terça-feira, 26 de agosto de 2014

MODA E IDEOLOGIA.



     "Ideologia possui diferentes significados. No senso comum significa ideal e contem um conjunto de ideias, pensamentos ou de visões de mundo de um individuo ou de um grupo." Fonte: redes sociais. 



     Como professora de história da moda procurei e sempre procuro inserir a moda na realidade, na história nacional. Por isto incentivei minha alunas a realizarem a exposição "Estética da violência", onde elas refletiram sobre como a nossa violência urbana, (infelizmente) de todo dia,  influi na maneira de nos vestirmos e no nosso comportamento ao sairmos na rua.
    No livro "O Brasil tem estilo?", Editora Senac, contei um pouco da história de Iara Iavelberg, assassinada durante o governo militar. Marisa Marinho, ex-aluna, se inspirou em Iara para fazer a sua monografia de final de curso de Design de moda Universidade Veiga de Almeida/Instituto Zuzu Angel.

     Iara Iavelberg foi assassinada pela ditadura militar que espalhou o medo no Brasil e se uniu a outras ditaduras militares da América do Sul. 
     Foi na ditadura militar que o Passarinho, então ministro da cultura, "gerou" o ensino de "moral e cívica" e condenou o ensino com ideologia. Ou seja, defendia um ensino técnico sem reflexão sobre a vida cotidiana, sobre a vida dos estudantes e sobre a vida que pulsa fora dos ambientes ditos acadêmicos.
    Uma pergunta: será que até hoje há quem deseje ensinar e quem deseje estudar sem refletir sobre a realidade que pulsa nas ruas?

          Abaixo, escaneadas algumas reportagens, inclusive a reportagem onde a jornalista, especializada em economia,  Miriam Leitão, quase cinquenta  anos depois, se declara uma ex-torturada. Há também uma  reportagem do extinto Correio da manhã com o então ministro Jarbas Passarinho, onde ele, entre outras coisas, "condena o ensino e o estudo com ideologia."

     Em tempo: agradeço à socióloga Moema Toscano que me emprestou, para eu poder escanear, a reportagem do ex-ministro Passarinho. Moema arquivou a reportagem do Passarinho e anotou  "asneiras dos 'revolucionários'".
     Pois é o Passarinho era um ser com ideologia e por isso apoiou um golpe, uma revolução de extrema direita que prendeu, torturou, matou e esquartejou e "sumiu" com muita gente. Fizeram isto em nome de uma ideologia. Mas em nome da ideologia deles, aboliram a ideologia dos colégios públicos, particulares , dos cursos técnicos e das universidades públicas e particulares do país. Deu no que deu: ainda há muitos brasileiros adeptos do "tô nem aí, tô nem aí ...!, imortalizado por Miguel Paiva (vide abaixo)
     


     Quem foi: Iara Iavelberg: 
     No livro "Iara" de Judith Lieblich Patarra (ed. Rosas dos Tempos), que vem a ser uma reportagem -biográfica,  a autora assinala que a estudante-militante, Iara Iavelberg admirava o viver intenso e a alegria.
     (....) E numa reunião da POLOP onde foi analisada a cassação dos direitos políticos do então governador Adhemar de Barros, houve uma das costumeiras discussões sobre finanças. O compromisso de contribuírem com uma percentagem de salário falhava. Naquele dia, sem calcular o impacto, Iara descreveu as novas roupa. (...) Disseram: como é que você compra o supérfluo se precisamos tanto de dinheiro? (...) 
     
Segundo a autora, Iara, aborrecida, ironizou os discursos e defendeu-se, advertindo que "num trabalho ilegal, dar na vista seria cana certa. Burrice os militantes andarem molambentas, os companheiros que ouvissem a voz do povo - o hábito faz o monge" (trecho retirado do livro "O Brasil tem estilo, editora Senac - 2000)




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