Fiz há dias uma pesquisa na web sobre Margarida Maria Alves. E fiquei (e fico) refletindo sobre a razão que leva as escolas e cursos de design de João Pessoa (PB) a não estimularem as alunas (e alunos) a criarem um estilo inspirado na paraibana que foi assassinada (por homens - matadores de aluguel, pistoleiros) há 15 anos, quando era presidente do Sindicato dos trabalhadores rurais de Lagoa Grande (PB).
Em homenagem a Margarida, nasceu a "Marcha das Margaridas" onde o acessório/estilo marcante é o chapéu de palha ornado com margaridas em flor.
E o chapéu de palha faz parte da cultura paraibana, da cultura nordestina, da cultura nacional. Assim como as margaridas, presentes (ainda) em jardins e quintais não só da Paraíba como também em diversas regiões do país.
Lembro-me de brincar de "bem-me-quer/mal me quer" com margaridas (urbanas) presentes na casa das minhas avós Marieta e Clotilde assim como havia margaridas na casa da minhas tias Noêmia , Hellen e Neisse. Mais além: margaridas havia na casa de meus primos Benjamin e Alice; margaridas havia nas casas dos meus pais em Campina Grande (PB) e em em Alagoinhas (BA); margaridas havia na casa do meu primo Ítalo, margaridas embelezaram a minha infância e adolescência. Será que as margaridas não são mais cultivadas/plantadas na Paraíba? Duvido.Margaridas há sempre à venda nas feiras livres do Rio de Janeiro.
A ausência de estilos inspirados em trabalhadores do campo, em escolas e cursos de design-moda na Paraíba, estado onde há muitos trabalhadores/trabalhadoras rurais, talvez seja em função do olhar de muitos só identificar os estilos dos donos de engenhos de açúcar, dos grandes fazendeiros/latifundiários.
Será que o trabalhador rural é invisível para os criadores da moda nacional?
Será que o olhar dos estilistas e candidatos a estilistas em João Pessoa, Paraíba, só reconhece os movimentos que vêem de cima para baixo? Será que foi por acaso que Margarida foi assassinada, após ter iniciado um forte movimento de baixo para cima?
Margarida liderou, o movimento dos canavieiros por carteira de trabalho assinada e por melhores salários. Simples assim.
Mas donos de engenhos de açúcar, os grandes fazendeiros/latifundiários não a perdoaram: mandaram (eles não sujam suas mãos) assassiná-la.
A herança rural, a herança da agricultura é forte na Paraíba: por que não se cria um estilo que homenageie os trabalhadores do campo?
Vivemos uma época marcada pela globalização: tudo está igual, todo mundo se veste igual - através da fast fashion. Onde anda a nossa identidade no vestir?
Necessitamos buscar as nossas singularidades, sobretudo as regionais, se desejamos conquistar mercado nacional e mercado global.
No filme "Paris a qualquer preço" ("Paris à tout prix"), uma produção recente, de 2013, a marroquina Maya,é a "garota da moda". Ela aplica - na criação de estilos - a história da sua terra , a sua identidade como marroquina e a história do seu povo.
Maya faz um valioso apanhado de tudo que a identifica como marroquina e vence nas passarelas de Paris (França). Vai a dica.
Lembrete: margarida, a flor do "bem que quer, mal me quer" - pode gerar muitos estilos - Basta se querer. E está muito em pauta agora, um tempo onde a ecologia é uma palavra totalmente fashion. Na França foi criada, faz tempo, o estilo calça clochard - que é inspirada nos mendigos, nos moradores de rua. E volta e meia a calça clochard, que já virou um clássico, entra na moda. Vale conferir e refletir.
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