domingo, 2 de agosto de 2015

NO RIO DE JANEIRO DO SÉCULO XXI - A TAPIOCA É CELEBRIDADE!

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     Nasci em João Pessoa, na Paraíba , em 9 de fevereiro, dia em que também nasceu a imortal Carmem Miranda e o senhor José Antonio, porteiro do prédio onde moro, atualmente no Rio de Janeiro.  
     Desde criancinha me acostumei a comer tapioca, cuscuz banhado no coco,  jerimum, feijão de corda, queijo coalho, carne de sol, água de coco, manteiga de garrafa, iguarias que na época só frequentavam as mesas dos nordestinos, pobres, remediados ou ricos.
     

     Quando eu tinha apenas dois anos de idade, a minha familia que incluia três irmãos mais velhos (Rachel, Antonio Guilherme e Ireneo Ceciliano), meus pais (Guilherme e Aglaé) e a Leda que era a babá dos meus irmãos mais velhos, se mudou para a cidade de Alagoinha, interior da Bahia, onde meu pai - Guilherme - e seu único irmão José, compraram dois cortumes - São Paulo e Santa Cruz . 
      Meu pai assumiu a direção geral  dos cortumes e junto com o seu irmão José escolheu quatro profissionais com excelentes referências, profissionais sérios, capacitados para assumir a administração dos cortumes.
     Só que de repente, não mais do que de repente meu pai, que era formado em medicina,  descobriu falhas na administração: obras haviam sido super faturadas, matérias primas e produtos idem, dinheiro havia sido desviado pelos quatros ultra recomendados administradores. 
     Na época, anos 50, isto já era algo comum e não havia como realizar uma operação lava-jato ... O dinheiro havia sumido, desaparecido e havia dívidas altas, não pagas pelos diretores junto ao Banco do Brasil. Conclusão: meu pai Guilherme e meu tio José tiveram que entregar os cortumes ao Banco do Brasil e assumir o pagamento das dividas contraídas pelos diretores, que sumiram com o dinheiro. 
     Sem um tostão e com cinco filhos, todos consumidores de tapioca, jerimum, cuscuz etc  (meu irmão Marcelo, o caçula, havia nascido na Bahia) meu pai veio ao Rio de Janeiro, na época a capital do país para fazer um concurso para a ONU a fim de assumir um cargo no CIME - Comitê Intergovernamental para Migrações Européias. Papai não só foi aprovado, como tirou o primeiro lugar no concurso. Foi uma alegria geral.
        Chamado para trabalhar em Roma (na Itália), meu pai foi na frente, para alugar um apartamento; minha mãe foi logo a seguir com dois dos meus três irmãos mais velhos. E passados uns quinze dias eu fui junto  Leda e meus irmãos Antonio Guilherme, o mais velho, e Marcelo, o baiano, caçula. 
    Lembro-me até hoje, a longa viagem no avião da Panair, com escala em Dacar (África) que passou por uma séria turbulência e eu acabei derramando café com leite no único casaco de lã grossa que eu tinha para enfrentar o frio europeu em outubro/novembro, um presente da minha avó Marieta. 
        Ao chegar em Roma, eu, na época com seis anos, estranhei a mudança de clima - acostumada a morar numa casa, às brincadeiras nas ruas de Alagoinha, às praias, ao verão ensolarado quase permanente, ao convívio intenso com a natureza exuberante . 
     Em Roma, fui morar em um apartamento. A língua italiana, eu nada sabia falar. 
     Mas passados uns 10 dias, fui matriculada em uma escola pública que eu simplesmente adorava: conviviam comigo a filha da costureira, o filho do operário, a filha de um empresário, o filho de um técnico, outro era filho de economista e/ou engenheiro. Era tudo junto e misturado. 
     Foi nesta escola, que aprendi a escrever as primeiras letras e aprendi a ler. Adorava ir às aulas. Só me chateava quando estava no meio de uma lição e a coordenação da escola me chamava  para que eu ajudasse a "limpar" meu irmão Marcelo, que também frequentava a mesma escola, só que no maternal e volta e meia, se esquecia que não usava mais fraldas e ... fazia cocô na roupa...  Lá ia eu ajudar. Pois o colégio tinha excelentes professores (homens e mulheres) mas não tinha serviçais ou assistentes.
      Passados uns três ou quatro anos, meu pai resolveu pedir à ONU para retornar para o Brasil, e aqui, no Rio de Janeiro ser o diretor do CIME (Comitê Intergovernamental para Migrações Européias). 
     Eu cheguei sem saber falar uma palavra em português, mas falava e muito em italiano, assim como escrevia em italiano. 
       Vovò Clotilde, que era diretora de uma escola em João Pessoa, veio morar com a minha tia Neisse no Rio de Janeiro e me deu muitas aulas particulares , para me alfabetizar em português. Quando eu estava já falando e escrevendo em português meus pais me matricularam em um colégio de freiras. 
     O escolhido foi o então famoso "Sacré-Coeur de Marie" e para mim foi um choque ter que ir para um colégio que tinha quatro uniformes (verão, inverno, gala e esporte), onde não havia um pobre, nem negro, nem filhos de pais separados e nem meninos. O colégio era exclusivo para meninas e, de acordo com as freiras, "tudo era pecado.  E se pecava por pensamento, palavras e obras...." No currículo incluíam "aulas de boas maneiras", "aulas de comportamento", e éramos preparadas sobretudo para as "prendas do lar".  
    Fiquei lá seis anos, mas foram seis anos marcantes, sempre me senti  "gauche"como bem diz o poeta. 
     Afinal, vinha de um colégio público, onde todos eram cidadãos e o estado era laico. 
     Continuei indo  nas férias de julho e do final de ano para a casa da minha avó Marieta, em João Pessoa (PB) e voltava com sotaque nordestino, com o sabor de tapioca na boca, desejando comer mais. Algumas colegas de turma do  "Sacré-Coeur de Marie" não me perdoavam: quando eu aparecia, elas dançavam o xaxado, faziam o que hoje se chama de bullying
     E eu me aborrecia: é chato ser "gauche", não ser amada pela maioria. Mas a tapioca, o jerimum, o cuscuz, o açúcar mascavo e o arroz integral (que minha avó Marieta comprava por serem mais baratos), a carne de sol, o feijão de corda, o queijo coalho, a manteiga de garrafa, tudo me dava um enorme prazer, ao mesmo tempo em que levavam minhas colegas de turma a fazer "gozações" imensas. 
     Afinal, o nordeste era para elas, alunas do "Sacré-Coeur de Marie" o fim do mundo. O chic era a Europa, da onde eu tinha vindo, após pegar um Ita no nordeste  ....
       Concluindo: atualmente a tapioca está cotadíssima. Ontem vi em Ipanema,zona sul do Rio de Janeiro, em uma casa de sucos bastante badalada, tapiocas para todos os gostos: tapioca na manteiga (a mais simples, que sempre comi, desde criancinha) junto a outras tapiocas, criações do sudeste maravilha: tapioca napolitana, tapioca com ovo,tapioca com peito de peru e cottage, tapioca vegetariana, tapioca com filé mignon, tapioca com cenoura, ricota e passas. Ou seja, a tapioca é o hit do momento. É a panqueca nacional que mais deu certo, que não tem glutén,  não engorda e  pode ser consumida por diabéticos, sem medo de ser feliz. E descobriram tudo isto, agora no século XXI. 
         Portanto, a moda influencia também a gastronomia, como a todas as outras esferas da vida. O que não é aceito em um determinado momento, passa a ser aceito/copiado, passa a ser moda em um outro momento. 

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