, à exploração de mão-de-obra, sobretudo dos imigrantes por parte dos fabricantes. No incêndio de 1911, ocorrido no Triangle Shirtwaist  resultou na morte de 146 trabalhadoras o que provocou um dos maiores protestos públicos e deu impulso ao início de um movimento que garantisse novas leis para proteger os empregados do setor. A fábrica em questão - uma das maiores produtoras - estava com a maioria das suas portas fechadas, além de apresentar escadas de incêndio inadequadas. A única 'rota de saída' eram as janelas ...!!

                             O IMPACTO DA GUERRA

        A Primeira Grande Guerra influênciou fortemente a vida e o estilo de vestir das mulheres. A guerra afinal levou mulheres (ricas e pobres) a se empregarem em funções antes exercidas apenas pelos homens.
        No início da década 7,5 milhões de mulheres trabalhavam nos EUA; Em 1920, o número era superior a 8.5 milhões. As voluntárias exerciam a função de enfermeiras, enquanto as trabalhadoras estavam nas fábricas.
        A moda também gerou, conforme destaca Valerie Steele "um movimento de cultura jovem. Os jovens ficaram profundamente decepcionados com o que ocorreu com seus contemporâneos que sacrificaram suas vidas nos campos de batalha. E eles sentiram que não podiam mais confiar nas pessoas maduras", afirmou Valerie.
        Vale destacar que durante a Primeira Grande Guerra, a maioria das mulheres norte-americanas deixaram de usar suas jóias e elegeram o "pequeno vestido preto" como o vestido da moda.

                      A TRANSFORMAÇÃO DA MODA

           Em 17 de novembro de 1913 lia-se num artigo sobre moda, publicado no WWD o seguinte: "Nas corridas de cavalo ocorridas ontem, a tendência da moda era o veludo, que está ,agora, mais forte do que na temporada anterior. E as cores mais populares (durante as corridas) forma as várias tonalidades de vermelho, o verde e o marrom. As peles andam em voga tanto para casacos quanto para serem usadas em vestidos. Foram vistos muitos casacos de pele, todos em comprimentos mais curtos. Sete visitantes trajavam vestidos feitos em broadstail. O chapéu de tamanho médio continua na moda. E o ornamento mais popular continua sendo a pena de avestruz."
        Em 1913 há uma mudança de silhueta: as saias ficam mais estreitas, algumas vezes com um corte afilado ou na forma de um funil. No ano seguinte, ou seja em 1914, Lady Duff Gordon que trabalhava como estilista utilizando o pseudônimo de Lucile, criou uma coleção de roupas femininas inspiradas em Irene Castle e caracterizada pelas suas formas esbeltas, delgadas. Um parêntese: Irene e seu marido, Vernon Castle, formavam o casal da moda. Foram eles os responsáveis pela popularização do maxixe. E ela, Irene, difundiu, nos EUA, a moda do cabelo curto.

                          A NOVA LIBERDADE DA MODA

          A decadência do espartilho se inicia no fim da primeira década do século XX. Paira no ar um sentimento de progresso. O movimento das sufragistas se estruturou e passou a ganhar ainda mais terreno e lançou o movimento pelo controle da natalidade, que foi liderado por Margaret Sanger. O primeiro diafragma é lançado em 1913. E a senhora Sanger abre a primeira clínica de controle da natalidade em 1916.
         Em 1911, o estilista francês Paul Poiret traz o toque oriental para a moda. Com bordados que parecem jóias, silhuetas drapeadas e turbantes, Poiret domina a moda nas duas primeiras décadas com a sua silhueta exótica.

        O ACESSÓRIO DO MOMENTO: é o relógio de pulso feminino que 'debutam' nos primeiros anos de 1900 e vêem substituir os relógios de bolso e os relógios-broches ou 'berloques'.

                               O DOMÍNIO JOVEM

       O tango é uma das danças que conquistam a preferência do jovem, que vem a ser o novo ideal de beleza.
       O crescente interesse feminino pelos esportes (exemplo, o tênis e esqui) faz com que o jovem prevaleça como o novo ideal estético. E a moda se torna, cada vez mais, prática, com a crescente popularidade da suéter e da saia. Nasce então o sportwear.
        Com a proliferação dos automóveis (ou "dos carros sem cavalos") as mulheres passam a usar imensos e largos casacos esportivos por cima dos vestidos. São os 'guarda-pós'. Os chapéus têm véus (uma forma de proteger o rosto contra o pó) que são amarrados abaixo do queixo. E elas também passaram a usar sapatos altos, abotinados, sempre abotoados.
      






   Em tempo: Eu já estudei nos Estados Unidos, morei, enquanto estudava, no estado de Michigan. Não sou anti norte-americana.Utilizo , no título a palavra estadunidense, apenas para lembrar que nós também somos americanos, do sul. Nada mais.
Ao lado, uma nota publicada na coluna "Gente Boa" (jornal Globo edição de 14/03/2015) onde é dito que "a revoada de brasileiros que vêm falando em deixar o Brasil fez Rony Meisler, da Reserva, lançar esta camiseta com os dizeres "Miami é o KCT". Rony diz que não tem nada contra a cidade americana, muito pelo contrário.(...)"

  Postei fotos de  Mary Pickford e Theda Bara, simbolos de beleza feminina, nesta época.

quinta-feira, 12 de março de 2015

MODA ESTADUNIDENSE 1900-1909








       São Paulo Fashion Week tem uma revista e o título da atual edição do evento é " We've got the power" (Nós temos a força). Como bem disse Ancelmo Góis (jornal O Globo, edição de 11/03/2015) "we've  got the power" é o cacete!"
            Muitos falam (ou enrolam) em inglês, cantam (ou fazem que cantam) em inglês, adotam (muitas vezes sem conhecer) o estilo norte-americano, o famoso "american way of life": mais uma razão para se conhecer um pouco da história da moda estadunidense.





      A palavra chave do novo século é um comportamento de experimentar de tudo um pouco. Experiências, novas sensações com arte, moda e cultura. 
     É o alvorecer, é o princípio de um novo século ...! Sigmund Freud e Carl Jung contestam e mudam a visão tradicional a respeito de sexo e sexualidade ao publicarem seus primeiros trabalhos sobre psicanálise e repressão sexual.
     No mundo das artes plásticas, o movimento cubista, liderado por Pablo Picasso e Georges Braque, ganha projeção.
     Na moda, as regras do bem vestir começam a ficar "menos confusas" ou começam a descomplicar.
     Em 1901, a rainha Vitória morre e com seu falecimento inicia-se o fim da repressão sexual. No ano de 1908 a silhueta feminina em forma de um S -- com duas curvas muito exageradas e muito realçadas e que dão ênfase ao derriére (ou bumbum) e ao busto -- enfraquece ou começa a desaparecer. Ela é substituída , pouco a pouco, por uma silhueta esbelta, esguia e elegante.
     O otimismo é o sentimento que domina. O presidente Teddy Roosevelt  (1901-1909) é o responsável pela repressão ou pela restrição ao poder dos monopólios, legislando as disputas trabalhistas e reformando/modernizando as rotas das estradas de ferro. Com as suas atitudes, o presidente Roosevelt reflete a energia, a disposição, o humor e o estado de espírito otimista dos EUA.
     E há boas razões para estes sentimentos otimistas: a população de três cidades (Nova York, Chicago e Filadélfia) superou a marca de 1 milhão de habitantes em 1900; o sistema de ferrovias ou de estradas de ferro estão sendo construídas "cortando" ou interligando o país. A era também é marcada pelo domínio dos automóveis. A linha de montagem revolucionou a produção manufatureira. Por volta de 1908 mais de 15 milhões de carros modelo T haviam sido vendidos.
     A nova era dos automóveis influenciou a aparência e surgiram os estilos "moda motorizada" para mulheres, que era caracterizada pelos guarda-pós e pelos chapéus com véus.
     A era também é marcada por uma "explosão" de multimilionários como, por exemplo, os Vanderbilts e os Carnegies, muitos dos quais gastaram milhões adquirindo mansões em New Port ou na cidade de Nova York.
     Como os EUA ainda não lançavam ou ditavam moda, os ricos frequentemente viajavam de navio para Paris (capital da França) onde costumavam encomendar roupas no último grito da moda ou roupas que refletiam e traduziam o último estilo.

                     O DESENVOLVIMENTO DA ALTA-COSTURA

     A última década do século XIX presenciou/assistiu ao nascimento da alta-costura em Paris, França. Na primeira década do século XX, a alta costura se desenvolveu e prosperou.

     Charles Worth - Ele criou o direito do estilista de legislar sobre o estilo, conforme conhecemos até hoje. Worth fundou sua maison em Paris (França) no ano de 1858 e tornou-se anfitrião dos ricos e famosos de diversos continentes. Coube a ele a criação de desfiles sazonais de moda onde eram apresentados sistematicamente modelos e padronagens exemplares.

     Paquin - Fundou a sua maison em 1891. Assinou novos visuais, incluindo o uso de peles de animais raros em casacos de pele. Utilizou também, na criação de um estilo próprio, a passamanaria e a cor vermelha. Na época das corridas de cavalo do Grand Prix e na temporada de ópera, Jeanne Paquin realizava desfiles, já utilizando grupos de modelos, a fim de divulgar suas última criações.

     Paul Poiret - É o antepassado do design, legislando no gosto com um todo. Enquanto Worth determinava (ou ditava) o que a mulher deveria vestir, Poiret queria determinar como elas deveriam decorar suas casas, que tipo de festa deveriam promover e como deveriam ser os jardins de suas casas. Poiret abriu uma empresa em 1904. Na moda, sua silhueta longilínea e magra era a antítese (ou o oposto) do opolento estilo que dominou no tempo da rainha Vitória. Paul Poiret foi o primeiro costureiro a lançar perfumes. Mas a moda mudou e Poiret deixou de ser o design favorito. Sua forma de viver extravagante, suas festas enfim o levaram à falência em poucos anos. Ele morreu pobre, muito pobre no ano de 1944.

     Jeanne Lanvin - O nome Jeanne Lanvin representa a mais antiga maison de alta costura, ainda em atividade: fundada em 1890 por Jeanne Lanvin, que na época tinha 23 anos e era chapeleira. Seu estilo era muito feminino e caracterizado pelas curvas e pelas cores doces/suaves. Ela foi a segunda profissional de moda a lançar um perfume: Arpége.

                               O NOVO IDEAL DE BELEZA


     Talvez a mais revolucionária mudança da primeira década do século XX foi o surgimento de um novo ideal de beleza feminina nos EUA: Sai de cena a mulher madura e entra na moda a mulher jovem. Ou seja, a jovem independente desbanca a mulher madura do seu trono de ideal de beleza a ser seguido, a ser imitado por todas.
     Até quase o fim da primeira década do século, a mulher madura com seus espartilhos com couraças de aço, com suas golas altas e seus imensos chapéus adornados com plumas, representava o ideal de beleza da sociedade. A silhueta feminina, então, tinha a forma da letra S maiúscula, traduzida nas curvas exageradas que davam ênfase ao bumbum e ao busto.Respirar era difícil ... E o comprimento das saias cobriam os tornozelos.
      Contudo, este jeito de vestir começa a se descomplicar em função de uma série de razões que em linhas gerais traduziam os avanços industriais e sociais. Em 1907 a grande novidade foi que as saias ficaram mais curtas, leia-se duas polegadas acima do chão. Em tempo: cada polegada representa 2,54cms.
     Em 1908, o estilista Paul Poiret lança a cintura alta. Consequência número um: o espartilho cai de moda. Poiret também deixa a marca do seu estilo ao utilizar cores vivas/brilhantes, inspiradas no oriente e na Rússia. E até as meias femininas mudam de cor: deixam de ser pretas e assumem as cores ouro e vermelho.
     No fim da primeira década, o novo furor, o objeto de desejo é a hobble skirt, que vem a ser a saia super estreita e batendo no tornozelo. Seu nome hobble skirt vem, literalmente, das desvantagens que ela impõe às suas usuárias. E elas foram permanente fonte de inspiração para os cartunistas. Vale destacar que a hobble skirt desnudaram algumas poucos polegadas das pernas femininas, predizendo os comprimentos mais curtos que viriam, posteriormente, dominar as saias e as cabeças das mulheres.
     Paul Poiret também popularizou a túnica em forma de um T usada por cima de uma saia que batia nos tornozelos. E para garantir a liberdade de movimentos das mulheres, Poiret lascou até o meio a hobble skirt

                       O TRAJE: UM NEGÓCIO LUCRATIVO

           A indústria têxtil norte-americana e a indústria de roupa se expandiram rapidamente nas grandes cidades, após 1885, especialmente na cidade de Nova York, onde o desenvolvimento foi muito mais rápido do que o de qualquer outra indústria.
     Uma das indústrias mais modernas é a fabricação de seda que deixa de ser um pequeno negócio de luxo (como era visto nas últimas décadas do século XIX) para se tornar um excelente negócio.
     Na virada do século, o visual predominante era marcado por babados, cintura de vespa e mangas sinos, inspiradas nas  The Floradoras, que eram a beleza predominante.
     E uma das maiores tendências de moda era a blusa inspirada na Gibson Girls, personagem criada pelo ilustrador Charles Dana Gibson. O catálogo da Sears Roebuck do ano de 1905 oferece 150 diferentes versões desta blusa. Os modelos mais simples custavam US $0,39 cents (leia-se trinta e nove centavos/dolar). E os modelos em tafetá saiam por US$ 6,95 (seis dólares e noventa e nove centavos). Com a sua silhueta esportiva e forte, onde se destaca um chapéu de marinheiro, confortáveis golas adornadas por uma gravata, as Gibson Girls definem a jovem mulher norte-americana que até então não passava de uma vaga ou difusa imagem.
     A costura feita em casa, a costura doméstica, ainda exercia um papel de grande importância quando o assunto era a criação de peças para o guarda-roupa da classe média norte-americana. Mas de olho na demanda, de olho no público consumidor, surgem fabricantes de grande porte para faturar a demanda de roupas prontas.
     Em 1900, 472 lojas de Nova York venderam blusas e/ou camisas, empregando 18.000 trabalhadores. Em 1909, havia 600 lojas que empregavam 30 mil trabalhadores e tinham um rendimento anual de 30 milhões de dólares.
     A semente das reformas sociais se propagou com a criação da União Internacional das Mulheres Trabalhadoras no Setor do Vestuário, que foi fundada em 1900.
     Mas o crescimento, o desenvolvimento do setor têxtil gerou o surgimento do sub-trabalho, cuja crônica foi realizada por inúmeros jornalistas. Um deles foi Jacob Riis, repórter policial que assinava artigos no jornal New York Tribune e no jornal New Yor Sun.

                     INICIA-SE O MARKETING NA MODA

      Já que nenhum designer norte-americano havia conquistado reputação como um criador ou instigador de estilos, as lojas dos Estados Unidos copiavam, da maneira melhor que podiam, a moda de Paris, França.
     Compradores norte-americanos eram, frequentemente, despachados para Paris. Mas antes da Primeira Guerra Mundial, a consumidora bem informada, exigente, consciente da necessidade de qualidade, só era encontrada nas grandes cidades como, por exemplo, Filadélfia, Nova York e Chicago.
     A publicidade ainda se encontra na sua infância. E é estritamente utilitária. Um bom marketing é o  Fashion Show do varejo. O primeiro foi inaugurado em 1903 por Ehrich Bros. Em 10 anos, o Fashion Show  conquista um público cativo, e torna-se uma atração nas rampas em frente às lojas ou dentro das lojas de departamento. O mais famoso é o Gimbel's Promenades des Toilettes , que foi apresentado pela primeira vez em 1910.
     Milhares de mulheres viviam tumultuando as lojas da Rua 34, em Nova York, para dar uma espiada nos últimos lançamentos da moda francesa. 
     Os shows e desfiles da Wanamaker, realizados em Nova York e em Paris (França) eram considerados os mais afetados. Na apresentação do desfile-show da Wanamaker de 1908,as cadeiras tinham assentos vermelhos e dourados, numa homenagem à corte de Napoleão e Josefina ...!!

     
(bibliografia: WWW - Women Wear Daily, edições históricas e informações que me foram passadas por Roberto Barreira, numa das colaborações que fiz para a cooperativa que ele montou, após o falência da Bloch  Editores, no inicio do século XXI. Falências de empresas de comunicação são --infelizmente, para os jornalistas --comuns no Brasil. Historicamente já aconteceram,  no século XX ---- para não irmos muito longe -- diversas falências de jornais e de editoras)      
     





segunda-feira, 9 de março de 2015

ONTEM, DERNIER CRI; HOJE, BIKE VIRA HYPE





     No principio, o Brasil-colônia aprendeu, através dos portugueses que nos "descobriram" a cultuar a estética francesa, a moda vinda da França. 
      Quando a familia real portuguesa aqui chegou, em 1808 fugindo de Napoleão e das guerras napoleônicas, todos se vestiam à moda francesa. E assim caminhou o nosso senso estético, sempre se expressando em francês, a lingua estética, a lingua do refinamento, a lingua da cultura no Brasil, que os professores e intelectuais aprendiam e muitos inclusive ensinavam. 
     

quarta-feira, 4 de março de 2015

UMA BOCA PUXA A OUTRA/A MOUTH PULLS ANOTHER

     Bocas que saltam para a transcendência, que vão além do ditado popular: "quem tem boca vai a Roma." Ditado gerado em tempos idos, quando Roma representava (sobretudo no imaginário) o centro do mundo.