quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

DOROTHY STANG, LUTADORA INESQUECÍVEL


      Em 1992 conheci a missionária Dorothy Stang. Durante alguns anos trocamos correspondência, trocamos idéias,trocamos livros. 
 
     

     No Pará, ela trabalhava também com um grupo de mulheres do campo. Ela me dizia que a autoestima destas mulheres era  muito baixa, e que desejava trocar idéias com elas sobre estética, beleza. Mas como falar sobre o assunto? A história só pode ser contada pelos vitoriosos? 
      Trocamos informações. Trocamos leituras. Falamos sobre o artesanato, falamos sobre a beleza,falamos sobre moda e ética, sobre moda e artesanato, sobre moda e cultura. Refletimos sobre moda como uma manifestação coletiva de uma cultura. Refletimos sobre os valores de beleza que são impostos à nós, mulheres.
     Inspirada nas poucas, mas preciosas informações que trocamos, realizei dois trabalhos em sala de aula, na Universidade Veiga de Almeida, no bairro da Tijuca (RJ). Um deles foi sobre "minha roupa inesquecível": Nem sempre o que guardamos na memória está associado ao luxo, à riqueza. A roupa inesquecível tem a ver com acontecimentos marcantes, com a emoção, com os sentimentos, com a cultura, com a história/estória bem vivida. O segundo trabalho foi sobre a importância da costureira, oficio que gera renda para milhares de famílias neste imenso Brasil. 

     Da Universidade Veiga de Almeida acabei sendo demitida pelo telefone, em 2008. Minha mãe, na época, me disse: "que covardia, minha filha, demitir, após treze anos de trabalho, pelo telefone ...." E foi uma outra professora , ou seja uma outra mulher que me demitiu, pelo telefone. Ou seja,  nós mulheres somos carrascos de nós mesmas, infelizmente. 
        
     O vestir está associado à cultura dos seres humanos, porque a criança, ao nascer e durante uma parte da infância, necessita dos pais para colocar ou tirar uma roupa. Aos poucos, à medida que vai ganhando desenvoltura de movimento, ela conquista a capacidade  de se vestir, sozinha. Mas o gosto, a estética. muito vem do que nos é transmitido pela cultura familiar, pela cultura local , de onde nascemos. 
     Com a  globalização, tentam nos impor, o tempo todo, valores estéticos que não nos pertencem. E se impõe a muitas mulheres, "uma maneira correta" de se vestir, que está associada aos "mandamentos" estéticos, que são sempre escritos pelos vencedores. 
     Há alguns meses, li, em um muro em Campo Grande (RJ) a seguinte frase: "se a aparência explicasse a essência, o saber seria desnecessário."


  Escaneado está uma das correspondências que  recebi da Dorothy Stang, morta com sete tiros no dia 12 de fevereiro de 2005.  De acordo com Frei Betto, em artigo no jornal O Globo, edição de 12 de fevereiro de 2015, "a impunidade faz do Brasil uma nação violenta." E há de se destacar que a omissão faz com que a violência aumente a cada dia.
      Emoldurei uma das correspondências que recebi da missionária Dorothy Stang e para mim ela é uma santa, um santo ser humano que lutou e jamais abandonou "os agricultores desprotegidos no meio da floresta".  E falar e pensar nela traz lembranças e emoções.








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