domingo, 25 de maio de 2014

A HISTÓRIA DO SUTIÃ - PRIMEIRA PARTE



     Os espartilhos eram feitos de uma planta chamada esparto, que também é usada para fins medicinais. Daí o nome espartilho. As folhas do esparto eram empregadas para fazer cestos, cordas, esteiras e espartilhos.
 
  

 No início do século XX, a mulher ainda usava espartilhos, só que eles não eram mais feitos de matéria vegetal, leia-se esparto. Nessa época, eram feitos de barbatana de baleia ou de lâminas de aço. Seu corte era semelhante ao de um colete bem ajustado ao corpo, comprimindo o estômago, a cintura e deixando as costas erectas.
     O uso do espartilho representou, para as mulheres, dores e lágrimas. Mas elas faziam o sacrifício para se sentirem bonitas, de acordo com os padrões da época. 
     Fala-se muito dos pés das mulheres chinesas, atrofiados na antiga tradição pelo uso de faixas que comprimia-os permitindo que usassem sandálias de tamanho menor. O andar das senhoras dos mandarins, em passinhos miúdos, contrastava com o passo largo e decidido dos seus maridos. Era a mulher se diminuindo para ressaltar a necessidade do homem protegê-la:o distanciamento dela das decisões e do trabalho.
     As cinturas finas das nossas bisavós e avós tinham também o objetivo de mostrar que o homem, numa só braçada, poderia envolver essa mulher-cálice.
     Fingir essa fragilidade, num tempo em que a silhueta feminina era robusta (em muitos casos mais robusta do que a atual) exigia um grande sacrifício. Muitas mulheres deixavam-se apertar nos espartilhos até nos meses mais adiantados da gravidez. 
     Antecipando Vinicius de Moraes, como que diziam para si mesmas que a saúde não importava. Beleza sim, era fundamental.  Foram gerações de mulheres com costelas atrofiadas, problemas respiratórios crônicos, rins danificados,colunas vertebrais deformadas, bacias estreitas demais, partos arriscadíssimos.
     E tudo isso era típico de uma sociedade em que, literalmente, a mulher tinha pouco fôlego. Não é de se espantar. A mulher da "Belle Époque" - período que antecede a Primeira Guerra Mundial - era um bibelô ambulante, cercada de luxo, mas sem liberdade.
     Nesse contexto, a liberdade ficava com as empregadas-assalariadas que tinham que trabalhar e, por questão de sobrevivência, acabavam quebrando as regras de comportamento da época. 
     A mulher-bibelô, com seu espartilho, nem conseguia se vestir sozinha. Possuía uma criada de quarto, que era quem prendia o espartilho ao seu corpo. Mas a criada e as outras mulheres assalariadas não tinham condições de usar aquele colete tão apertado que ia tirar o fôlego para o trabalho. E sem trabalho, como sobreviver? 

     
     (texto que escrevi, na primeira década do século XXI para o site WMulher)















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