quinta-feira, 12 de março de 2015

MODA ESTADUNIDENSE 1900-1909








       São Paulo Fashion Week tem uma revista e o título da atual edição do evento é " We've got the power" (Nós temos a força). Como bem disse Ancelmo Góis (jornal O Globo, edição de 11/03/2015) "we've  got the power" é o cacete!"
            Muitos falam (ou enrolam) em inglês, cantam (ou fazem que cantam) em inglês, adotam (muitas vezes sem conhecer) o estilo norte-americano, o famoso "american way of life": mais uma razão para se conhecer um pouco da história da moda estadunidense.





      A palavra chave do novo século é um comportamento de experimentar de tudo um pouco. Experiências, novas sensações com arte, moda e cultura. 
     É o alvorecer, é o princípio de um novo século ...! Sigmund Freud e Carl Jung contestam e mudam a visão tradicional a respeito de sexo e sexualidade ao publicarem seus primeiros trabalhos sobre psicanálise e repressão sexual.
     No mundo das artes plásticas, o movimento cubista, liderado por Pablo Picasso e Georges Braque, ganha projeção.
     Na moda, as regras do bem vestir começam a ficar "menos confusas" ou começam a descomplicar.
     Em 1901, a rainha Vitória morre e com seu falecimento inicia-se o fim da repressão sexual. No ano de 1908 a silhueta feminina em forma de um S -- com duas curvas muito exageradas e muito realçadas e que dão ênfase ao derriére (ou bumbum) e ao busto -- enfraquece ou começa a desaparecer. Ela é substituída , pouco a pouco, por uma silhueta esbelta, esguia e elegante.
     O otimismo é o sentimento que domina. O presidente Teddy Roosevelt  (1901-1909) é o responsável pela repressão ou pela restrição ao poder dos monopólios, legislando as disputas trabalhistas e reformando/modernizando as rotas das estradas de ferro. Com as suas atitudes, o presidente Roosevelt reflete a energia, a disposição, o humor e o estado de espírito otimista dos EUA.
     E há boas razões para estes sentimentos otimistas: a população de três cidades (Nova York, Chicago e Filadélfia) superou a marca de 1 milhão de habitantes em 1900; o sistema de ferrovias ou de estradas de ferro estão sendo construídas "cortando" ou interligando o país. A era também é marcada pelo domínio dos automóveis. A linha de montagem revolucionou a produção manufatureira. Por volta de 1908 mais de 15 milhões de carros modelo T haviam sido vendidos.
     A nova era dos automóveis influenciou a aparência e surgiram os estilos "moda motorizada" para mulheres, que era caracterizada pelos guarda-pós e pelos chapéus com véus.
     A era também é marcada por uma "explosão" de multimilionários como, por exemplo, os Vanderbilts e os Carnegies, muitos dos quais gastaram milhões adquirindo mansões em New Port ou na cidade de Nova York.
     Como os EUA ainda não lançavam ou ditavam moda, os ricos frequentemente viajavam de navio para Paris (capital da França) onde costumavam encomendar roupas no último grito da moda ou roupas que refletiam e traduziam o último estilo.

                     O DESENVOLVIMENTO DA ALTA-COSTURA

     A última década do século XIX presenciou/assistiu ao nascimento da alta-costura em Paris, França. Na primeira década do século XX, a alta costura se desenvolveu e prosperou.

     Charles Worth - Ele criou o direito do estilista de legislar sobre o estilo, conforme conhecemos até hoje. Worth fundou sua maison em Paris (França) no ano de 1858 e tornou-se anfitrião dos ricos e famosos de diversos continentes. Coube a ele a criação de desfiles sazonais de moda onde eram apresentados sistematicamente modelos e padronagens exemplares.

     Paquin - Fundou a sua maison em 1891. Assinou novos visuais, incluindo o uso de peles de animais raros em casacos de pele. Utilizou também, na criação de um estilo próprio, a passamanaria e a cor vermelha. Na época das corridas de cavalo do Grand Prix e na temporada de ópera, Jeanne Paquin realizava desfiles, já utilizando grupos de modelos, a fim de divulgar suas última criações.

     Paul Poiret - É o antepassado do design, legislando no gosto com um todo. Enquanto Worth determinava (ou ditava) o que a mulher deveria vestir, Poiret queria determinar como elas deveriam decorar suas casas, que tipo de festa deveriam promover e como deveriam ser os jardins de suas casas. Poiret abriu uma empresa em 1904. Na moda, sua silhueta longilínea e magra era a antítese (ou o oposto) do opolento estilo que dominou no tempo da rainha Vitória. Paul Poiret foi o primeiro costureiro a lançar perfumes. Mas a moda mudou e Poiret deixou de ser o design favorito. Sua forma de viver extravagante, suas festas enfim o levaram à falência em poucos anos. Ele morreu pobre, muito pobre no ano de 1944.

     Jeanne Lanvin - O nome Jeanne Lanvin representa a mais antiga maison de alta costura, ainda em atividade: fundada em 1890 por Jeanne Lanvin, que na época tinha 23 anos e era chapeleira. Seu estilo era muito feminino e caracterizado pelas curvas e pelas cores doces/suaves. Ela foi a segunda profissional de moda a lançar um perfume: Arpége.

                               O NOVO IDEAL DE BELEZA


     Talvez a mais revolucionária mudança da primeira década do século XX foi o surgimento de um novo ideal de beleza feminina nos EUA: Sai de cena a mulher madura e entra na moda a mulher jovem. Ou seja, a jovem independente desbanca a mulher madura do seu trono de ideal de beleza a ser seguido, a ser imitado por todas.
     Até quase o fim da primeira década do século, a mulher madura com seus espartilhos com couraças de aço, com suas golas altas e seus imensos chapéus adornados com plumas, representava o ideal de beleza da sociedade. A silhueta feminina, então, tinha a forma da letra S maiúscula, traduzida nas curvas exageradas que davam ênfase ao bumbum e ao busto.Respirar era difícil ... E o comprimento das saias cobriam os tornozelos.
      Contudo, este jeito de vestir começa a se descomplicar em função de uma série de razões que em linhas gerais traduziam os avanços industriais e sociais. Em 1907 a grande novidade foi que as saias ficaram mais curtas, leia-se duas polegadas acima do chão. Em tempo: cada polegada representa 2,54cms.
     Em 1908, o estilista Paul Poiret lança a cintura alta. Consequência número um: o espartilho cai de moda. Poiret também deixa a marca do seu estilo ao utilizar cores vivas/brilhantes, inspiradas no oriente e na Rússia. E até as meias femininas mudam de cor: deixam de ser pretas e assumem as cores ouro e vermelho.
     No fim da primeira década, o novo furor, o objeto de desejo é a hobble skirt, que vem a ser a saia super estreita e batendo no tornozelo. Seu nome hobble skirt vem, literalmente, das desvantagens que ela impõe às suas usuárias. E elas foram permanente fonte de inspiração para os cartunistas. Vale destacar que a hobble skirt desnudaram algumas poucos polegadas das pernas femininas, predizendo os comprimentos mais curtos que viriam, posteriormente, dominar as saias e as cabeças das mulheres.
     Paul Poiret também popularizou a túnica em forma de um T usada por cima de uma saia que batia nos tornozelos. E para garantir a liberdade de movimentos das mulheres, Poiret lascou até o meio a hobble skirt

                       O TRAJE: UM NEGÓCIO LUCRATIVO

           A indústria têxtil norte-americana e a indústria de roupa se expandiram rapidamente nas grandes cidades, após 1885, especialmente na cidade de Nova York, onde o desenvolvimento foi muito mais rápido do que o de qualquer outra indústria.
     Uma das indústrias mais modernas é a fabricação de seda que deixa de ser um pequeno negócio de luxo (como era visto nas últimas décadas do século XIX) para se tornar um excelente negócio.
     Na virada do século, o visual predominante era marcado por babados, cintura de vespa e mangas sinos, inspiradas nas  The Floradoras, que eram a beleza predominante.
     E uma das maiores tendências de moda era a blusa inspirada na Gibson Girls, personagem criada pelo ilustrador Charles Dana Gibson. O catálogo da Sears Roebuck do ano de 1905 oferece 150 diferentes versões desta blusa. Os modelos mais simples custavam US $0,39 cents (leia-se trinta e nove centavos/dolar). E os modelos em tafetá saiam por US$ 6,95 (seis dólares e noventa e nove centavos). Com a sua silhueta esportiva e forte, onde se destaca um chapéu de marinheiro, confortáveis golas adornadas por uma gravata, as Gibson Girls definem a jovem mulher norte-americana que até então não passava de uma vaga ou difusa imagem.
     A costura feita em casa, a costura doméstica, ainda exercia um papel de grande importância quando o assunto era a criação de peças para o guarda-roupa da classe média norte-americana. Mas de olho na demanda, de olho no público consumidor, surgem fabricantes de grande porte para faturar a demanda de roupas prontas.
     Em 1900, 472 lojas de Nova York venderam blusas e/ou camisas, empregando 18.000 trabalhadores. Em 1909, havia 600 lojas que empregavam 30 mil trabalhadores e tinham um rendimento anual de 30 milhões de dólares.
     A semente das reformas sociais se propagou com a criação da União Internacional das Mulheres Trabalhadoras no Setor do Vestuário, que foi fundada em 1900.
     Mas o crescimento, o desenvolvimento do setor têxtil gerou o surgimento do sub-trabalho, cuja crônica foi realizada por inúmeros jornalistas. Um deles foi Jacob Riis, repórter policial que assinava artigos no jornal New York Tribune e no jornal New Yor Sun.

                     INICIA-SE O MARKETING NA MODA

      Já que nenhum designer norte-americano havia conquistado reputação como um criador ou instigador de estilos, as lojas dos Estados Unidos copiavam, da maneira melhor que podiam, a moda de Paris, França.
     Compradores norte-americanos eram, frequentemente, despachados para Paris. Mas antes da Primeira Guerra Mundial, a consumidora bem informada, exigente, consciente da necessidade de qualidade, só era encontrada nas grandes cidades como, por exemplo, Filadélfia, Nova York e Chicago.
     A publicidade ainda se encontra na sua infância. E é estritamente utilitária. Um bom marketing é o  Fashion Show do varejo. O primeiro foi inaugurado em 1903 por Ehrich Bros. Em 10 anos, o Fashion Show  conquista um público cativo, e torna-se uma atração nas rampas em frente às lojas ou dentro das lojas de departamento. O mais famoso é o Gimbel's Promenades des Toilettes , que foi apresentado pela primeira vez em 1910.
     Milhares de mulheres viviam tumultuando as lojas da Rua 34, em Nova York, para dar uma espiada nos últimos lançamentos da moda francesa. 
     Os shows e desfiles da Wanamaker, realizados em Nova York e em Paris (França) eram considerados os mais afetados. Na apresentação do desfile-show da Wanamaker de 1908,as cadeiras tinham assentos vermelhos e dourados, numa homenagem à corte de Napoleão e Josefina ...!!

     
(bibliografia: WWW - Women Wear Daily, edições históricas e informações que me foram passadas por Roberto Barreira, numa das colaborações que fiz para a cooperativa que ele montou, após o falência da Bloch  Editores, no inicio do século XXI. Falências de empresas de comunicação são --infelizmente, para os jornalistas --comuns no Brasil. Historicamente já aconteceram,  no século XX ---- para não irmos muito longe -- diversas falências de jornais e de editoras)      
     





Nenhum comentário:

Postar um comentário