A MAIS SINGELA HOMENAGEM

          Eu me sentava para aprender com a Daniele Galvão Ornellas e com todas as minhas alunas. Não fiquei só de pé, dando aula. Gostava muito, volto a dizer, de me sentar com minhas alunas, de ouvi-las. Uso o gênero feminino porque a maioria das turmas da pós-graduação em produção de moda, (curso criado em 2002 pelo Instituto Zuzu Angel em parceria com a Universidade Veiga de Almeida -UVA) era composta, majoritariamente , por mulheres.

                   Daniele Galvão Ornellas era uma aluna extremamente participativa. Ex-estudante de veterinária que cursou até o terceiro ano, Daniele amava pintar camisetas e blusas. E ela não só pintava como criava as modelagens das blusas e camisetas onde expressava a sua arte.

                Criei, na época, um grupo de estudos de moda, que se reunia, uma vez por semana, após um dia de aula, aos sábados.
       
             As aulas começavam sempre aos sábados de manhã e iam até umas 16/17 horas, com intervalo para almoço. Haviam muitos professores (as)  comprometidos (as), com a aprendizagem, com o diálogo, com a troca aluna-professor (a)  neste curso de pós-graduação que comecei a coordenar, a convite do Instituto Zuzu Angel, em 2002.

             Aqui, minha singela homenagem à minha querida ex-aluna, falecida em 2008. Sua dissertação de pós-graduação em produção de moda no IZA/UVA, tornou-se um livro, "Art  Déco na Moda", uma homenagem da família e dos amigos mais próximos, que participaram  da sua elaboração, à nossa inesquecível Daniele. Colaborei na edição do livro, onde há uma apresentação, por mim escrita e que aqui reproduzo:


     "Acaso você já pensou utilizando imagens no lugar de palavras?

       As informações que o ser humano recebe são, em sua maioria, predominantemente, visuais. As imagens estão no nosso dia-a-dia através dos modernos smartphones, Ipads, computadorers, tevês, vídeos-games, fotos digitais. E a roupa, que cobre/descobre o corpo, utilizando a linguagem do tempo também é uma forma de comunicação. Que o digam os hippies dos anos 60/70, que o digam os punks, que o digam os budistas. Ao vestir um terno, o homem se diz, sem pronunciar uma palavra "um homem de negócios", ao vestir um tailleur, a mulher se diz uma executiva, uma profissional liberal.

          Daniele Galvão Ornellas nunca ficou imune ao comportamento dos seus semelhantes. Humanista, optou por estudar design de moda. Daniele gostava de gente, de bichos, de um bom papo, de ter amigos. Daniele amava seu ofício, a sua profissão. Suas mãos geraram estampas em blusas. Estampas abstratas que ela criava e levava para mostrar em sala de aula. Eu tive o prazer de ser professora e orientadora da Daniele na pós-graduação de produção de moda/stylist da Universidade Veiga de Almeida.

          E quando falo da Daniele sinto-a próxima, vejo-a mobilizada, interessada, prestando atenção às aula, se relacionando com as suas colegas de turma e, sobretudo acreditando nos seus sonhos. Disse a imortal atriz Katherine Hepburn"o que importa não é o que você faz na sua vida, e sim o que você consegue completar." Daniele realizou, em um curto espaço de tempo, uma trajetória profissional, na qual deixou suas marcas. Uma delas é esta monografia que aborda o assunto "arte e moda" tão atual. De acordo com o poeta Mario Quintana, "todas as religiões dizem que estamos de passagem no mundo. E é isto que faz querermos tanto a vida passageira." E cá entre nós, existe algo mais passageiro do que a moda, a maneira de nos vestirmos? Por isto, creio, que a moda imita a vida. E Daniele sabia disto. E como..."

          Para você, querida ex-aluna, o meu carinho, eterno."

                            Ruth Joffily - Rio de Janeiro, RJ, 2013



Abaixo, escaneadas, foto de Daniele que está no livro "Art Decó na moda" e uma parte do programa da pós-graduação IZA/UVA, por mim coordenado, que ela cursou. Copiadas, frases de Paulo Freire, imortal educador, que muito admiro.