quarta-feira, 8 de outubro de 2014

HISTÓRIA DA IMPRENSA, DA MODA NO BRASIL E O NOSSO COLONIALISMO INCURÁVEL


     "Papai, a gente não pode nem ... nada ..." Com imensa dificuldade para respirar, meu irmão Antonio Guilherme assim definiu a sua falta de ar, a falta de fôlego provocadas por uma pneumonia que o deixou prostrado, sem forças para brincar, quando ainda estava com apenas três anos de idade. Eu só nasci seis anos depois. Mas a história da pneumonia dupla do meu irmão correu, durante alguns anos, de boca em boca, entre os meus outros irmãos mais velhos, parentes e amigos da família. Diziam (e ainda dizem) que por pouco, muito pouco, ele não tinha morrido ... asfixiado!

     Lembrei-me desse fato, que faz parte da minha crônica familiar, quando comecei a ler os livros sobre a história da imprensa no Brasil e também várias anotações sobre a história da moda nacional, para fazer uma correlação de uma área com a outra. Temas aparentemente distantes, mas só aparentemente ...
     Na verdade, o estilo - de escrever, de vestir - assim com a estética viveram aprisionados, com pouco fôlego, absolutamente reprimidos desde os primórdios. Leia-se desde o Brasil Colônia, quando ler, saber e ter conhecimentos era um privilégio de poucos, muito poucos. 
     A Maioria vivia sufocada/abafada pelo poder que jamais permitia que os seus "súditos/subordinados" tivessem acesso à educação (privilégio de uma minoria aristocrática), ao saber, à informação e, consequentemente pudessem 'respirar' livremente.
     A imprensa surgiu na mesma época em que o Brasil foi descoberto e ela surge para servir à ascensão da burguesia. E os portugueses ocupam a 'nova terra' ou o 'novo mundo', ou seja, o Brasil , na época da expansão comercial, que também gerou, na Europa, o surto da arte gráfica.
     Em Portugal, na época  do descobrimento do Brasil, os livro e os impressos estavam sujeitos a três censuras: a episcopal ou do ordinário, a da inquisição e a régia. Esta última era exercida desde 1576. A partir do ano de 1624 (século XVII) os livros em Portugal dependiam das autoridades  reconhecidas pelo Estado, entre as quais estavam a igreja. Consequentemente, qualquer livro, qualquer impresso, para circular, dependia da Curia Romana. Coube ao Marquês de Pombal em 1768 (ou seja, 21 anos antes da Revolução Francesa que entregou os poderes políticos e econômicos à burguesia) encerrar este período substituindo-o pela " Real mesa censória" que vigorou até 1787.
     Se na metrópole eram essas as condições, não fica difícil de calcular como eram perseguidos e proibidos todo e qualquer impresso no Brasil, uma colônia que iniciou sua existência com o escravismo. Do século XVI até o final do século XVIII os livros eram vistos com desconfiança no Brasil. Só era natural nas mãos dos religiosos e até aceito como peculiar ao seu ofício.
     Para o historiador Luis Edmundo, Portugal desejava manter o Brasil-Colônia atado ao seu domínio. Não queria de forma alguma ou em hipótese alguma "arrancá-la da ignorância".
  Quanto ao vestir, pode-se dizer que a influência francesa no Brasil iniciou-se na época do nosso descobrimento! Quando a Família Imperial portuguesa, fugindo de Napoleão, aqui desembarcou em 1808, e sua alteza, o Príncipe-Regente D.João VI, pisou o solo do Rio de Janeiro em companhia dos seus, todos estavam "vestidos de Lisboa". Leia-se vestidos à moda da nobreza francesa já que, segundo Luis Edmundo (autor de O Rio de Janeiro no tempo dos Vice-Reis), Portugal nunca teve uma moda sua."Nesse particular", afirma Luiz Edmundo, "os nossos irmãos de além-mar viveram sempre de empréstimos." 
     E ao chegarem ao Brasil, pouco importava se a roupa pesada nada tinha a ver com o nosso clima tropical ...!

Trecho da minha dissertação de mestrado "Jornalismo feminino, jornalismo de moda e a obra de Alceu Penna", professora orientadora Raquel Paiva - UFRJ . 
     O texto acima comecei a escrever em um hospital na zona sul do Rio de Janeiro, onde fiquei, em 2002, durante dois meses, com a minha mãe, Aglaé.  que na época, em um acidente,  queimou 38% do seu corpo. 
Minha mãe curou-se, voltou para casa. Mas poucos anos depois, eu perdi, no mesmo de 2007, dois irmãos Rachel e Antonio Guilherme, que faleceram.
     Rachel faleceu de câncer e Antonio Guilherme de enfarte. Eu estive ao lado dos meus dois irmãos, junto com a minha mãe, que veio a falecer quatro anos após o falecimento dos seus filhos. 
Foi duro para a minha mãe, muito duro e difícil. Lembro-me que minha irmã faleceu em março: minha mãe foi ao enterro. 
Quando meu irmão Antonio Guilherme teve um enfarto e faleceu em agosto do mesmo ano, Aglaé, minha mãe, virou-se para mim e disse:  Vá por mim, minha filha, ao enterro do seu irmão. Eu não vou, pois não aguento mais enterrar filhos ..."
Hoje deu uma saudade. E publico, aqui, algumas fotos dos meus irmãos quando crianças e da minha mãe Aglaé, junto com  Rachel , minha irmã mais velha. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário