sábado, 29 de novembro de 2014

A IMPORTÂNCIA DA CAMISETA NA MODA INFANTIL



     É feito mágica! É só estampar o vôo de um super-herói, ou o terno sorriso de um bichinho e a camiseta, de simples peça de roupa, vira, para as crianças, algo assim como um brinquedo.


     Até a Idade Média, a criança - a exemplo da imagem do Menino Jesus - era apresentada (seja em quadros ou ao vivo) enrolada em cueiros ou com camisas ou camisolas. Essas camisas ou camisolas eram muito parecidas com as nossas atuais camisetas. As maiores diferenças não residem no corte, mas no que - no caso da camiseta - simbolizam ou simbolizavam. As camisas ou camisolas traduziam uma moral rígida, que considerava pecado apresentar uma criança sem roupas. Quanto à camiseta - que nasceu como "roupa-de-baixo" e que tinha como objetivo proteger do frio e do perigo de se expor o corpo - teve um comportamento inverso ao do camaleão: mudou de mensagem, sem mudar de cara.
     Quando o jovem rebelde chamado James Dean resolveu usar camiseta no lugar da tradicional camisa, deu início ao poder jovem, uma bomba mais-que-atômica que explodiu de vez da década de 60 e que continua ecoando por todo esse nosso século XX. A juventude, o adolescente, a criança --passaram todos esses, até então considerados adultos imperfeitos, a ser encarados com o devido respeito. Para eles foram criados produtos especiais, tentando se aproximar de sua linguagem e da visão do mundo. De repente, haviam descoberto a máxima: "a criança pensa, logo existe!"
      O prazer de ver o mundo sem tanta seriedade, a brincadeira como um jogo de idéias, a espontaneidade e --- palavra maior -- a liberdade! A camiseta passou a significar tudo isso, mandou pro brejo o ditado das nossas avós:" é de pequeno que se torce o pepino!" Coitado de quem tentasse. O jovem -- e logo, por extensão, a criança -- virou o centro do mundo e público alvo preferencial dos comerciais da tevê, o motivo do surgimento de inúmeros  novos produtos de consumo. Mesmo os adultos que quisessem despertar suas crianças adormecidas, deveriam adotar a camiseta como uniforme. Descontração, liberdade, formas do corpo ousadas ou ingenuamente à mostra. Um produto prático, pronto para sujar sem grandes problemas, sem muita exigência para lavar ou passar.
      Ideal, portanto, para crianças, para esses seres inquietos que sabem como descobrir o mundo a cada segundo, cheios de energia. Por essa ligação com o reino da brincadeira, não admira o enorme número de licenciamento de personagens infantis -- principalmente dos quadrinhos e dos desenhos animados -- como no caso dos super-heróis e personagens Disney. Ou também um consagrado garoto da literatura infantil -- O Menino Maluquinho, do Ziraldo, o livro pra crianças mais vendido do país (mais de um milhão de exemplares).
     O poeta Cacaso (que foi meu professor na UFF - Universidade Federal Fluminense) dizia em um dos seus versos: "dentro de mim mora um anjo ..." Mas talvez o (a) menino (a), no que veste a camiseta, com todo o orgulho de ser criança que os tempos de hoje permitem ter, diga também ... "Um anjinho, é ...Mas que sabe aprontar muita confusão." Que o diga quem quiser acompanhar seu pique!

(texto que escrevi nos anos 90 e que foi publicado na revista Moda Infantil, cuja editora era a jornalista Eloisa Simão. Acima, uma camiseta onde está escrito Sara, nome da minha querida tia-avó e nome da filha da jornalista Marcia Disitzer. Para elas e para Eloisa Simão a minha homenagem e meu carinho)

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