terça-feira, 23 de setembro de 2014

RHODIA, MARIE RUCKI E A MODA BRASILEIRA






     Os estilistas de moda brasileiros, embora sejam muito criativos, surpreendem a francesa Marie Rucki, responsável pelo Studio Berçot de Paris, importante escola de criação no campo de moda. 
     


     "Eles, muitas vezes são tímidos. Ficam preocupados em observar a moda européia, quando existe aqui uma integração de informação de nível internacional, ao lado das próprias características locais", explica.
     Marie Rucki está encerrando o curso de estilismo que desenvolve no Brasil desde 1979, a convite da Rhodia e da CIT (Coordenação Industrial Têxtil), organismo integrado por 503 empresas vinculadas, direta ou indiretamente, à área de moda.
     Os 68 alunos das novas turmas de Marie Rucki, profissionais indicados por empresas associadas à CIT, receberam um conselho durante as aulas ministradas na Casa Rhodia, em São Paulo: "Explorem sua criatividade."
   
     A estilista afirma que muitas coisas mudaram, positivamente, na moda brasileira, indicando um esforço de avanço e de domesticação das idéias. 
     "Podemos considerar que um país absorveu a moda quando ela compõe uma vestimenta básica, que alcance todos os segmentos sociais. É preciso saber usar meios diferentes, em função dos meios materiais das pessoas", comenta.

     Os estilistas brasileiros, diz ela, devem se preocupar basicamente com a sensibilidade, a tradição e a cultura existentes no País, para que ofereçam uma contribuição adicional à moda universal. 
      
     "É preciso olhar para aquilo que se tem aqui. Eu tenho aproveitado isso durante meus cursos no Brasil, que proporcionam um intercâmbio de informações. A França, que é um centro da moda mundial, tem ruelas, é escura. O Brasil tem muita vegetação, muita luz, um ambiente não europeu. As pesquisas no exterior são necessárias, é verdade, mas devem ser repensadas."

     Um estilista, segundo Marie Rucki, é como um pintor. "Ele faz parte de coisas que já estão presentes em seu universo. Estilismo é, essencialmente, um estado de espírito. É a aptidão de conceber e difundir a visão pessoal por intermédio das influências circunstanciais que envolvem tanto o individuo e , portanto, o estilista, como a comunidade."

UMA BOA COLEÇÃO

     Na moda, o estilismo é antes de tudo uma escolha de matérias, formas, cores, influências e tendências diversas, de acordo com a visão de Marie Rucki. "Assim uma boa coleção deve ser lógica, clara de compreensão. Todos os elementos envolvidos, desde os tecidos, a cor, os calçados e o manequim devem estar integrados. O estilista deve saber para quem colocar sua moda, sem fazer concessões bobas. As cores devem corresponder à ideia, a ideia à forma; a forma ao corte; tudo tem de estar encadeado."
     
     O estilista , ensina Marie Rucki deve estar sempre um passo à frente. "Tem que estudar soluções de moda que se adaptem à indústria. E diminuir os acidentes da moda, embora deva apresentar previsões muito antecipadas. Às vezes, há idéias muito boas, mas prematuras. Elas precisam chegar nas épocas desejadas pela população. Por isso, a indústria não impõe moda. Não é tão simples assim."

OS COPISTAS

     A estilista francesa destaca que a falta de técnica e de cultura na moda são imperdoáveis. 
     "É preciso ver coisas, museus, rever diferentes imagens, ter a mente aberta para tudo o que acontece. A moda atual tem pulsações do que é eterno e do que é novo. A cópia é o grande drama de um estilista consagrado. Copiado, ele pode se tornar ultrapassado antes mesmo de concretizar sua ideia de coleção. Os que copiam estão sempre atrasados."
     
     Há, porém, os que não podem ser confundidos com os copistas. "São aqueles que pegam uma idéia central e trabalham sobre ela", esclarece Marie Rucki, evitando citar exemplos de sua própria área de atuação. "Picasso, um grande artista, criou o quadro "As Meninas" inspirado em Velasquez. Fez uma obra baseada em outra, re-expressando-a de acordo com sua própria sensibilidade."

     Picasso, entretanto, é um criador. E um criador, na opinião de Marie Rucki, é capaz de realizar, no exato momento, aquilo que todos esperam, mas não conseguem concretizar. "Criação não é extravagância. É a construção de algo que não se tem, mas com dados conhecidos, pois roupa é sempre roupa. Muitos estilistas não são criadores, pois jamais se perguntaram sobre o que gostam."



     
     Texto da Rhodia, anos 80 - São Paulo, que encontrei nos meus arquivos.Repórter: José Aparecido Miguel.








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