Outro dia vi e ouvi uma reportagem com os pais do jogador de futebol William, da seleção.
Sua mãe, na entrevista, disse que a história do seu filho é igual à história de muitos outros jogadores. Ou seja, William nasceu pobre, começou a jogar futebol cedo e se tornou um craque. Como craque da bola passou a ganhar muito dinheiro, tornou-se uma celebridade e resolveu todos os problemas econômicos seus e da sua familia.
Para se praticar o futebol é necessário uma bola, que já foi até de meia , como bem canta Milton Nascimento. Futebol também é um jogo que exige equipe. Ou seja, não é na base do "eu sozinho".
O futebol chegou aqui só falando inglês, sendo disputado por "novos ricos" em clubes fechados, que não admitiam negros.
Mas em 1912, ano de nascimento de Nelson Rodrigues, o futebol brasileiro alcançou sua terceira década de vida, deixou os clubes gran-finos e espalhou-se por várzeas e agremiações populares. E de tanto ser praticado em cada esquina, em cada bairro das grandes e pequenas cidades brasileiras, acabou inteiramente abrasileirado. Ou seja, se tornou sinônimo de Brasil.
De acordo com Nelson Rodrigues, a pátria "calça chuteiras" para acompanhar a seleção de futebol.
Nos orgulhamos de saber jogar futebol. Não temos prêmio Nobel algum, mas os "reis" do futebol são nossos.
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Somos fortes no futebol, daí o povo venerar o esporte das multidões.
Já a moda brasileira - é uma moda nas passarelas e outra nas ruas. O futebol nacional fala muito bem o português. O mesmo não se pode dizer da nossa moda.
No futebol somos referências no mundo inteiro, o que nos dá segurança. Na moda, será que já criamos nossos próprios pontos de referência, nossas balizas, nossos pontos de apoio?
No futebol temos o conceito de nação - Daí Nelson Rodrigues ter afirmado: "Se Euclides da Cunha fosse vivo, teria preferido o Flamengo a Canudos para contar a história do povo brasileiro."
Na moda, qual o conceito que temos como nação? Será que continuamos copiando coisas prontas, traduzindo tudo e preferindo citar a pensar? Será que na questão de estilo, na industria da moda ,ainda se faz pouco caso dos observadores genuinamente nacionais?
Mas em tudo que realizamos necessitamos criar nossas referências, nossos pontos de apoio, nossas formas de ver o mundo. Pois só assim, para Stephen Kanitz, vamos descobrir os "inteligentes"no Brasil, país que dá imenso valor aos "eruditos da cultura alheia".
Kanitz destaca que Silvio Romero, já em 1880 identificava como o grande problema brasileiro a "imitação do estrangeiro na vida intelectual" e que Gilberto Freyre em "Casa Grande & Senzala nos definia pela 'aptidão para imitar.
Será que a estética nacional está insegura neste mundo globalizado?
Precisamos gerar mais referências e pontos de vista e fortalecer a nossa forma de ver o mundo.
Já dizia Tolstoi, fale da sua aldeia e você falará para o mundo. O nosso futebol já nos deu esta lição: começou a ser jogado em cada cada esquina e acabou conquistando o mundo.
No futebol, nós somos respeitados, nós somos admirados. O mesmo pode ocorrer com a moda. Para isto, necessitamos desenvolver muitos projetos em comum. Precisamos ser solidários e cumplices.Precisamos, como afirma Stephen Kanitz, "criar nossos pontos de referências, em um trabalho conjunto.
(Anotações: artigo "Senso de Observação " de Stephen Kanitz; outros autores/escritores que também "falaram" do futebol: João do Rio, Lima Barreto, Alcantara Machado e Mario de Andrade e, é claro, Nelson Rodrigues, torcedor do Fluminense ,que afirmou: "Fluminense nasceu quarenta séculos antes do Paraíso!!")
Acima, o sonho de todo menino, jogar um bolão! E Alice Jung com a camisa do Grêmio de Porto Alegre (RS). E no desenho, "virando o nosso mapa para cima, para o Cruzeiro do Sul, proposta de Stephen Kanitz - afinal, o mundo é uma esfera!!
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