terça-feira, 19 de março de 2019

O BRASIL NÃO SABE APRECIAR O QUE TEM




"O novo conceito de patriota: Aquele que ama a pátria alheia."  Moina Lima
  Um dos garotos  que cometeram, há poucos dias, o massacre na região metropolitana de São Paulo, publicou nas redes sociais, fotos com arma, com máscara no rosto  e com camiseta NYC - New York City. 
"É como e o fato de levar consigo a língua do outro sobre o seu seio ou em suas costas, o tornasse tão outro quanto o outro" afirma o professor  Jean Morisset, que vai mais além ao dizer que é a própria estética da pobreza, e o surrealismo da pobreza (inclusive cultural) que leva as pessoas a terem medo da marginalização. "Daí essa fome de querer ser o outro sem o saber, essa fome do inglês como exercício propiciatório, essa sede do outro, para si próprio, mas para se tornar um dos membros do corpo do outro." 

Como se o fato de ser comido pouco a pouco pelo sistema cultural internacional fosse um dia apaziguar essa fome sem nome, que é o medo da marginalidade. O medo de não ser senão ele mesmo. O sentimento de culpa pela sua pobreza, subdesenvolvimento, tal com este é definido pelos outros. O professor Morisset conclui afirmando: "pergunto a mim mesmo o que acontecerá quando o Brasil decidir aplicar a si próprio a "síndrome do chegou". Chegou o Brasil ao Brasil mesmo."

E a indumentária transmite, ou melhor dizendo, comunica, através das camisetas com palavras em inglês, esta síndrome do estrangeirismo que acomete os brasileiros, esta pouca capacidade de enfrentar - cara a cara - a nossa realidade. Ainda é pouca a produção de camisetas com poemas,  versos e ditos dos nossos escritores, poetas, compositores,  etc. Mas também é certo o medo (até vergonha) que o brasileiro tem de se aproximar da sua própria cultura.

Há pouco tempo conversando com um comerciante que vende camisetas ele me disse que "parece que as pessoas gostam de carregar no peito o que não entendem, pois querem fazer de conta que são estrangeiros em sua própria pátria." Este amor pelo estrangeirismo tem raízes no Brasil Colônia. Mas numa próxima postagem, poderemos refletir mais sobre a questão.







Fontes: "Yes, we speak english", Jean Morisset; Modos de Homem, Modas de Mulher, de Gilberto Freyre.
A foto, escaneada e copiada, foi publicada no jornal O Globo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário