domingo, 22 de março de 2015

MODA ESTADUNIDENSE - 1920-1929













             A vida é intrépida, desafiadora. Festeja-se hoje, as consequências vêem depois. Nos EUA e na Europa o fim da Primeira Grande Guerra trouxe alento ou "combustível" para as mudanças sociais que vão trazer muitas alterações a médio prazo.
           Numa visão é uma década onde há muitos choques de valores, desafios e gratificações instantâneas ou momentâneas. Mas estes "barulhentos" anos 20, também  conhecidos como a década do jazz ou a era dos absurdos, é um momento de esperança e idealismo. A penicilina é descoberta por Alexander Fleming; Albert Einstein apresenta a teoria da relatividade. Inicia-se o rádio comercial e surge o cinema falado. Charles Lindenbergh e Amélia Earhart sobrevoam, de avião, o oceano Atlântico. 
           Nos EUA bebidas proibidas: é a lei seca. E surge um novo tipo de diversão: banho de banheira de jim, além do consumo (frenético) de bebidas fabricadas clandestinamente.
          A imagem da mulher do período é a moça irreverente ou petulante,mesmo. Ela representa a coroação do poder da cultura jovem ao desrespeitar, ou melhor dizendo, alardear o desrespeito à tradição. Como parte deste cenário, a moda se transforma dramaticamente. Surge a garçonne ou a melindrosa, ou a "garota moleca". Ela tem cabelos curtos e apresenta uma nova silhueta: usa camisão solto, frouxo, folgado e comprido que alonga o dorso e remove as curvas da silhueta e tem um comprimento abaixo dos joelhos, uma audácia para a época.
         Outras modernidades: o uso de ternos e a ampla utilização do jérsei. E tudo era liderado pela mulher que se transformou na mais importante estilista do século. a Gabrielle Coco Chanel. 
          Outros acontecimentos entristecem a década: Klu Klux Klan, uma associação racista norte-americana, chega a ter 4 milhões de sócios. Mas a Europa também possui suas "bestas": o facismo toma conta da Itália e Adolfo Hitler organiza sua candidatura e eleição, após publicar Mein Kampf ("minha culpa") em 1925. Mas tais desagradáveis ou bestiais acontecimentos são ignorados enquanto "rolam os bons tempos" , o frenezi, os despropósitos da era do jazz.
          Os  "barulhentos anos 20" caem em 24 de outubro de 1929, com o crack da bolsa de Nova York. Dá-se, então, silêncio ensurdecedor, a quietude fora do comum.

                                 QUEBRANDO OS TABUS

          Uma revolução sexual toma forma. A discussão da teoria carnal de Sigmund Freud torna-se moda. Mães cautelosas se preocupam com suas filhas. Mas a juventude liberada esquece ou deixa em casa "seu cinto de castidade" antes de ir dançar nas festas que eram conhecidas como "festas das favoritas".

                                O PODER ESPORTIVO

           Inicia-e o eterno romance entre a moda e o esporte. O estilo feito para esquiar é desenvolvido como matéria-prima techno da época, ou seja, é à prova d'água e com um abotoamento especial.
           Até os estilistas entram na "onda esportiva": Chanel desenhou roupas para a prática do golfe e trajes para a praia. Patou embelezou Suzanne Lenglen, a estrela do tênis, criando para ela um cardigã sem mangas e com um decote em V para ser usado com uma saia curta. A partir daí, o decote em V fica na moda. O banho de  sol e a pele bronzeada se tornam chiques. Palm Beach e a Riviera são in e dão o tom, literalmente. A Côte d'Azur se transforma no ponto de encontro da intelectualidade que inclui Isadora Duncan, Aldous Huxley e D.H. Lawrence. Surge o maiô pequeno, curto e mais apertado. As mulheres também começam a usar shorts em público durante eventos esportivos. A calça-pijama, lançada por Chanel, é adaptada ao estilo praia.


                             MEIA COR PRETA

            Em 1922, as meias coloridas (inclusive a cor da  pele) em seda ou rayon se transformam no objeto de desejo das mulheres. E a meia preta torna-se, logo, a escolhida pelas consumidoras.

                       A GAROTA PETULANTE, A 'IT GIRL'

             As garotas petulantes representam uma época ou uma era de vibração, de procura, de "jovens aventuras". De acordo com o imortal escritor F.Scott Fitzgerald, um autêntico cronista dos anos 20, "eram jovens com talento para viver".
           A atriz Clara Bow, conhecida na época como a It Girl, revelou a fórmula então utilizada para viver na moda: "Nós tinhamos individualidade. Fazíamos o que gostávamos, dormíamos tarde e só nos vestíamos do jeito que a gente gostava. Eu, por exemplo, "zunia" na Sunset Boulevard na minha baratinha (um tipo de automóvel da época) com sete cachorros vermelhos para combinar com o meu cabelo."
        Que it era este que a Clara Bow tinha? De acordo com Elinor Glyn, uma conhecida autora de histórias de amor," o it é uma estranha capacidade, um estranho magnetismo capaz de atrair os dois sexos." Segundo Glyn outros possuidores de it em Hollywood são machos ou são do sexo masculino, incluindo um ator latino chamado Antonio Moreno, o porteiro do Hotel Embassador e um "garanhão" que atende pelo nome de Rex ...

O ACESSÓRIO MARCANTE:  As mulheres começam a fumar em público e a venda de cigarros duplica. As piteiras douradas e com pedras se tornam um símbolo de sofisticação.

CHANEL - A imortal estilista francesa emerge como a lider dos costureiros franceses. Ela havia iniciado seu negócio com uma loja em Deauville e na sua carreira haveria uma constante influência destes primeiros anos de profissão.
 Após a Primeira Grande Guerra, Chanel se mudou para Paris e a moda se modificou, para sempre. O seu lema (ou o seu mantra) era a palavra modernidade. Ela sempre foi a favor da linha clean e de uma atitude, de uma postura esportiva. 
 Muito mais que meramente chiques, as roupas de Chanel eram, sobretudo, práticas. E a praticidade resumia a audácia desta estilista. E o estilo Gabrielle Coco Chanel fazia muito sentido para as mulheres norte americanas, e para as mulheres  que agora sentiam o primeiro gosto pela liberdade e , pela primeira vez , se sentiam livres de certas restrições sociais. 
 Com Chanel a simplicidade alcançou a moda sofisticada e muitas de suas inovações se tornaram clássicos. Exemplos: suéteres, o visual (ou look) marinheiro, o lânguido jérsei e os revolucionários tailleurs de tweed também conhecidos como conjuntos ou ternos de tweed.
 O estilo Chanel conquista, nos EUA, ampla aceitação e é imitado. "Se não existisse imitação, como teriamos uma moda?", indaga a imortal estilista. Astuta mulher de negócios, ela lança, em 1925, o perfume "Chanel n* 5". E no final dos anos 20 ela já havia construído um império que empregava 2.400 profissionais.
  "Eu lancei a moda de 1/4 do século. E como consegui isto? Consegui porque eu soube expressar o meu tempo", afirmaria, posteriormente, Chanel.

                            ACESSÓRIOS EM VOGA

         O chapéu cloche, que vem a ser aquele apertado na cabeça, gênero campânula, adiciona um ar de mistério ao visual diurno. À noite, turbantes fazem a mágica. Os conjuntos de jóia (leia-se broche, brincos e pulseira iguais) explodem à medida que também cresce o interesse das mulheres pela pérolas.
        Pulseiras escravas, prendedores de cabelo com diamantes ou brilhantes e flores de seda usadas no ombro são detalhes presentes no estilo do bem-vestir. Para proteger a cabeça do frio, nada melhor do que turbantes de pele, especialmente os de raposa.

                      ATRAVESSANDO O OCEANO

        Madeleine Vionnet que reabriu sua maison em 1919, após um período de "hibernação", é uma artista que domina a técnica de modelagem. Em 1923, Norman Hartwell abre a sua loja na rua Bruton, anunciando uma nova era para a costura britânica. E Brit Edward Molyneaux, conhecido pela sua impecável arte de costura, abre uma loja na Rue de la Paix.
        Jean Patou tem como alvo a consumidora norte-americana. Assim como Madeleine Vionnet, Patou havia fechado sua maison durante a Primeira Grande Guerra, reabrindo-a em 1919.

                    O SOBE/DESCE DAS BAINHAS

          No início da década, as saias curtas chocam o mundo. Os estilistas ficam indecisos e as bainhas voltam a descer. Logo, elas voltam, facilmente, a subir e em meados dos anos 20 a saia estreita, comprimento na altura dos joelhos, passa a representar o visual feminino dominante. 
          Mais tarde, as barras longitudinais, as linhas livres, as bainhas assimétricas e em pontas, passam a representar a obsessão dos anos 20 pela dança. Todo mundo desejava dançar foxtrot ou tango durante toda uma noite.  Em 1928, a bainha das saias femininas voltam, mais uma vez, a descer.

   
Em tempo: Para quem deseja informações sobre a história norte-americana no século XIX, uma boa dica, inclusive para estudar o estilo, os figurinos norte-americano da época, é a série Deadwood, focada em 1876: "A concessão indígena de Black Hills, testemunha o nascimento de uma cidade na fronteira norte-americana, e a cruel guerra de poder entre pioneiros justos e injustos. Em uma época de pilhagem e cobiça, a mais rica corrida do ouro da história norte-americana leva uma multidão de incansáveis marginais a um acampamento fora-da-lei, onde tudo - e todos - têm um preço. Os desbravadores que vão desde um ex-advogado, ao astuto dono de um cabaré, até o lendário Wild Bill Hickok e Calamity Jane, têm algo em comum: o estado de espírito sempre inquieto e a sobrevivência a qualquer custo." 

         



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