quinta-feira, 21 de julho de 2016

(...) E O NOSSO COLONIALISMO INCURÁVEL !!



           "Papai, a gente não pode nem ...nada ...!" Com imensa dificuldade para respirar, meu irmão Antonio Guilherme assim definiu a sua falta de ar, a falta de fôlego provocadas por uma pneumonia que o deixou prostrado, sem forças para brincar, quando ainda estava com apenas três anos de idade. Eu só nasceria seis anos depois. Mas a história da pneumonia dupla do meu irmão correu, durante alguns anos, de boca em boca entre os meus outros irmãos mais velhos, primos, parentes e amigos da família. Diziam (e ainda dizem) que por pouco, muito pouco, ele não tinha morrido ... asfixiado ...!
          
          Lembrei-me desse fato, que faz parte da minha crônica familiar, quando comecei a ler os livros sobre a história da imprensa no Brasil e também várias anotações sobre a história da moda nacional, para fazer uma correlação de uma área com a outra. Temas aparentemente distantes, mas só aparentemente ... Na verdade, o estilo (de escrever, de vestir) assim como a estética viveram aprisionados, com pouco fôlego, absolutamente reprimidos desde os seus primórdios. Leia-se desde o Brasil Colônia, quando ler, saber e ter conhecimentos, inclusive estéticos,  era um privilégio de poucos, muito poucos. A maioria vivia sufocada/abafada pelo poder que jamais permitia que os seus "súditos/subordinados" tivessem acesso à educação (privilégio de uma minoria aristocrática) ao saber, à informação e, consequentemente, pudessem "respirar" livremente.
          A imprensa surgiu na mesma época em que o Brasil foi descoberto e ela surge para servir à ascensão da burguesia. E os portugueses ocupam a nova terra ou o novo mundo -ou seja , o Brasil - na época da expansão do capital comercial, que também gerou, na Europa, o surto da arte gráfica.
          Em Portugal, na época do descobrimento do Brasil, os livros e os impressos estavam sujeitos a três censuras: a episcopal ou do ordinário, a da inquisição e a régia. A partir do ano de 1624 (século XVII) os livros em Portugal dependiam das autoridades reconhecidas pelo Estado, entre as quais estava a igreja. Consequentemente, qualquer livro, qualquer impresso, para circular, dependia da Curia Romana. Coube ao Marquês de Pombal, em 1768 (ou seja, 21 anos antes da Revolução Francesa, que entregou os poderes políticos e econômicos à burguesia) encerrar esse período substituindo-o pela "real mesa censória" que vigorou até 1787
          Se na metrópole eram essas as condições, não fica difícil calcular como eram perseguidos e proibidos todo e qualquer impresso no Brasil, uma colônia que iniciou sua existência com o escravismo.
          Do século XVI até o final do século XVIII os livros eram vistos com desconfiança no Brasil. Só era natural nas mãos dos religiosos e até aceito como peculiar ao seu ofício.
          Para o historiador Luiz Edmundo, Portugal desejava manter o Brasil-Colônia atada ao seu domínio. Não queria, em hipótese alguma, "arrancá-la da ignorância. A ordem que vinha da metrópole era a de erigir a ignorância como virtude. Na carta Guia dos Casados, de 1650, D. Francisco Manoel de Mello - que viveu durante algum tempo no Brasil - prega a ignorância da mulher como um fundamento  (grifo meu) da sua virtude. Afirma D. Manoel de Mello: "guarde-se todo homem da mula que faz hiiim e da mulher que sabe latim ..."
          Assim, os portugueses, baseados em conservadores pensadores católicos unem  a ignorância à humildade e à conformação com a sorte: "os males do mundo só no céu tem cura. As criaturas devem se conformar com a vida que lhes cabe."
          No livro Grandes Vocações - 1 - Libertadores, Viriato Correia escreve sobre a vida de Tiradentes. E aqui destaco o seguinte trecho: " Um povo instruído é sempre um povo que exige liberdade, e o Governo não abria escolas para instruir o povo. (...) O brasileiro não tinha direito a nada. Ter nascido no Brasil era um motivo para não obter promoção no exército. Para os donos do país, os brasileiros só serviam para pagar impostos. E que impostos! (...) Os donos do Brasil procuravam tirar o máximo do trabalho dos brasileiros. E proibiam tudo, tudo mesmo (...) Proibiam livros, proibiam alfabetização, proibiam leituras, proibiam o saber (obra do demônio). 



Acima, um pequeno trecho da minha dissertação de mestrado escrita e entregue em 2002, ano em que finalizei o mestrado em "Comunicação e Cultura", na UFRJ. Reproduzo aqui porque achei atuais as questões levantadas. E também para "matar" um pouco as saudades do meu irmão Antonio Guilherme, falecido em 2007. Continuarei um pouco mais na próxima postagem. 



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