O fazer e o pensar na moda estão andando separados, no Brasil. Nas maioria das faculdades de design existente no território nacional, não há uma cadeira chamada costura,costurar.
Durante o curso de Manon Salles realizado no inicio deste mês de novembro de 2017 na Casa Zuzu Angel, conversamos Manon, eu e as suas alunas sobre a questão: chegou-se à conclusão que no Brasil, atualmente, consideram que costurar é "coisa de coitadinha" como bem dizia a imortal estilista Zuzu Angel, que se definia como costureira, com muito orgulho.
Será esta a razão, o pouco valor que dão ao oficio de costureira que leva as faculdades de design a formar sobretudo aquelas/aqueles que vão, literalmente, mandar alguém fazer, mas que não colocam a mão na massa? Como dar ordens se você não conhece a fundo o ofício?
De acordo com a Manon Salles a francesa Jeannine Niepceron já teve várias discussões e profundas irritações com os proprietários de etiquetas e marcas famosas para quem trabalhou em São Paulo. A razão? Não levantavam, o bumbum da cadeira, e ficavam ordenando: "faça isto, faça aquilo, traga aquilo que está ali; corte isso, modele aquilo".
Para a francesa Jeannine, a diferença entre a industria da moda brasileira e francesa reside em um único fator, um divisor de água : na França houve uma revolução , a Revolução Francesa, que quebrou com estas hierarquias rígidas, esta supervalorização do diploma de nível terceiro grau e gerou profundo respeito aos oficios de nível técnico: costureiras, bordadeiras, padeiros, etc.
Segundo Manon Salles, ainda há no Brasil, de acordo com a Jeannine, uma relação entre o fazer, botar a mão na massa e o trabalho escravo.
Lembrar , mais uma vez, que o Brasil foi o último pais do mundo a libertar os seus escravos. Mas foram os negros, como bem diz Joaquim Nabuco, que construíram com o trabalho escravo, o nosso país.
As palavras de Joaquim Nabuco, compartilhadas pela escritora Sonia Sant'Anna são:"Tudo o que significa a luta do homem contra a natureza, a conquista do solo para a habitação e cultura, estradas e edifícios, canaviais e cafezais, a casa do senhor e a senzala dos escravos, igrejas e escolas, alfândegas e correios, telégrafos e caminhos de ferro, academias e hospitais, tudo que existe no pais, como resultado do trabalho manual, como emprego de capital, como acumulação de riqueza, não passa de uma doação da raça que trabalha à que faz trabalhar... a raça negra fundou, para outros, uma pátria que ela pode, com muito mais direito, chamar sua".
Joaquim Nabuco - O Abolicionismo.
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Na foto acima, a francesa Jeannine Niepceron e também uma foto de uma das suas aulas de moulage. Fonte: Google
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