terça-feira, 13 de setembro de 2016

ESTÉTICA GLOBAL DO BRASIL




         Nos anos 70 comecei a trabalhar, como estagiária, na (extinta) Bloch Editores.  Certo dia, o Roberto Barreira, diretor-editorial da Bloch Editores e da revista Desfile me perguntou se eu aceitaria trabalhar produzindo imagens, produzindo fotos de moda. Eu perguntei ao Roberto Barreira o que era aquilo, produção de fotos, pois nunca tinha ouvido falar nada sobre o assunto nas aulas, em grande maioria contendo apenas teorias, que tinha na faculdade de comunicação da UFF (Universidade Federal Fluminense). Roberto me disse de pronto: "é informar através da imagem". Topei, na hora
        E fiz parte da editoria de moda que foi, então, formada na Bloch Editores, em meados da década de 70, que tinha como editora Gilda Chataignier e como subeditora Isa Goldberg. E aí não parei mais. Meus primeiros trabalhos foram nas revistas "Sétimo Céu" e "Amiga" que produziam inclusive fotonovelas nacionais. Coube a mim, no inicio, produzir moda com as atrizes que trabalhavam na TV Globo. 
          As primeiras produções foram realizadas com roupas de então conhecidas confecções, que muitas vezes presenteavam atrizes com peças de suas grifes. Foi o período  que pode ser definido como pré-lançamento de moda pelas novelas. 
   
     
        Pouco tempo depois, os personagens femininos das novelas, sobretudo, na época, os personagens das novelas das oito ou das 20 horas da TV Globo começaram a ditar moda. Vale destacar as meias soquetes de lurex com sapato alto, complemento marcante no guarda-roupa de Julia Matos, personagem de Sonia Braga em "Dancing Days", novela  de Gilberto Braga. Outras novelas de sucesso, na época, "Locomotivas" de Cassiano Gabus Mendes e "Pecado Capital" de Janete Clair. 
       Mas a consagração das novelas da Globo como grandes lançadoras de moda, modismos, estética e comportamento veio nos anos 90.  Os telespectadores (mulheres e homens) passaram a ficar fascinados com os personagens e acabaram levando para as ruas o jeito de ser, o jeito de vestir que viam nas novelas da Globo.  De acordo com o professor Antonio Candido," a novela das oito tornou-se o elo de unificação nacional". Quem diria: até os anos 70, a novela vinda do rádio para a TV,  era dirigida para as donas de casa.
        Há quem diga que a partir dos anos 80 do século XX, as novelas passaram a divulgar mais moda e modismos que as revistas especializadas em moda e estilo e muitos, muitos personagens passaram a ditar moda e modismos. 
        O modo de vestir dos personagens da então novela das oito da noite ou vinte horas, podiam ser vistos nos pontos de ônibus ou em qualquer outro local público. Era a TV Globo começando a se impor como lançadora de moda, modismos, comportamentos, ou seja, a TV Globo lançando a estética nacional. 
         De lá para cá a TV Globo tornou-se a nossa Hollywood: é nos seus estúdios que se formam e se sustentam atrizes, atores, diretores, roteiristas,produtores, figurinistas, músicos, cenógrafos, bailarinos e bailarinas, câmaras,fotógrafos, redatores e pesquisadores. E de acordo com o jornalista Eugênio Bucci "foi a Globo que formatou a fisionomia atual do nosso cinema. "
        "Ao longo desses trinta anos, a Globo formou os atores, abrigou os roteiristas, produziu diretores" afirmou o jornalista Eugênio Bucci em artigo escrito no jornal Folha de São Paulo, em 2002. E eu acrescento: coube à TV Globo também formar figurinistas, cenógrafos e produtores. Muitos talentos que hoje existem 'são filhos'  da Globo, que acabou por abrigar a formação de uma identidade nacional na tevê e no cinema, ou seja, gerou uma identidade nacional através de imagens. 
        Faz um tempo que coube à TV Globo e não mais ao cinema, ser o "celeiro de talentos e de idéias". O filmes, como por exemplo, "Que horas ela chega?", "Eu, tu, eles" e o "Aquarius"  (estrelado por Sonia Braga), assim como várias comédias como, por exemplo "Se eu fosse você" e muitas outras que me fogem, no momento, os títulos,  têm algo  da Globo, pelo menos a produção da Globo filmes junto com o BNDES e a Petrobrás. O que é público, o que é privado?  
        Será que sem a Globo, alguns talentos  presentes em vários desses filmes existiriam no mercado brasileiro? Há um casting mantido/pago pela TV Globo que também trabalha para a Globo filmes e TVs a cabo do sistema Globo. Sem a Globo como sobreviveriam talentosos profissionais? Viver de bico, viver de freela não é fácil. 
         Cabe a muitos artistas de sucesso da Globo (ou da Globo Filmes) determinar o estilo de vestir e de viver, em reportagens editadas em diversas revistas à venda nas bancas ou em site, blogs. Muitas revistas femininas sempre colocam nas suas capas uma atriz cuja personagem está fazendo sucesso em uma novela, geralmente da Globo.É comum atores e atrizes de novelas se tornarem modelos, espelhando um ideal que o público/telespectador (a) deseja/anseia alcançar.Um produto  (pode ser  um óculos, um sapato, uma blusa ou até um corte de cabelo, uma cor de cabelo, um tom de esmalte de unha)  que surge incorporado ao dia-a-dia de um personagem carismático, por quem o público tem simpatia, vira, imediatamente, moda.
          Defesa do cinema já foi uma questão de soberania da identidade nacional. Se a cultura é mercadoria, pode ela, cultura, ser abandonada às leis do mercado? E a Globo possui uma concessão de TV ou será que o governo/Estado é que é uma concessão da Globo?
    Para refletir: na biografia que escreveu sobre a compositora e maestrina carioca Chiquinha Gonzaga (1847-1935), que aliás virou uma bela minissérie na TV Globo, a escritora Edinha Diniz destaca que  "a existência real, concreta, dessa camada entre senhores e escravos é de fundamental importância para pensarmos a nossa cultura. É nela que são recrutados os elementos que passam a desempenhar funções de natureza intelectual e artística - portanto os produtores de cultura - e dela emergem também os consumidores de cultura (...) . O fascínio que essas novas atividades exercem nos elementos da camada intermediária é motivado pelo fato de a produção artística e intelectual representar um eficiente canal de ascensão e prestígio social. Ela possibilita a realização individual e apresenta-se perfeitamente compatível com os padrões  da classe dominante, pois não se tratava de um trabalho físico, valorado socialmente como degradante. (...) O panorama cultural no Brasil,  resumia-se grosseiramente na produção e consumo de uma cultura nitidamente européia pela camada senhorial e basicamente africana pela camada escrava, embora não queiramos subestimar a forte dominância da cultura branca sobre a outra."       
      
 Escaneadas, algumas produções que realizei, nos anos 70, para as revistas "Amiga" e "Setimo Céu" com algumas atrizes então (e algumas ainda) contratadas pela TV Globo Eva Vilma, Rosamaria Murtinho,Neila Tavares, Maria Cristina Nunes, Nivia Maria.   E também um link para uma reportagem sobre os figurinos da novela "Velho Chico", novela que traz em um dos papéis centrais ator que está no filme "Aquarius", produção, o de sempre: Globo Filmes junto inclusive com o BNDES e a Petrobrás. Não faço critica alguma, apenas uma constatação. Nada mais.


Livro: Chiquinha Gonzaga, uma historia de vida de Edinha Diniz - Nova edição,revista e atualizada - Instituto Moreira Salles - IMS - Zahar. 2012.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1687293314926805&set=a.1381490058840467.1073741828.100009384571028&type=3

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10207484244401231&set=pcb.10207484256081523&type=3 - link dos figurinos da novela "Velho Chico", incríveis, aliás.














 ://tvefamosos.uol.com.br/noticias/redacao/2016/09/12/para-figurinista-velho-chico-estimula-reflexao-ao-resistir-a-criticas.htm

http://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2016/09/17/wagner-diz-que-empresas-estao-boicotando-seu-filme-sobre-carlos-marighella.htm





http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/grupo-globo-adquire-controle-do-jornal-valor-economico/

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