quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ROSE BERTIN & MARIA ANTONIETA POR STEFAN ZWEIG






Trecho do livro Maria Antonieta do grande e imortal escritor Stefan Zweig - páginas, 95 e 96.

     "Qual é a primeira preocupação de uma rainha rococó quando se levantava no Palácio de Versalhes?  Os relatórios da cidade ou do Estado, as cartas dos embaixadores, para saber se os exércitos venceram, se teria sido declarada a guerra à Inglaterra? Nada disso.


     
     Maria Antonieta, tendo-se recolhido, como de costume, às quatro ou cinco horas da manhã, de volta da Ópera, de algum baile ou de algum jogo de hazard, dormia apenas algumas horas, porque a sua vivacidade exigia breve repouso; e o dia começava por uma importante cerimônia. A dama de honra encarregada do guarda-roupa entrava com algumas camisas, lenços e toalhas para uma toilette da manhã, tendo a seu lado outra nobre dama, a primeira camareira. Esta se inclinava e apresentava um grande livro, onde se achavam pregadas com alfinetes amostras de fazendas de todos os vestidos prontos e guardados no guarda-roupa. Maria Antonieta tinha que decidir que vestido desejava para o dia; escolha difícil e cheia de responsabilidade, porque cada estação eram encomendados doze (12) novos vestidos de gala, doze (12) vestidos de fantasia, doze (12) de cerimônia, sem contar as centenas que cada ano se faziam a mais. (Que vergonha se uma rainha da moda repetisse duas vezes o mesmo vestido!). Depois roupões, coletes e fichus, toucas, cintos, luvas, meias e saias de baixo saindo do invisível arsenal que dava trabalho a um exército de costureiros e roupeiros. 
     A escolha não era habitualmente rápida: mas, afinal, marcavam-se as amostras dos vestidos destinados ao dia: do vestido de recepção, do déshabillé para a tarde, da grande toilette de baile. A primeira preocupação estava vencida; pouco depois, saía o livro das amostras e entravam os vestidos escolhidos.
     Não é para admirar, dada a importância que se atribuía à moda, que a modista-mor, a divina Mademoiselle Bertin, tivesse tido sobre Maria Antonieta mais influência que todos os ministros, porquanto estes eram substituídos às dúzias, ao passo que aquela era única e incomparável.
     De origem assaz modesta, ela não passava de uma operária de baixa plebe, enérgica e ambiciosa, mais apta a meter o ombro que a mostrar boas maneiras; mas a mestra da haute couture subjugara inteiramente a rainha. Para favorecê-la, dezoito (18) anos antes da verdadeira Revolução, houve em Versalhes uma revolução palaciana: Mademoiselle  Bertin havia infringido a lei da etiqueta, pela qual nenhuma burguesa tinha acesso aos petits cabinets da soberana. A artista da agulha obteve o que continuava interdito a Voltaire, como a todos os poetas e pintores da época: ser recebido pela rainha. Quando, duas vezes por semana, se apresentava com os seus figurinos, Maria Antonieta abandonava as nobres damas e retirava-se com ela para os aposentos particulares, onde tinham longos conciliábulos, a fim de lançar com a veneranda artista uma moda ainda mais louca que a da véspera. (...)"


Quem se interessar: vale ler a biografia de Maria Antonieta por Stefan Zweig. 
Fui apresentada às obras de Stefan Zweig pelo meu pai, Guilherme, um leitor voraz. Na época estava na adolescência.  Estudei jornalismo na UFF (Universidade Federal Fluminense), me formei, trabalhei como jornalista e posteriormente comecei a dar aulas - e aí apresentei a Maria Antonieta de Stefan Zweig aos meus queridos alunos. Eu xeroquei as páginas 95 e 96 e incentivava meus alunos a ler a moda/a estética através dos olhos brilhantes de Stefan Zweig -  lição que recebi do meu pai e me acompanha pela vida. 

Quem foi: Stefan Zweig (Viena  28 de novembro de 1881 - Petrópolis 23 de fevereiro de 1942). Escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco. A partir da década de 1920 até a sua morte foi um dos escritores mais famosos e mais vendido no mundo. Suicidou-se durante o seu exílio no Brasil, deprimido com a expansão da barbárie nazista na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. (fonte Wikipédia)


Guilherme Joffily Bezerra de Mello -  médico, funcionário da ONU, chefe-adjunto do CIME - Comitê Intergovernamental  para  Migrações Européias - no Brasil. Faleceu em abril de 1972, seis meses após ter recebido um comunicado do general Médici, que os serviços do CIME e consequentemente os seus serviços não eram mais necessários ao país. Na época foi convidado pela ONU para ir trabalhar em Genebra, Suiça.  Teve cinco filhos, sendo que três faleceram, prematuramente.  (Fonte: sua filha, Ruth)





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