UMA BOCA PUXA A OUTRA/A MOUTH PULLS ANOTHER

     Bocas que saltam para a transcendência, que vão além do ditado popular: "quem tem boca vai a Roma." Ditado gerado em tempos idos, quando Roma representava (sobretudo no imaginário) o centro do mundo.
     
     Bocas que dispensam legendas; bocas que ressoam.
     Bocas que independem de credo, raça ou gênero.
     Bocas-lúcidas. 
                                              Bocas-lúdicas que saem da imaginação; bocas multicoloridas em resina com tinta automativa.
     Bocas que transformam palavras em imagens.
      Bocas que se abrem para quem as tocam e para quem as contempla.
     Bocas prontas para serem manuseadas.
      Bocas abertas.
      Bocas camaleoas; ora viram borboletas, ora viram cata-ventos.
       Bocas em poesia flagradas no meio do jardim (Monumento aos Pracinhas, Aterro - Flamengo, RJ) onde recebem sol, chuva, luz natural e são tocadas. São esculturas-bocas que se expõem o tempo todo, sem medo.
     É uma explosão do diálogo livre e irrequieto, que ficou bem instalado no "museu a céu aberto", gerado pela artista plástica Mazeredo, no Aterro do Flamengo.
     Para Mazeredo, arte e natureza andam lado a lado: uma espelha a outra.
      Autêntica humanista, Mazeredo nos traz as bocas-esculturas que falam dos sentimentos: amizade, felicidade, companheirismo, amor fraterno, amor filial, amor em todas as suas nuances, falados no boca a boca, o infantil "telefone sem fio", a primeira forma de divulgação criada pelo ser humano. 
     Falam também (por que não?) da fofoca, do disse-que-me disse, da mentira, da inveja, da traição e falam da boca que "segura o não dito", dando um nó na garganta.
     Todos os sentimentos humanos estão presentes nas bocas que transbordam vida.
     No tempo das telas planas, das telas-monitores da internet, por onde as pessoas crêem que dialogam e se vêem o tempo todo. No tempo do Google-Rei, sucedendo Deus e a ciência.
     No tempo em que tudo deve ser explicado, a artista plástica Mazeredo nos diz que tudo deve ser sentido e sonhado.
     Na verdade, Mazeredo, através de suas bocas-esculturas, pede para confiarmos em nós mesmos e no poder pleno da criação.

        Abaixo, o mesmo texto em inglês:
    
     " Mouths that leap into transcendence;that go beyond the common phrase: "better ask than go astray". An ancient proverb, fron the time where Rome represented the very center of the world (including in imagination).
      Mouths that do not bear the same repertoire. Plural Mouths.
       Mouths that do not need subtitles; mouths that resonate.
       Mouths that are independent of faith, race or gender.
        Lucid mouths.
         Illusionary mouths that come out of imagination; multicolored mouths made of resin and automobile paint.
         Mouth that morph words into images
         Mouths that open to whoever touch or contemplate them
          Mouths ready to me handled
           Open Mouths
           Changeling mouths: becoming either butteflies or windmills.
            Mouth of poetry found in the middle of the garden Monument to Soldiers, Aterro - Flamengo, RJ) where they receive sunlight, rain, natural light and are touched. Mouth-sculptures which are exposed all the time, fearlessly.
          An explosion of free and restless dialogue, which became well installed in the "outdoor museum" generated by artist Mazaredo, at the Aterro do Flamengo.
          For Mazeredo, art and nature walk side by side: one is the mirror of the other.
        An authentic humanist, Mazeredo brings us the mouth-sculptures which bring about feelings:friendship, happiness, campanionship, brotherly love, filial love, love in all layers, spoken from mouth to mouth, the childhood game of passing spoken messages to each other,the first form of publishing created by man.
      They also speak (why not?) about gossip, spread stories, lies, envy, betrayal and the mouth that "holds its tongue", twisting the throat with unspoken words.
      All human feelings are present in these mouths that exhale life.
       In the era of flat screens, internet monitor screens, where people believe they talk and see each other all the time, in teh era of the "King Google", succeeding God and science.
        At the time where everything must be explained, the artist Mazeredo tells us everything must be felt and dreamed.
          In truth, Mazeredo, through her mouth mouth sculptures, asks us to trust in ourselves and the divine power of creation."

Texto que escrevi para a exposição "Diálogo (Dialogue) da artista plástica Mazeredo, 2013. Primeira edição do livro, com textos de  Mário Margutti e Mazeredo, com versão em inglês, data de 29 de novembro de 2013.