segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ruth Joffily concedeu uma entrevista a Virginia Todeschini

Ruth Joffily concedeu uma entrevista a Virginia Todeschini, doutora em História e Teoria da
Arte.Linha de pesquisa: Imagem e Cultura. Tema da sua dissertação de doutorado: “Presença
carioca. Estudos sobre a moda e a estética corporal na cidade do Rio de Janeiro” – Professora –
orientadora: Dra Rosza W. vel Zolaadz – UFRJ, Centro de Letras e Artes – Escola de Belas Artes,
Programa de pós-graduação em Artes Visuais – Rio de Janeiro, 2008

Ruth Joffily – Jornalista, escritora, professora, mestre em Comunicação e Cultura pela Escola
de Comunicação UFRJ. Entrevista concedida a Virginia Todeschini Borges no dia 05 de maio de
2006, às 13 horas. Gravada em formato wave, com duração de 1 hora e o7 minutos.

Qual é a sua formação profissional e como começou a trabalhar com moda?

--- Comecei a trabalhar com moda meio por acaso. Tive uma alfabetização em inglês, na
Itália. Teve uma época, na minha infância, que eu falava português, inglês e italiano. Quando
vim para o Brasil, eu falava mais italiano que português. Isso me fez ficar meio capenga
em português, que é uma língua muito rica, muito difícil de ser aprendida. Eu resolvi fazer
jornalismo, que era o meu sonho. Entrei no jornalismo, meu pai faleceu, comecei a estudar de
noite e a trabalhar de dia. Fiz vários trabalhos: fui secretária – levava marmita para o trabalho
– fui vendedora em loja, até que comecei a trabalhar no jornal O Globo, fazia estágio. Depois
fui para a Bloch Editores. Fiz estágio lá até que o Roberto Barreira perguntou se eu queria
produzir fotos. Eu nem sabia o que era aquilo – produzir fotos, imagens. Achei interessante e
também iriam me pagar o dobro do salário. Como precisava, aceitei. Eu fiz parte da editoria
de moda que foi formada então na Bloch Editores, em meados da década de 70. E aí eu não
parei mais. Posteriormente, comecei a escrever também e hoje talvez eu escreva mais do
que produza imagens. Comecei assim, foi meio por acaso. A gente conduz mais ou menos a
nossa vida, há uma série de percalços, uma série de eventos inesperados. Às vezes a gente
chega ao lugar onde a gente quer por caminhos tortos; não por uma linha reta. E hoje eu sou
apaixonada por moda, mas não foi uma coisa na qual eu tenha pensado. Inclusive porque eu
estudava na faculdade, na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde o que era respeitado
era o jornalismo econômico, o jornalismo político, o jornalismo cultural. Ninguém falava em
jornalismo de moda, muito menos em jornalismo feminino.

Você poderia falar do seu trabalho atualmente?

-- Comecei a dar aula sobre moda na época em que eu era jornalista. O salário de jornalista
nunca deu para me sustentar, então eu precisava fazer coisas paralelas. Fazia matérias como
freelancer, utilizava um pseudônimo, Ruth Tavares – meu nome e o sobrenome da minha mãe
– por uma questão de ética, já que eu tinha carteira assinada (tive no jornal O Globo, na Bloch
Editores e na Editora Abril).

Numa certa altura eu percebi que havia muito preconceito em relação àquela área, e eu só
encontrava pessoas inteligentes, muito preparadas e muito autodidatas. Elas tinham aberto o
próprio caminho, não havia informações sobre a área. Então achei que era interessante levar
estas informações sobre a área principalmente para os estudantes, para que eles percebessem

que havia outros mercados fora daqueles tradicionais (ser assistente social ou socióloga).
Dentro do jornalismo, o jornalismo feminino não era mencionado. Comecei, em 1988, a dar
cursos livres , na Candido Mendes, onde foi gerado o Núcleo de Moda, desse Núcleo – éramos
eu, Marília Valls, Mauro Taubman, Ethel Moura Costa – foi gerada, posteriormente, a Escola
de moda Candido Mendes. Eu fui uma das mentoras da Escola. Eu já trabalhava na Veiga de
Almeida, paralelamente. Eu dava aulas e trabalhava como jornalista. A partir de 1995, quando
nasceu meu filho, eu passei somente a dar aulas.

Escrevi a biografia do Guilherme Guimarães, cujo título é Eu Inventei minha vida, porque ele
começou nos anos 60, quando as pessoas tinham ou o sonho de revolucionar o mundo, ou
de ser engenheiro ou arquiteto bem –sucedido. Ele não quis nada disso, decidiu ser estilista
– profissão inteiramente marginalizada na época. Então ele mostra como foi o caminho dele,
remando contra a maré do estabelecido. Por isto o título Eu inventei minha vida. A moda
trata muito disto. Há um script da vida e as pessoas usam a moda porque querem estar
inseridas num contexto, querem se identificar com um grupo. E, também profissionalmente,
há profissões bem quistas e mal quistas. Tudo é ofício, nem tudo dá status. Guilherme
Guimarães até trata disto em sua biografia. Também fiz um texto-biográfico sobre a querida
Lucíola Vilela, que é a avó do cineasta Bruno Barreto e fiz junto com o cenógrafo e ator Paulo
César de Oliveira, O LIVRO DE OURO DA MODA.

GOSTO SE DISCUTE

Por Ruth Joffily

(texto-prefácio do livro “Esquadrão da Moda” de Clinton Kelly e Stacy London, editado no
Brasil pela Prestígio Editorial, 2007)

Um olho nas vitrines, nos últimos lançamentos da moda, e o outrono que os outros pensam.

Nós, brasileiros, homens e mulheres, sempre fomos presos ao julgamento alheio, ao
que “podem pensar” sobre nós.Conclusão: é comum virarmos as costas para quem somos e,
consequentemente, nos vestirmos ostentando grifes consagradas, que dão status, mas não
garantem um estilo que combine com a nossa personalidade, nosso jeito de ser e de viver.

Daí é comum ver homens e mulheres “uniformizadas” nas ruas, nos locais de trabalho e de
lazer, esperando, como eternos adolescentes, não destoar do grupo e ter o comportamento de
rebanho.

Além disso, nós , mulheres, somos muito exigentes conosco mesmas: nosso olhar crítico vê
como uma desgraça qualquer celulite, qualquer gordurinha localizada, qualquer busto meio
caído. A busca pelo corpo perfeito leva o Brasil a ser o país campeão em cirurgia plástica.
Ignoramos os riscos comuns a qualquer intervenção cirúrgica, como a anestesia, os cortes, os
pontos.

Mas não estou aqui para liderar uma campanha “abaixo a cirurgia plástica”. Estou aqui para
apresentar um livro que traz sabias e simples dicas estéticas para o corpo de mulheres e
homens. Para os autores, cada um de nós deve ser quem realmente é. Ou seja, somos o que
somos.

Para encontrar o nosso próprio visual, devemos nos submeter não a um bisturi, e sim a um
bom espelho, daqueles que a gente se vê de corpo inteiro.

No programa “Esquadrão da moda” há um espelho de 360 graus, através do qual cada
candidato ao autoconhecimento físico passa por uma prova de fogo: encarar o próprio corpo
em vários ângulos, aceitando o que há de correto e de incorreto. Ou seja, aceitar como se é,
realmente.

A ficção e a realidade se confundem nas ruas. É comum ver nos grandes centros urbanos
brasileiros pessoas que adotam a estética dos personagens das novelas com grandes índices
de audiência. E onde ficam os seres humanos normais? Onde ficam os bustos grandes? Onde
ficam os manequins que vão de 44 a 50? Onde ficam os (as) baixinhos (as)? Onde ficam os
(as) barrigudinhos (as)? Se a vida é um espetáculo, em que há fome de consumo de imagens,
a solução está em um franco diálogo entre você e o seu corpo, numa harmonia entre corpo e
mente.

Devemos ser quem realmente somos. Pois o nosso corpo e a nossa postura corporal estão
sujeitos à dinâmica da história. Cabe a nós enxergar, no cotidiano, o nosso lado invisível, sem
dar atenção aos conselhos padronizados de “boa etiqueta, bom comportamento”. E, sim,
ouvir nós mesmos e as nossas reais necessidades estéticas, o nosso real gosto. Assim afirmam
Clinton Kelly e Stacy London, que aqui, neste livro, nos orientam, com simplicidade, na busca
de um estilo de acordo com o nosso corpo. Uma coisa é certa: estética não é um bicho de sete
cabeças e está ao alcance de todos. Pois se vestir bem não significa comprar roupas caríssimas,
de grife. Vestir-se bem é, sobretudo, encontrar um estilo próprio, que fale por você. Bom
proveito!”

sábado, 11 de junho de 2011

Fotos Calcinhas !





As dez calcinha que abalaram o Mundo!

AS DEZ CALCINHAS QUE ABALARAM O MUNDO
Uma breve história de um ícone da sensualidade feminina

Ruth Joffily
Ilustrações de Robson Granado
As dez calcinhas que abalaram o mundo

O projeto “As dez calcinhas que abalaram o mundo” abrange uma exposição com os desenhos e as pinturas sobre o tema, que também ilustram o livro e um coquetel temático. Posteriormente haverá um livro.
A exposição apresentará uma história da peça de vestuário feminina que tanto atraiu o interesse e a atenção de homens e mulheres ao longo do século XX. A história da calcinha destaca os dez modelos mais impactantes em sua época de lançamento e uso. As ilustrações e as informações que acompanharão o texto serão executadas pelo artista plástico Robson Granado, em desenho a lápis sobre papel, aquarela e tinta acrílica sobre tela. As peças (os desenhos) que ilustram este projeto já são executadas pelo pintor.

Calcinha (diminutivo de calça); substantivo feminino singular. Ver calça.

Calçolas – substantivo feminino plural. Ver calça

Calça - Do latim calcea. Peça externa do vestuário tanto masculino quanto feminino que parte da cintura, ou de logo abaixo dela e, contornando o corpo, se fecha no centro junto às virilhas, dividindo-se em duas partes, que irão contornar e cobrir separadamente as pernas, descendo, por via de regra, até os tornozelos. 2- Parte interna do vestuário feminino semelhante à anterior, mas que parte da cintura ou dos quadris, indo apenas até às virilhas ou às coxas; calcinha; calçolas, biquíni. Dicionário Aurélio, pág 255- edição de 2001.
Quem procura pela palavra calcinha na “Enciclopédia da Moda”, escrita pela inglesa Georgina O’Hara, (editada no Brasil pela editora Companhia das Letras, em 1886) nada encontra. No “Dicionário da Moda” de Marco Sabino (editora Campus, 2007) também não consta o verbete calcinha. Mas em ambos os livros, ou seja, na enciclopédia inglesa e no dicionário brasileiro, consta a palavra calça.
Para as mulheres que vivem, agora, no século XXI o usar calcinha é um hábito do cotidiano que faz parte do dia-a-dia, um hábito banal,assim como escovar os cabelos e os dentes e tomar banho, diariamente.
Bem, a calcinha nasceu da calça masculina e deve ter sido usada bem antes de ter o seu nascimento oficializado. Ou seja, algumas rainhas, Princesas e mulheres da corte, da nobreza, deviam usar faixas ou calções, semelhantes aos culottes, calças curtas e bufantes, usadas pelos nobres. Elas deviam usar seus calções de maneira informal, não oficial, para poder andar a cavalo e também para se protegerem das menstruações, na época elas sequer sonhavam em usar os absorventes.
Oficialmente, a calcinha tem 116 anos, e antes de se tornar um fetiche e de ganhar as ruas, ela era comprida, desengonçada, e era mais conhecida como calção, calçola, calçola bufante, calçolas soltas, calçolas vitorianas. E era comprida, com acabamento em renda, e sisuda, muito sisuda, séria, e ficava escondida por debaixo de muitas camadas de pano, além de ser usada apenas pela camada privilegiada da população, leia-se as mulheres nobres.
Austera e sem graça, o calção ou a calçola começou a ganhar alguma graça após a revolução francesa (1789), que gerou a simplificação do traje feminino e do masculino. Para as mulheres, surgiu a linha império, cintura alta e caimento reto, que traduziu o neoclássico no vestir. Para os homens, sobretudo para os burgueses, grandes vencedores da revolução, surgiram as calças compridas, antes só usadas por aqueles que estavam à margem do poder imperial, à margem do poder político. No quadro “A liberdade guia o povo”, de Delacroix, vê-se, os sans-culottes em ação, lutando pela república, vestindo suas calças compridas, coletes e paletós, roupas ainda presentes no guarda-roupa masculino, atualmente, no século XXI. A mulher que está em destaque na foto, segura a bandeira da nação republicana francesa, está com um vestido inspirado no corte neoclássico e está com o busto de fora, livre dos espartilhos. Mas se está ou não com a calçola, os livros de história não dizem!
Mas coube a um francês chamado Pierre Valton, há exatos 116 anos, eliminar os excessos de renda, ajustar o calção ao corpo e batizá-la de “petit bateau”, ou seja, pequeno barquinho, numa tradução ao pé da letra. E a partir daí a o calção ou a calçola foi, cada vez mais, ganhando novas formas, até chegarmos aos modelos atuais.
Vale destacar que nos anos 20 do século XX, época da melindrosa, a calçola diminuiu ainda mais um pouco, incentivada pelos vestidos curtos da época do charleston. Dando um pulo histórico, chegamos aos anos 60, quando descobriram, após muitas pesquisas, a lycra, o que transformou, definitivamente, a calçola numa segunda pele, e a deixou ainda mais sexy.
Lá pelos anos 80, a cava alta nas pernas entrou em cena, e chegou para ficar. Por afinar a silhueta e alongar as pernas e emagrecer o corpo feminino, da cintura para baixo, a cava alta, virou “asa-delta”, que faz com que pernas curtas pareçam mais longas. E hoje, há modelos para todos os tipos de corpos, para todos os tipos de gosto e fetiche. Há, inclusive, as calcinhas comestíveis, e com gosto de morango, por exemplo. Este derradeiro acessório de qualquer strip-tease, para muitos, um supremo fetiche sexual, que as gavetas costumam guardar. Ela, a calcinha, pode ser chamada como a “última folha de parreira”. E em nosso Brasil, não há, como afirma o jornalista Sérgio Augusto, “sutiã que lhe faça sombra”, pois a influência africana ajudou a fazer do traseiro uma preferência nacional.
Com renda ou sem renda, de seda, de algodão ou de lycra, discreta ou exibicionista, a calcinha tem extremas propriedades afrodisíacas. No filme, “O pecado mora ao lado”, Marilyn Monroe dizia a Tom Ewell que guardava as suas calcinhas na geladeira, durante o verão. Já nos anos 70, a modelo e atriz Brook Shields dispensou as calcinhas em um comercial da etiqueta Calvin Klein. Dizia o texto do anúncio que não havia nada entre ela e o jeans que vestia. No filme “Instinto Selvagem”, Sharon Stone cruzou as pernas, e mostrou que estava sem calcinhas. E em 1976, um deputado brasileiro chamado Leonel Júlio gastou, na época, US$ 5,1 mil na compra de calcinhas, usando a verba da Assembléia Legislativa. Foi, na época, o famoso “escândalo das calcinhas” e o deputado teve o seu mandato cassado.
A calcinha cada vez se expõe mais, e ultrapassa os limites das gavetas, dos closets, dos quartos de dormir e dos espelhos. O futuro da calcinha já é o seu presente: ela se expõe, cada vez mais.
Nesta exposição, desejamos apresentar os dez modelos que marcaram a história da calcinha, cantada em prosa, em verso, e que habita as cabeças de homens e mulheres do planeta terra.
Para finalizar, uma poesia, do cineasta e roteirista José Joffily:
Fluência muda
“aquela sua calcinha
Pendurada na torneira
Do banheiro
Sempre quis
Dizer
Alguma
Coisa”

DA CALÇOLA AO FIO DENTAL

Nascida longa, desengonçada e proibida, a calcinha, que já nasceu maliciosa, encurtou à medida em que a mulher ia conquistando novos espaços na sociedade.
Ficou minúscula, assumiu transparências, conquistou tecidos práticos (lavou, vestiu) e sofisticados.
Enfim, a calcinha definitivamente, abandonou a clandestinidade.
Agora ela quer mais é ser vista.
Por meio de pinturas em telas, o artista plástico Robson Granado vai mostrar as dez mais representativas calcinhas desde o tempo de Napoleão.