quarta-feira, 1 de outubro de 2014

REFLEXÕES SOBRE O VESTIR NO FEMININO E NO MASCULINO
















Primeira separação: O protótipo do homem burguês contesta, via a modernidade, o ócio da aristocracia. Associa este ócio, entre  outras coisas, ao ornamento. O trabalho, por sua vez, é associado à sobriedade. 
Vale observar que esta ligação do ornamento ao ócio é um produto da sociedade ocidental moderna, ou seja, pós-revolução francesa. Nas sociedades indígenas e africanas, onde há uma menor repressão ao prazer, o ornamento sempre esteve presente nos corpos dos homens e das mulheres. Mas voltando à sociedade ocidental, a mulher, por não trabalhar, por ser a detentora do ócio, a ela ficam reservados os ornamentos.




Momento  Coco Chanel -Ao entrar no mercado de trabalho, a mulher busca a sobriedade. Ela utiliza as armas do homem para garantir o seu espaço além das fronteiras do lar. É um momento doloroso para a mulher, que abandona o seu mundo, sua cultura (muitas vezes oral) que passa de uma geração para outra o que é ser mulher, para assumir a postura do seu concorrente e, muitas vezes, até inimigo. Homens e mulheres eram criados em dois mundos distintos , opostos e profundamente diferentes. De um lado, estava o homem como a representação da vida intelectual, da realização. Do outro estava a mulher, simbolo da alienação e do ócio.

Movimento unissex - Há um abalo, bastante forte, nesta divisão homem versus mulher. O movimento unissex contesta, basicamente, a ideologia do trabalho. É um movimento que unifica homens e mulheres fora do mercado de trabalho. A ordem era abandonar a produção, abandonar o sistema capitalista. Era o não ao consumo.

Movimento yuppie - A rapaziada do mercado financeiro tinha que consumir para expressar, para o resto da sociedade, que eles eram a realização do sonho norte-americano. Percebe-se, no movimento yuppie, uma nova fratura na questão (histórica) que sobriedade é sinônimo de trabalho e que ornamento é igual a ócio.
Para o movimento yuppie, o ornamento significou ser bem sucedido no trabalho. O ornamento, aqui, reforça a ideologia do trabalho. Ornamento virou sinônimo, para os yuppies, de prosperidade no trabalho.
A segunda questão, do movimento yuppie, é a consolidação  da mulher no mercado de trabalho, com os seus ornamentos. Ela supera o radicalismo não estético do movimento feminista (que a havia levado a assumir uma sobriedade masculina) e a relação entre sobriedade e trabalho de um lado e ócio e ornamento do outro. O paradigma do ócio seria a nobreza, que não existe mais. Mais ainda: a mulher com a sua estética, ameaça o homem no mercado de trabalho. Num paradoxo fantástico, o homem recorre ao ornamento para se equiparar à mulher, em termos de concorrência de mercado de trabalho.

Conclusão: Todo este desenvolvimento é uma decorrência da ideologia da sociedade burguesa e moderna. Não houve uma ruptura pós-moderna.
O movimento yuppie não fez mais do que entrar num compasso com o movimento hippie pois, na hora do lazer, homens e mulheres já estavam unificados há muito tempo. Ou seja, é um momento em que o ócio vira um direito adquirido pela ideologia do trabalho. O lazer/prazer está ligado ao movimento hippie, que exorcizou a palavra ócio.
Nota-se observando isto tudo, que, nos últimos tempos, quem foi a vanguarda deste movimento todo foi a mulher, que foi puxando para a frente. Ao se consolidar no mercado de trabalho, ela rompeu o último paradigma - ócio é sinônimo de ornamento. E o homem , rendendo-se às evidências, assume novos trajes ...!



(Texto já postado, em 2013 ou 2014,  na revista on line  Vinteeum de Marcelo de Gang e Antonio Kvalo, onde sou colaboradora)




















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