terça-feira, 9 de abril de 2019

ELAS EM PAUTA: AS EXCLUÍDAS























Primeira carta: "Sou pobre, tenho 58 anos, moro numa favela do Rio de Janeiro. Estou juntando dinheiro para comprar um pano e fazer um taier (tailleur), numa cor pastel ou numa cor clara. Sou muito pobre. Tenho 1,55m de altura. (...)Se você puder ajudar esta pessoa velha, sem renda financeira, a fazer uma roupa não muito cara ... Confio no seu bom gosto."

Segunda Carta: "Fiquei tão contente com a sua carta que nem jantei. Li e reli sua carta muitas vezes. Não repare nos erros de português, porque não sei escrever direito. Saí da escola com 9 anos para trabalhar em casa de familia e não pude continuar estudando. (...) Moro há 32 anos numa favela na Ilha do Governador e tenho 4 filhos e um marido alcoólatra. " (N.S.P - Ilha do Governador - RJ - 1991)


As cartas acimas estão na página 71 do livro "Vista-se como você é", editora LP&M (editado em 1997) por mim escrito, baseado em algumas das milhares de cartas de leitoras (e alguns leitores) que eu recebia, diariamente, quando trabalhei, respondendo a cartas para  a coluna "Lição de Moda", que eu  assinava como Ruth Tavares - (meu nome e o sobrenome de solteira da minha mãe, Aglaé), na revista Manequim, da Editora Abril. Na ex- Editora Bloch, durante um período, também cheguei a responder a cartas de leitoras. 
Tenho a maioria das cartas ainda comigo, guardadas.

Mas retornando à carta enviada pela empregada doméstica, é o caso de pensar numa industria de moda que nunca se preocupou e continua sem preocupar  em vender "estética e beleza" a preços acessíveis para a maioria da população, incluindo nossa classe média, que se acha rica, mas não é...!!
Aqui, no Rio de Janeiro, o que você tem, sobretudo atualmente é: camelôs vendendo roupas no centro da cidade e em alguns bairros da zona sul, zona oeste, zona norte , etc. O outro lado da moeda, são as lojas caras como por exemplo a Richards. Falo da Richards porque ontem para uma das lojas da Richards (no Rio de Janeiro) telefonei para saber o preço de um casaco, dobrável, fácil de guardar na bolsa,de nylon, apropriado para dias de clima incerto, de chuvas. Liguei e perguntei o preço: a vendedora me disse "Setecentos e tantos reais ..." Aí eu disse: "caro, não? E a vendedora me indagou: caro? Mas há outros mais caros, acolchoados e tal. Achei um deboche.
Pois é, no capitalismo mambembe à brasileira, o/a consumidor (a) vale pelo que tem no bolso Se tem dinheiro, tratamento tapete vermelho. Se é duro, que compre no camelô, que compre em lojas populares, onde não há, muitas vezes, qualquer cuidado com a modelagem: há roupas literalmente sacos, ou muito justas, em tecidos sintéticos, em padronagens ou estamparias feias, de carregação.
Infelizmente , aqui continuamos sendo um país onde a desigualdade de classe se lê, de cara, na postura, no vestir, na estética. Assim, como era nos tempos em que havia, oficialmente, senhores/senhoras e escravas/escravos: Casa Grande e Senzala.

A nossa industria de moda necessita pensar em cooperativas que reúna fabricantes e criadores de roupas populares, com qualidade. Eu, como jornalista, professora de historia da moda/produção de moda, e escritora, gostaria de trabalhar numa cooperativa destas. Fica a dica.















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