quarta-feira, 9 de julho de 2014

O BOM-SENSO ESTÁ NA MODA

desfile georgia 2 Desfiles malucos: isso é moda?


A roupa é uma moldura. É a maneira da pessoa mostrar quem ela é, o que sente. É uma forma de expressar a individualidade. A arte do bem-vestir não se resume à questão do poder aquisitivo.


     Não é vergonha nenhuma pesquisar bem para se decidir por essa ou aquela peça de roupa. E o fato de um determinado estilo estar na moda não é razão para você ir correndo adquiri-lo.
     A pantalona com estampa floral e a blusa da etiqueta X viraram moda. Todo mundo está comprando. Você não quer ficar fora da onda. Junto um (suado) dinheiro e adquire o conjunto. No fim-de-semana há uma festa. É uma boa oportunidade para estreara a nova roupa. Passa o dia todo se produzindo e sai , à noite, trajando a pantalona e a blusa. Ao chegar na festa vê que há meia-dúzia de mulheres vestidas igualzinho à você.
     A individualidade foi cerceada. É o que dá se cobrir de  grifes que nem corredor de Fórmula 1 ...!
            
                            CADA CABEÇA, UM ESTILO

     Fatos como esse são comuns, pois quando há uma peça na moda, muitas mulheres se decidem pela onerosa uniformização. Que se dane o fato da roupa combinar ou não com o seu tipo físico. O invariável predomínio da silhueta que está em voga faz pensar que todas as mulheres (altas, baixas, magras ou gordas) se transformaram numa única mulher. Até parece que pegamos uma nave do tempo e retornamos ao paraíso. Lá existia uma só mulher,  a Eva.
     Além da silhueta própria de cada uma, devemos pensar que a roupa deve ser usada como uma forma de expressão da personalidade. Cada mulher deve descobrir a sua maneira de vestir, porque cada uma tem a sua maneira de ser, de sentir e de viver.
     Conta-se que no século XVII corria pela Europa um provérbio que dizia: "Siga a moda e deixe o mundo." Como estamos no inicio do século XXI é saudável pensar num vestir que respeite a individualidade.
     Estilo pessoal-qualidade-preço são as palavras-chaves, o abre-te sésamo dos tempos modernos. Usar a mesma roupa em outras estações é possível, desde que se abra mão dos ditames da moda. 
     É preciso não encarar a moda como uma religião ou dogma. Por outro lado não há como negar que a moda tem o seu fascínio. Mas compreendendo um pouco do assunto, dá para absorver as tendências e adaptá-las a si mesma, criando um clima de simplicidade e comunicação.
     
                     A QUESTÃO É QUALIDADE

     O difícil é separar , na hora da compra, o joio do trigo, selecionando o que realmente vale à pena. Trigo é, por exemplo, uma peça clássica. Define-se como clássico a roupa de excelente qualidade, que possui uma forma perfeita, simples, sóbria, apuro no corte e sem excessos de ornamentação. Um tailleur (conjunto de blazer com saia reta, pouco acima ou beirando os joelhos) é um clássico, desde que tenha um corte primoroso, seja confeccionado num tecido que não se prenda a modismos (exemplos: linho, gabardine, seda, crepe) e ostente uma tonalidade sóbria como o azul-marinho, preto, marrom ou bege-queimado.
      Clássica também a camisa no estilo masculino no feminino, fabricada num excelente algodão, linho ou cambraia de linho e que possua um colorido atemporal como o branco, marfim, cinza ou as cores castanhas. Outra peça que alcançou a categoria de clássico é o vestido estilo camisa masculina, aberto ou abotoado na frente, inteiramente ou em parte, e que pode ser usado com ou sem cinto.
     As peças ditas clássicas não caras, porém representam um excelente investimento. Mas é preciso cuidado para não comprar gato por lebre. Trocando em miúdos, uma peça de corte clássico, mas num tecido pouco resistente com estampa ou cor muito chamativa não terá vida longa. 

                          O DOM DA MISTURA
   
      Já o básico se caracteriza pelo seu clima esportivo. Em linhas gerais, básico é tudo aquilo que serve de base para alguma coisa. Uma camiseta é básica, assim como um blazer, uma jaqueta, uma bermuda, uma calça ou um jeans. A essência do bem vestir está na mistura do básico com o clássico. É feito uma alquimia. A correta mistura dos ingredientes é alcançada após algum tempo de exercícios práticos.
     É fundamental lembrar que as escolhas de tecidos e de tonalidades é o calcanhar de aquiles desta história. Algodão, malha, gabardine, sedas (mesmo as mistas de boa qualidade), crepes, linho ou cambraia de linho são algumas das boas aquisições.
     As cores sóbrias como o azul-marinho, os beges, a família dos castanhos, dos marrons, o cáqui, o cinza e todas as suas nuances, o preto, o branco e o marfim permitem que se misture, com liberdade, as peças clássicas e as básicas sem correr o risco de cair em excessos.
   
                             O JOGO DOS ACESSÓRIOS
   
     Inegavelmente bonitas, as tonalidades fortes e as estampas explosivas são, porém, muito marcantes. Não dá para vesti-las dia-após-dia. Todos vão notar e achar que você só possui aquela roupa. O melhor é deixar as cores extravagantes para as peças ligeiras ou para os acessórios.
      Segundo o estilista José Augusto Bicalho, o segredo da elegância da mulher francesa reside num precioso segredo. Elas investem apenas em boas peças e são capazes de acessorar um colete ou um clássico blazer com um lenço multicolorido comprado em um ... camelô!
     Do lado oposto, peças básicas e esportivas, como o jeans e a camiseta assumem ares de sofisticação se ganham, como complemento, por exemplo, um lenço em pura seda. Os acessórios alteram a ordem dos fatores. Dão a nota de irreverência a uma peça elegante e sofisticam a roupa mais ligeira.
     Como se vê, o bom-senso é a  bússola. Assim como um estilista utiliza critérios pessoais ao se decidir dar mais ênfase a este e não aquele estilo, a consumidora necessita usar os seus critérios para escolher o que deve ou não usar. Caso contrário, está exposta a um verdadeiro bombardeio de publicidade e marketing, todo dirigido à uniformização do belo. O uso de roupas quando é imposto de fora ao invés  de se basear naquilo que você é, transforma a moda num enigma que nem o da esfinge: "Decifra-me ou te devoro".
  
(crônica de moda, publicada na Editora Abril, na revista Máxima, onde assinei com o pseudônimo de Ruth Tavares)

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