sexta-feira, 11 de julho de 2014

O VESTIR NO COTIDIANO - REFLEXÕES


         Certa vez comprei uma linda sandália em uma muito conhecida grife. No primeiro dia que a calcei, parte do pequeno salto ficou preso em um buraco que tinha numa calçada da zona sul do Rio de Janeiro. 
     Fui ao sapateiro e ele me disse que nada havia a fazer: o jeito era trocar a sandália por uma nova. 
     Resolvi ir na loja, situada no bairro de Ipanema. Procurei a vendedora que havia me atendido e expliquei para ela a situação. E ela foi logo me dizendo: "Ih, esqueci de lhe dizer que esta sandália é para ser usada por quem pega o carro na garagem e salta em outra garagem ..."  Ou seja, não era uma sandália para se andar na rua! 
     Bem consegui trocar por uma nova sandália que ainda tenho e uso, eventualmente.  Como não perco a mania de andar, contei este pequeno fato às minhas então alunas,pois gostava de iniciar as aulas com uma conversa com a turma: os assuntos técnicos estão previamente ligados a uma postura de vida. Afinal, trabalhamos com seres humanos. 


     Falar sobre a vida, falar sobre a participação de todos na cidade, falar do estilo no cotidiano, falar sobre o que lia nos jornais. 
     Em busca de reflexões sobre a vida cotidiana  realizamos, minhas ex-alunas, o professor Colmar Diniz e eu, a exposição  "A estética da violência". O cenógrafo e figurinista Colmar Diniz (diversas vezes premiado no Brasil e no exterior) montou a exposição com as alunas da pós-graduação da Universidade Veiga de Almeida. Algumas escreveram textos sobre a estética da violência: dois textos escritos por alunas estão escaneados nesta postagem.
        Aqui também estão escaneadas duas reportagens: uma, recente, sobre a "gangue das bermudas em Copacabana" e outra, que tinha guardada nos meus arquivos, sobre uma "sudanesa detida por usar calças" que foi condenada à prisão!
     São dois tipos de reportagens que falam sobre a roupa: uma gangue que é definida não só pela maneira como age, mas também pela forma como se veste, isto no Rio de Janeiro em março de 2014! E o outro fato, ocorrido em 2009, em um país islâmico, uma mulher é condenada por vestir calças compridas - ou seja, de novo a roupa em pauta. No caso, em um julgamento em um país que não é laico, e há uma lei para os homens; outra para as mulheres. 
           Creio que uma postura humanística de um (a) professor (a) é inseparável do saber técnico de suas aulas. Não dá para separar a técnica da vida e a técnica do ser humano.



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