segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A ESTÉTICA DA VIOLÊNCIA

Resultado de imagem para carros em cima de calçadas na zona sul Rio de Janeiro

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     Filhotes da violência são a indiferença, a passividade, o avanço da intolerância e o ataque às diferenças.
     De acordo com os alunos de graduação da faculdade de design de moda e do MBA em produção de moda/stylist da Universidade Veiga de Almeida/Instituto Zuzu Angel, a violência já alterou e muito o nosso dia-a-dia, e já transformou as mulheres em "alvo" preferencial dos ladrões. Estatísticas registram um aumento no total de vitimas do sexo feminino nos assaltos nas ruas da cidade do Rio de Janeiro.
     Para se defenderem, muitas mulheres adotaram a película escura (o conhecido insulfilme) nos vidros dos seus carros. Para Leonardo Aguiar, aluno do MBA em stylist  " os carros com vidros escurecidos carregam mortos-vivos, pessoas amedrontadas, acuadas e que temem serem vistas."
       A banalização da violência,a banalização do mal  atinge todas as classes sociais. 
     

     Para a aluna Marcela Silva, da faculdade de design moda da Universidade Veiga de Almeida/Instituto Zuzu Angel, "vivemos hoje uma guerra urbana. E existem algumas regras que ajudam na sobrevivência. Um exemplo destas regras é o não andar com roupas e sapatos caros. "O ideal, segundo Amanda Lourenço da Costa, do MBA em produção de moda/stylist "é usar a moda do medo, que vem a ser discreta, marcada pela presença do jeans, shorts ou das calças leggings e das malhas." A estética do perigo, de acordo com Amanda, também tem levado as mulheres a substituir os saltos altos e finos por confortáveis e não muito caros tênis, que "permitem que se ande mais rápido e até se corra no caso de se necessitar realizar uma 'fuga estratégica'''
     As bolsas transpassadas no corpo também estão sendo muito usadas pelas mulheres, que vivem, como toda população, reféns do medo e expressam sua angústia "na postura tensa, diante dessa lamentável situação" afirma Amanda Lourenço.
     Para a aluna Maria do Carmo Leão, a violência gerou o medo. E o medo, o temor está mudando o comportamento de todos. "A forma de vestir de todos, não só daqueles que andam em transportes coletivos, simplificou-se. E nós mulheres usamos, no ônibus, metro e trens,  a mochila na frente do busto,feito um escudo, para evitar assaltos, que se tornaram tão corriqueiros. "É uma lástima a insegurança, a desconfiança que impera na ex-cidade maravilhosa. 
      E o medo, afirma Maria do Carmo, impera em todos os lugares, em todas as classes sociais. "Até os olhares estão na defensiva, agressivos ou cabisbaixos. De qualquer maneira, poucos carregam a esperança e o otimismo no olhar."
     Atualmente, falta poesia, falta dignidade, falta sonho ou, pior, não existe sonho; falta amor, falta humanismo,falta espiritualidade. As pessoas, de acordo com a aluna Marcela Maia, da faculdade de design de moda da UVA/IZA, brincam, feito crianças, de faz de conta: faz de conta que somos felizes ...
     A estilista Marilia Valls, que fez parte do Grupo Moda Rio nos anos 80 do século XX, aponta que a agressividade também está presente nas atitudes, nas maneiras das pessoas, sejam mulheres, homens,adolescentes ou crianças. "Há agressividade na sujeira que é jogada nas vias públicas; há agressividade ao pedestre quando os carros avançam ou sequer respeitam os sinais de trânsito; há agressividade nas pichações dos monumentos públicos. E o mais grave é que estamos nos acostumando a tudo isto", afirma Marilia Valls.
     As alunas da faculdade de design de moda e do MBA de produção de moda/stylist da Universidade Veiga de Almeida/Instituto Zuzu Angel aprendem, em sala de aula, que estética é leveza, pureza de linhas, pureza de formas e que as pessoas se expressam quando se vestem. Marilia Valls, casada com o artista plástico Eduardo Sued, se diz incomodada com a agressividade da estética atual: "me incomoda os cabelos alisados, feito um capacete." Atualmente, segundo Marilia, há um amor pelo esdrúxulo. "Toda essa gente parece cupim, que se organiza só para fazer sujeira. E o ser humano nasceu para ter dignidade e não apenas para reproduzir hábitos, sem pensar, sem refletir.
     A aluna Catherine Soares Rodrigues (MBA em produção de moda/stylist da UVA/IZA afirma "detestar as palavras grosseiras, o estilo grosseiro, as maneiras grosseiras que vêm sendo, infelizmente, adotadas pelo maioria das pessoas quando estão no espaço público."
     Prédios cheios de grades, cercas elétricas, câmaras para todos os lados, seguranças/milicias e vigias em cada esquina, carros blindados, carros com alarmes - parece que habitamos não uma cidade linda e sim uma prisão, uma cadeia de alta periculosidade. 

     Indaga a aluna Catherine Soares: "somos cidadãs/cidadãos ou somos bandidos? Por que aceitamos nos esconder  atrás das grades? Por que todos os prédios residenciais estão cercados, com grades?
     O medo domina a  todos: ricos e pobres. Há medo mesmo entre os que utilizam carros blindados. Thais de Almeida, cursando o sexto período da faculdade de design de moda UVA/IZA afirma que o medo é tanto, que muitos temem não voltar vivos para casa. "Perdemos o direito de ir e vir. Agora é a lei do medo que domina todos."
     Para a aluna Marina Gomes Pereira, "as pessoas estão perdendo o prazer de se vestir, pois temem os assaltos, os furtos, a violência" Medo e temor são as palavras mais pronunciadas nas ruas do Rio de Janeiro, de acordo com a aluna Rebeca Dohirty. Já Marcela Silva salienta que a pirataria é uma forma de violência, assim como os sequestros relâmpagos. "Todos saem de casa escondendo os documentos, escondendo cartões de crédito, escondendo tudo. Ninguém gosta de chamar a atenção. Quase se pede desculpas por ainda estar vivo", diz Marcela.
     Ilce da Costa Gomes, cita os versos do Rappa: "as grades dos condomínios para trazer proteção, mas também trazem dúvida se é você que está nesta prisão." E conclui dizendo: "as pessoas andam se fechando dentro de si mesmas ou convivem apenas em grupos muito restritos. Todos são vítimas e suspeitos, ao mesmo tempo."
     Perdeu! Perdeu!, berram os assaltantes ao renderem suas vítimas. Perdemos, sim, mas foi o prazer de viver. Perdemos a esperança, perdemos o humanismo. Desejamos, sinceramente, o fim do "gueto" em que vivemos, atualmente. Desejamos que as crianças de hoje aprendam a desenhar um céu azul com sol brilhante ou cheio de estrelas. Pois o que mais se vê nos desenhos das crianças atualmente, sejam faveladas (ou de comunidades) sejam da classe média são homens com revólveres na mão, é tiroteio, é briga, é violência. O estado do Rio de Janeiro precisa redescobrir sua alma feminina, sua sensibilidade, sua beleza.

 (texto escrito para a exposição "Estética da violência" realizada, em 2005 ou 2006 pelas alunas do MBA em produção de moda/stylist da UVA/IZA. Achei este texto por acaso, nos meus papéis, nos meus arquivos, e resolvi colocá-lo aqui, no blog, porque o achei atual, infelizmente. 
      

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http://g1.globo.com/rj/regiao-dos-lagos/noticia/2015/09/mulher-e-barrada-por-detector-e-tira-roupa-em-agencia-bancaria-video.html

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=4441468789114&set=a.3247424578755.147120.1061140870&type=1
Acima, reportagem publicada no jornal O Globo, edição de 16 de setembro de 2015: Vera Verissimo da Fonseca de 85 anos é atropelada e morta - local Leblon, bairro da zona sul do Rio de Janeiro.


http://extra.globo.com/noticias/rio/grupo-faz-arrastao-em-bairros-da-zona-sul-homem-baleado-em-rua-de-botafogo-17546663.html

http://g1.globo.com/musica/rock-in-rio/2015/noticia/2015/09/passageiros-caminho-do-rock-rio-sao-assaltados-na-barra-da-tijuca.html?utm_source=facebook&utm_medium=share-bar-desktop&utm_campaign=share-bar

http://extra.globo.com/casos-de-policia/jovens-da-zona-sul-formam-gangues-em-rede-social-cercam-onibus-na-saida-da-praia-de-copacabana-rv1-1-17551814.html
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10153334317893143&set=a.10150174295913143.306582.652958142&type=1

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