domingo, 23 de abril de 2017

COMPLEXO DE INFERIORIDADE



     A moda é uma porta aberta para uma forma de ser, para o espírito de uma época, faz parte da trama da vida. A moda representa muito mais do que somente cobrir um corpo por necessidade ou vaidade. Do momento em que nascemos até a nossa morte estamos sempre envoltos em tecidos, naturais ou sintéticos.

   

     Moda não se restringe ao que vestimos. Há as palavras da moda, os restaurantes ou os botequins da moda, as pessoas que estão na moda, ou seja, as pessoas que estão em evidência.Há também os filmes, músicas, arquitetura, posturas, livros e autores (as) atores/atrizes da moda. 
      A moda espelha a vida como ela é, passageira e cambiante. No Brasil, exatamente por espelhar a vida, a  moda também espelha o nosso complexo de inferioridade, o nosso viralatismo: tudo que tem nome estrangeiro (ou vem de fora, por exemplo, de Miami) é melhor. 
      
     O escritor  Alberto Mussa em "Decálogo do leitor" diz:
"(...) Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira. Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX, que foi Machado de Assis; e um dos cinco maiores do século XX, que foram Borges, Perec, Kafka, Bioy Casares e Guimarães Rosa. Temos um dos quatro maiores épicos ocidentais, que foram Homero, Dante, Camões e Jorge de Lima. E temos um dos três maiores dramaturgos de todos os tempos que foram Sófocles, Shakespeare e Nelson Rodrigues."
     
     Afirma Alberto Mussa: "(..) Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmo autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crônicas, poemas e peças de teatro. Nenhum gênero é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de gênero: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação cientifica, autoajuda - tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem que ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção. (....) 
    Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente. Não se intimide quando um especialista diz que determinado autor é um gênio, e que o livro do gênio é historicamente fundamental."
     Para o escritor Alberto Mussa, o (a) leitor (a) deve buscar  a diversidade de gêneros e estilos. 
     Pois faço aqui  minhas, as palavras do Alberto Mussa e digo que o mesmo conselho se aplica ao modo de  vestir: é necessário diversificar gêneros e estilos. 
     Mas infelizmente o que se vê, nas ruas, é um estilo homogênico, igual para todas. No momento, continuam em voga as calças de lycra super ajustadas ao corpo e shortinhos que deixam bumbum em evidência total. E foi este estilo "das amélias às avessas, onde a própria mulher virou o bolo (com ou sem silicone),é que levou o artista plastico Miguel Paiva a dizer, via quadrinhos (escaneados abaixo) que o Brasil "é um ótimo lugar para se viver se você for uma bunda". Já no masculino, segundo Miguel Paiva, "O Brasil é um ótimo lugar para se viver, se você for uma chuteira."
     Para finalizar, abaixo, escaneada, a estrutura orçamentária domiciliar,  da população - usuários da rede privada de ensino nacional em 2009, que foi publicada no jornal "Folha Dirigida", edição de 03 de setembro de 2014, ou seja, há quase três anos. Nesta estrutura, roupas e calçados representam apenas  5,62%, 5,49% das despesas das pessoas que responderam aos questionários. E na época não se estava enfrentando a recessão e desemprego que dominam, infelizmente o Brasil, atualmente.
     

Fontes: mais uma vez meu artigo "A moda imita a vida" publicado na revista Claudia Moda em 1991, anotações de aulas por mim ministradas,"O gatão de meia-idade", de Miguel Paiva (abaixo, escaneado)  e o texto "Decálago do leitor" do escritor Alberto Mussa, autor, ao lado do historiador Luiz Antonio Simas, do livro "Samba de enredo: historia e arte, um estudo sobre a evolução estética do samba enredo", Civilização Brasileira, 2010.





















   

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