quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O DIREITO DE ENVELHECER, COM PRAZER E ALEGRIA



     Patrulha na praia, patrulha nas ruas, patrulha nas redes sociais, patrulha no mercado de trabalho: será que desejam que nós, mulheres brasileiras, latino-americanas,  sejamos "novinhas" forever?
     

     Fotografada de biquini, na praia, com  73 anos assumidos, a consagrada atriz Betty Faria foi vítima de bullying nas redes sociais, nos jornais e revistas - inclusive em algumas revistas (sic!)femininas. Disseram que ela estava "velha". Betty afirmou, ao captar que não lhe era permitido envelhecer: ""Queriam que eu fosse a (eterna) gostosona ...!!"
     
     Há dois dias (em 09/11/2015) a atriz Vera Fischer foi fotografada no aeroporto Santos Dumont (Rio de Janeiro) sem maquiagem, com os cabelos lavados. Foi o suficiente para um dos jornais que circulam nas redes sociais dizer que ela "embaragou ...!!
    
     Os homens podem ficar carecas, com cabelos brancos, com barriga ou gordos mesmo e nada lhes é cobrado. Mas, para as mulheres a cobrança da juventude, do "jeitinho de menina" é cobrado, o tempo todo. 

     Daí que é comum se ver, nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, mulheres com 80 anos vestidas iguais a uma adolescentes, E elas não temem o ridículo de uma estética que não se encaixa com o corpo delas, com a experiência de vida delas. O medo que elas têm é da marginalização dentro da sociedade. E para não serem colocadas de lado, abandonadas, elas topam tudo, ou quase tudo.
     
     É necessário que seja permitido à mulher brasileira, o seu envelhecimento, sem que seja criticada, menosprezada, marginalizada, por uma sociedade que só aceita a mulher jovem, a mulher-menina, a mulher sexy-explícita. 

    É preciso aprender a lidar com a pressão da juventude eterna no feminino. 
     Afinal, as pessoas (mulheres e homens) envelhecem, né? 
   
     E o envelhecer não significa ser jogada para o escanteio, ser marginalizada,não mais aceita no mercado de trabalho. Envelhecer tem o seu charme, seus encantos e a experiência adquirida  (na vida e na profissão) é importante  inclusive no mercado de trabalho. 
   
     Nos tempos das minhas avó Marieta e Clotilde, uma mulher já era velha, aos 30 anos. E se não tivesse se casado, havia ficado, como diziam na época, para titia. 

     Havia a palavra "balzaquiana"(que designava a mulher com trinta ou mais anos),que nasceu do livro "Mulher de trinta" -- "La femme de trinte ans"-- do escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850). 
      Atualmente é normal a mulher engravidar do seu primeiro filho com mais de 30 anos e há mulheres  com quarenta anos (ou um pouco mais) que  engravidam pela primeira ou segunda vez. Até aí, caminhamos. 
     Mas quando a mulher brasileira chega ao 60 e aos 70 anos, sofre hoje, os mesmos preconceitos que sofria a (infeliz) Julie, heroína de Balzac no romance "A mulher de trinta". Há quem diga que na época, seculo XIX, o francês Balzac "curou o amor do preconceito da mocidade". 
     Hoje necessitamos nos curar do preconceito que nos obriga a ser fisicamente novinhas, para sempre.

   Em 1997, no livro "Vista-se como você é", editora L&PM , eu já registrava, em um capítulo,  o desencontro que existia entre a mulher de 60 anos e o mercado consumidor, o mercado da industria da moda. 
Trocando em miúdos, era (e ainda é) dificil para uma mulher com 60 anos encontrar um estilo que possa chamar de seu. 
Uma leitora de Goiás escreveu, nos anos 90,  para a  revista Manequim (editora Abril)   afirmando: (...) "apesar dos meus 62 anos, gosto de roupa alegre. Minha cor predileta é o vermelho. Tenho muita dificuldade para escolher meus modelos. Tenho cabeça jovem/nova e aí tenho medo de cair no ridículo"

Outro leitora de Campos, Rio de Janeiro ,  afirmou: "Quero me enquadrar nos meus 54 anos!" E uma outra, da cidade de Piracicaba, interior de São Paulo denunciou que não encontrava modelos que se encaixassem no seu tipo físico,pois não era mais jovenzinha ... Uma leitora da cidade de São João de Meriti, Rio de Janeiro) pediu que lhe fossem sugeridos "modelos de roupa para a menopausa. E indagava: como vai ser minha vida agora? Não sou mais uma mulher jovem. Estou na menopausa ..."
     
      Muitas leitoras denunciaram, já nos anos 90, que "nunca encontravam na maioria das revistas femininas nacionais, seções de moda para a mulher madura. "Só publicam moda para jovens. Jovens também são as modelos", afirmava uma leitora. 
    
      Na verdade é que o amadurecer é um verbo que a brasileira, mesmo nas grandes capitais, tem dificuldade em utilizar no campo estético. Daí que muitas mulheres adultas se sentem, erroneamente,velhas e .... discriminadas.
      
     Por isso é que há mulheres que mantêm, para compensar o próprio amadurecimento, uma voz, um jeitinho, uma postura de menina ou de adolescente como se pedissem desculpas por serem grandes/maduras, mulheres com M maiúsculo. Há uma poesia da Adélia Prado (citada no livro Vista-se como você é, editora L&PM) onde ela diz:     
                      "Me cura se ser grande, meu Deus
                              Me dá 15 ou 20 anos
                          Me dá um corpo, um olhar,
                           uma fala e um jeito de adolescente"

Abaixo, leiam o interessante depoimento da escritora e tradutora Sonia Sant'Anna, autora de incríveis livros sobre  histórias do Brasil, romanceadas. E mais: fotos e texto da reportagem sobre a atriz Vera Fischer (A Tribuna Hoje, edição de 09/11/2015) e a letra da música, "mulher de 30", que fez muito sucesso no passado recente (anos 60), na voz do cantor Miltinho.

      

 "Já tendo passado dos 70 anos, quando digo “estou velha”, geralmente correm a me 
consolar. “Velha que nada, sua cabeça ainda é jovem”. Não, não é, ainda bem. Tenho uma boa cabeça de velha, e disso eu gosto. Do mesmo modo que tinha uma boa cabeça de jovem, quando era jovem. Pois nem toda cabeça jovem é uma boa cabeça, afirmo contra toda a publicidade que nos empurra goela abaixo o termo “jovem” como sinônimo de tudo que é bom e belo. A maioria dos velhos que me desagradam são gente cujo modo de pensar e de encarar a vida já me desagradava quando tínhamos, eu e eles, 15, 30, 40 anos. Quando me dizem que sou uma velha de espírito jovem, parece-me estar ouvindo a expressão “negro de alma branca”. Como se só brancos tivessem almas puras e apenas jovens tivessem espírito alerta."  Palavras de Sonia Sant'Anna




Nas fotos, Betty Faria de maiô .  E, logo abaixo, mais uma foto,  Betty Farias de  biquini: colocaram, ao lado (está nas redes sociais) uma foto de Leila Diniz jovem e grávida - que comparação sem sentido ....! 




"Embaragou! Vera Fischer aparece irreconhecível em aeroporto carioca"




"Aos 63 anos, Vera Fischer parece ter abandonado aquela imagem de deusa que ostentou durante toda carreira.
Nesta sexta-feira (6), a veterana foi clicada totalmente à vontade no no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.
Mais cheinha e usando um vestido laranja e preto, a loira circulou pelo local sem maquiagem, com o cabelo molhado e de óculos escuros.
Simpática, a atriz tirou selfies com fãs antes de embarcar e não se incomodou com os flashes dos paparazzi." (A Tribuna Hoje - edição 09/11/2015)
Mulher de Trinta
Miltinho
Você, mulher
Que já viveu, que já sofreu
Não minta
Um triste adeus nos olhos seus
A gente vê, Mulher de Trinta
No meu olhar, na minha voz
Um novo mundo, sinta
É bom sonhar, sonhemos nós
Eu e você, Mulher de Trinta
Amanhã sempre vem
E o amanhã pode trazer alguém"

https://www.facebook.com/coisademulher.etc/photos/a.739670066179483.1073741828.711824052297418/805954662884356/?type=3
https://youtu.be/pX7e1Jzl1Owhttps://www.youtube.com/attribution_link?a=iI7jdIJ8F5Q&u=%2Fwatch%3Fv%3DmEvWzWCbNic%26feature%3Dshare

Nenhum comentário:

Postar um comentário