terça-feira, 6 de maio de 2014

MODA - FRUTO DO COMPORTAMENTO HUMANO







O que é moda?Há quem diga que moda é meramente um estudo sobre roupas.Há quem diga que nossos próprios corpos são moda.Assim como há quem diga que moda é o estudo de tendencias. Moda está na linguagem, nas gírias (que nascem, marcam uma época e somem), na decoração, nas artes (artistas, diretores, obras que entram e saem da moda), na justiça (leis que ficam na moda), nas atitudes, no comportamento, etc. Há quem, infelizmente, considere moda linchar, assassinar pessoas praticando a barbárie. Mas há, felizmente, que lance moda fazendo artes, artes das boas, inesquecíveis.


O falecido, gênio da arquitetura,Oscar Niemeyer lançou uma tendência, um estilo na arquitetura. Machado de Assis, José de Alencar buscaram (e eternizaram) uma brasilidade na literatura. Bossa Nova, um ritmo nosso, é a mistura do jazz com o samba. O funk, ritmo sincopado, com forte influência do jazz, chegou aqui, dominou as favelas (que foram rebatizadas com o nome de comunidades),vindo dos EUA, vindo da música negra norte-americana, e ganhou , entre nós, nova roupagem, contando "coisas nossas". Beijinho no ombro, virou moda.



Moda,em suma,é o ser humano:É o que ele vê,faz,pensa,come,toca,é o que se gosta de fazer e,especialmente, como se dão essas interações todas.
É isso que garante que uma mesma realidade suscite sensações distintas entre as pessoas.
Nesse aspecto -- considerando que não existimos numa redoma , não somos paridos por chocadeiras e nem nascemos sabendo -- moda engloba também os  nossos relacionamentos, o nosso jeito de agir e, muitas vezes a nossa forma de pensar, de teorizar e/ou de viver.

Entretanto,isso não se restringe à nossa família,seja ela a de sangue ou a que construímos em nossa jornada de vida.Engloba, sim,enfatizo,  a forma como interagimos com outras pessoas,mesmo indiretamente.
Inclui também a forma como interagimos com o nosso glorioso e magnifico planeta terra,e com os demais seres que compartilham conosco não só o planeta onde habitamos,mas o tesouro maior que é a vida.

Por isso,proponho a todos que peguem um martelo e quebrem a bolha que os rodeiam. Contemplem a vida ao seu redor .Um mundo magnifico nos cerca,apesar dos pesares.Moda não serve pra nos aprisionar. Pelo contrario,moda é liberdade,não só individual,mas coletiva.É uma construção para fazermos, juntos.

Abaixo, mais um crônica do Carlos Heitor Cony, que reflete sobre a moda nas palavras, no uso da linguagem verbal ou escrita. Esta crônica, publicada no jornal "Folha de São Paulo", em 5 de julho de 2003, também já utilizei em aulas, para refletir com os alunos sobre os imensos caminhos da moda. E o que pode nos levar, por comodidade ou por medo a ser apenas mais um no rebanho do comportamento repetitivo, diariamente "escaneado".

 O VIÉS DAS PALAVRAS
    " Rio de Janeiro - É comum as gentes eruditas desprezarem a moda em suas diferentes modalidades e gêneros. Julgam-se comprometidas com os valores eternos que repudiam o efêmero. Elas reclamam de tudo o que pode ser transitório, mas são as primeiras a embarcar na canoa furada das novidades em matéria de linguagem.
     Já foi tempo em que era erudito falar em "a nível de", como foi radiante quem descobriu que as coisas devem se inserir num contexto. Os jornalistas mais escolados descobriram o verbo "disparar" para se referir a alguma coisa que é respondida na "bucha", contemporânea das Guerras Púnicas e da descoberta da roda.
    Entrou em circulação, entre as cultas gentes, a palavra "viés". Fui ao "Aurélio" e ao "Houaiss" para saber do que se tratava. Para Aurélio, viés é uma direção oblíqua ou uma tira de pano cortada no sentido diagonal da peça. Olhar de viés equivale a olhar de esguelha.
     Para Houaiss, que sempre foi moderadamente complicado, viés é "o fato furtivo, esconso, de obter ou fazer concluir algo". Tive preguiça de consultar o que era "esconso", mas acho que entendi mais ou menos.
     O espantoso é que, há cinco, seis anos, ninguém se atrevia a mencionar essa palavra, a não ser em matéria de costura, ou seja, da tira de pano cortada em sentido diagonal da peça. De repente, tudo passa a ser viés, o econômico, o social, o político, o artístico, o esportivo e o culinário.
     Quem diz ou escreve "viés" sente-se um iluminado, um Moisés com as tábuas da lei. Outra noite, numa palestra com estudantes, um deles me perguntou se era legítimo o viés da literatura atual.
     Sinceramente, não entendi bem a pergunta, porque ainda não havia ido ao dicionário do Houaiss. Se tivesse ido, responderia que a literatura olha de esguelha a sociedade. No fundo, é uma coisa esconsa."   



     
Miguel Paiva e o seu personagem: "O Gatão de meia-idade - jornal O Globo.

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