Para mim, fotografar é uma técnica e um dom. Vou me explicar melhor: quando você domina a técnica, ela vira um dom porque deixa de existir conscientemente, pois passa a ser automatizada.
Montei o meu estúdio - situado no bairro da Glória, RJ, em 1989-1990. Na época, meu sócio era meu pai, José Antonio que veio a falecer em 1995. Tudo que sei de fotografia aprendi com meu pai, o grande responsável por eu ter me transformado numa fotógrafa profissional.
Aliás, eu comecei a trabalhar foi como secrétaria numa agência de foto jornalismo. Na época, eu cursava a faculdade de jornalismo em São Paulo. E nesta agência havia um fotógrafo que não se conformava com o fato de eu não fotografar. Ele achava que, pelo fato de eu ser filha de um fotógrafo e ter um irmão fotógrafo, eu deveria conhecer a técnica . E ele então me aconselhava a pegar uma câmara em casa e sair fotografando: o que conseguisse seria lucro. Era fazer para ver no que ia dar.
Aí, pela convivência que tinha com o meu pai, as minhas fotos aconteciam, sem que eu tivesse muita consciência do que estava fazendo. A agência conseguia vender as fotos que eu tirava.
Quando meu pai viu as minhas fotos, me disse que elas eram realmente legais, mas que eu não estava realizando um trabalho consciente. Ele então me convidou para ser sua assistente. Eu aceitei. Fiquei dois anos com meu pai e aí aprendi muita técnica e vi que eu realmente não sabia nada.
Logo depois nos mudamos para o Rio de Janeiro e meu pai ficava muito na ponte aérea para cumprir sua agenda profissional em São Paulo. Mas ninguém pagava a passagem de sua assistente, que vinha a ser eu ... Daí eu ter começado a fotografar sozinha. Fui ganhando experiência e acabamos montando o estúdio onde trabalho até hoje.
Eu trabalho muito, mas nunca deixo de ler, nunca deixo de ir ao cinema, nunca deixo de ver uma exposição, nunca deixo de ver uma pintura, nunca deixo de ouvir uma música. Nunca considero que o universo da moda é maior do que realmente é. E nem acredito que este é o único mundo que existe. E eu também faço publicidade, foto de produto, fotos para exposição, fotos para livros, etc. Faço de tudo um pouco, pois o mercado oscila de acordo com o país: não dá para você abstrair o mercado editorial, o mercado de uma maneira geral, da realidade na qual vivemos. Tudo caminha de acordo com a onda do momento.
Quando os orçamentos caem demais, o fotógrafo necessita trabalhar dentro desta realidade. Em outros momentos, os preços sobem ... Então você pode sofisticar mais o seu trabalho, pois dispõem mais de recursos para trabalhar. É necessário ir de acordo com a onda do momento. Há muitas revistas femininas no mercado. Mas tem muita revista que não investe em fotógrafos.
Existe o glamour da moda, que vem a ser cativante, sedutor. Mas eu brigo o tempo todo com este glamour, porque se você se deixa envolver, o seu trabalho fica menor/superficial. A foto da moda necessita ter um encanto de moda, para ser uma autêntica foto de moda. Mas é necessário que o fotógrafo tenha uma visão mais ampla para que o seu trabalho não passe rápido.
Para se manter aceso, a dica é estudar sempre, além de ficar atento à informação. Tem mais: fotografia é escrever com a luz, sim. Você tem que saber optar por uma determinada iluminação, enxergar com a luz. Eu luto muito por isto, porque cada vez mais tem pessoas que querem corrigir seu trabalho no computador. Em 90% dos casos estragam seu trabalho, porque ao "escanear" uma foto a pessoa muda a luz, e acaba mudando tudo, entende?
Para mim, volto a dizer, fotografar é escrever com a luz. É valorizar uma roupa, porque você soube fazer uma boa luz. Depois, você pode entrar com um ângulo, com uma lente diferente e com não sei mais o quê. Mas o começo de tudo é a luz ...
(Depoimento de Nana Moraes, para o livro "Um negócio chamado moda", editora Senac. Amanhã, segundo domingo de agosto, é dia dos pais: aqui uma homenagem a dois grandes fotógrafos: JoséAntonio e sua filha Nana Moraes)
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