sexta-feira, 30 de maio de 2014

GREGÓRIO FAGANELLO - (MUITO) BREVE BIOGRAFIA

FABRIZIA GRANATIERI/AG. ISTOÉ

     "A vida profissional de Gregório Faganello é uma sucessão de descobertas. Estudante de economia na USP (Universidade de São Paulo) descobriu a vida artística e chegou a fundar um teatro, O "Vereda" que funcionava numa antiga oficina mecânica. Lá, ocorreram os primeiros shows de Maria Bethânia, no programa  "Cult Songs", que se realizava às segundas-feiras. O "Vereda" prometia ter um futuro promissor, mas veio a repressão do governo Médici e o teatro fechou. Gregório abandonou não só a USP, onde cursava o quarto ano de economia, como resolveu sair de São Paulo.

     Com uma bolsa de estudos para a Escola de Belas Artes da França, deu um 'pulo' no Rio de Janeiro. Ao chegar , apaixonou-se pela cidade, e acabou ficando. Alugou, através de uma amiga de Maria Bethânia, uma cobertura no famoso ex-200 da Rua Barata Ribeiro, em Copacabana.  E aí se iniciaram uma série de acasos na vida deste estilista, que sempre foi um homem de ação e que pela ação soube sair do universo repetitivo do cotidiano, onde todo mundo se parece com todo mundo. Se o código das pessoas é composto de palavras-chaves, o de Gregório é baseado em trocas, solidariedade.
     
     No apartamento recém-alugado, encontrou, em estado de total abandono, couros e linhas, resquícios que haviam sobrado de algum trabalho artesanal. Vendo aquela matéria-prima,e como estava sem perspectiva de vida, resolveu agir e começou a fabricar bolsas. Tornou-se , em pouco tempo, o artesão no. 4 da Feira Hippie, em Ipanema. Foi na Praça General Osório que o Zé Luiz Itajaí, então proprietário da butique "Bibba", e Carlos  Alberto Andrade, que era dono da butique "Aquarius", descobriram Gregório Faganello e suas bolsas. 

     E o artesão recebeu uma encomenda colossal ...

     Ser hippie estava na moda, e Gregório não desprezou a oportunidade. Para entregar o pedido no prazo, abandonou a feira da Praça General Osório e mudou de apartamento. 'Eu necessitava de um espaço maior para dar conta do trabalho.' Alugou um apartamento e um atelier no mesmo prédio na Rua Dias da Rocha.
Criativo, competente e conhecedor de suas próprias limitações, Gregório, que nunca teve medo de se envolver com gente, concluiu que seria interessante fazer uma sociedade, pois assim teria com quem repartir o trabalho e, consequentemente, os lucros. E a sua primeira sociedade nasceu no prédio onde morava. Norberto, alfaiate profissional, era o seu vizinho do andar debaixo e aceitou ser o responsável pela fabricação de roupas e bolsas. Coube a Gregório a parte de criação e comercialização das peças.
     
     Os pedidos foram crescendo, e o sócio não dava conta de entregá-los a tempo e hora. 'Fiquei devendo mercadoria para todo o Rio de Janeiro', lembra-se Gregório. Sem poder cumprir os prazos assumidos, o jeito foi romper, a contragosto, com a sociedade que tinha seis meses de vida. 'Fiquei triste, lamentei, queria que o Norberto tivesse o meu pique. Mas não houve jeito ..." Na saída, por ocasião da divisão dos bens da empresa, Gregório desafiou Norberto ao dizer: ' vou chegar aos píncaros através do trabalho'.
    
     Suportando a relatividade das relações humanas e comerciais, e aproveitando um tempo em que a indústria da moda carioca, no seu nascedouro, oferecia muitas oportunidades, aos poucos profissionais da área, Gregório mostrou a Miguel Saade, na época sócio-proprietário da Dijon, sua primeira coleção de roupas masculinas. 'Ele ficou alucinado e comprou tudo ...' E a ascensão deste estilista de fôlego foi se concretizando de maneira lenta, harmoniosa e estruturada.

     Interessante é que Gregório, sem deixar de viver plenamente o presente, lembra-se do passado e não reduz seus maiores encontros a raquítico e insignificante esqueleto de lembranças. Ele respeita e homenageia, com carinho, as pessoas com quem lidou na vida. 'Minha história é marcada por gente'.

     Doces lembranças deixou D.Tânia, ex-camiseira com curso na Maison Christian Dior em Paris, que começou a trabalhar como modelista para o Gregório poucos anos depois dele ter aberto a sua primeira loja, a 'Rainbow'. Lá o estilista vendia couro e meias femininas. A partir daí , sua carreira profissional vai tomando cada vez mais corpo. Abre a 'Gregório's, sua primeira confecção. Conhece a Rachel, proprietária da Rachel Presentes. 'Com ela aprendi tudo o que se refere à parte comercial, além de entrar em contato com a colônia judaica, onde formei uma clientela fixa e fiel'.

     No meio desta escalada profissional, umas férias forçadas no Ceará para curar uma úlcera do duodeno. Recupera a saúde e cai de paixão pela boca de Maria Anunciada - a Ada - uma cearense que havia rompido um noivado de sete anos. De volta ao trabalho, Gregório envia para Ada uma passagem aérea Fortaleza-Rio de Janeiro e uma promessa de emprego. O casamento oficial foi se realizar tempos depois, quando Ada estava no final da gravidez de seu primeiro filho Gregório Junior, e contou com as bençãos de Frei Clemente. Onze meses depois nasceu Tiago, que é de 1980. Mas a familia só ficou completa com a chegada de Maria, filha do coração, adotada quando tinha 5 dias de vida. Gregório, que sempre teve intimidade com a solidão, sua velha conhecida desde os tempos de estudante, época em que deixou Piracicaba, sua cidade natal, seus pais e sete irmãos, para cursar economia na cidade de São Paulo. Mas, de repente, se via encarando o desconhecido: uma vida familiar. Uma coisa é certa, Gregório gostou da experiência.

   Gostou tanto que estendeu sua ação de agregador, cúmplice e companheiro solidário ao âmbito profissional. Após conhecer Ada, criou o 'Clam' - Clube dos Lançadores de Moda do Rio de Janeiro, o primeiro grupo que uniu estilistas na história da indústria da moda nacional. O 'Clam' durou pouco, mas a ideia não. Algum tempo depois foi criado o 'Grupo Moda Rio', que fez um estrondoso sucesso e contou com a colaboração do Gregório, nos bastidores. Oficialmente ele não aderiu ao grupo. As feiras de moda nacionais e estaduais também contaram com a presença deste incansável estilista, que não perdeu uma oportunidade para lembrar - aos seus companheiros de profissão - a necessidade de união, de agregação e de participar coletivamente de eventos que divulguem o trabalho de quem cria moda nacional.

     Por sonhar com a maior cumplicidade entre os profissionais da área é que Gregório idealizou a Câmara da Moda do Rio de Janeiro, fundada em 1984 e que teve como presidente Lucia Costa, na época proprietária da Renova. Energia para tudo isso, ele encontra na sua vida espiritual, que é plena e constante. Há 17 anos Gregório faz parte da Irmandade Espiritual Estrela Dalva. Mediante estudos espirituais e e reflexão, ele tornou-se capaz de trabalhar com a vaidade humana, sem se deixar envolver por ela. Dizem que se compra o 'eu' de duas maneiras. Primeiro, pela ação;depois na vida interior. Aqui está o retrato de um ser humano, de um profissional, de um homem que pode se autodenominar completo, sem nenhuma falsa modéstia."

(Encontrei entre diversos escritos, entre diversos papéis que guardo, este texto-reportagem sobre Gregório Faganello, estilista que fez muito para unir/agregar os (grandes) estilistas cariocas. Gregório Faganello é um profissional inesquecível. Mas quando fui buscar fotos dele na internet ,cadê? - Se fosse um estilista europeu ou norte-americano o Google estaria com centenas de fotos dele ...  Acima, na imagem escaneada,  um (delicioso)  vestido estampado, criado por Gregório Faganello, ao lado de um vestido vermelho do Dener)


12 comentários:

  1. Ruth, se precisar eu ou minha mãe temos vários acervos do meu pai. Basta requisitar!

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  2. Ruth, se precisar eu ou minha mãe temos vários acervos do meu pai. Basta requisitar!

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  3. eu já adorava meu tio, mas era muito pequena. Parecia, para mim, pequena, haver dentro dele um jeito humano diferente do geral. A breve biografia coloca isso de forma mais clara. Excelente.

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  4. Chico Buarque nunca fez Economia. Pelo que eu sei, fazia Arquitetura e abandonou o curso

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  5. Faltou dizer que, por trás de tudo isso , havia a fábrica em Piracicaba, coordenada pela irmã dele, a Vera, onde minha avó trabalhou anos a fio. As rendas usadas pelo Gregorio, foram tingidas, por muitos e muitos anos, pelas mãos da minha avó.

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  6. Na verdade faltou muito, mas muito mesmo, porque dizer "por trás de tudo isso , havia a fábrica em Piracicaba," é pouco: a fábrica de Piracicaba e a incrível importancia que a Dona Vera tinha para o Greg, quasi ninguém sabía. Também nao disse nada da fábrica de Sao Cristovao, nada da boutique de Ipanema, nada da vida do Greg na sua cobertura, nada das viagems para Europa, nada da sua cachorinha Cócker Spaniel, nada da Dona Dora da Lelé, nada a respeito das lutas dele para chegar aonde chegou. Sei que o espaco é pequeno, mais dar um pulo tao gigante, da Diaz da Rocha ao casamento, deixando por fora tudo o que aconteceu na vida do Greg muito antes da Ada na vida dele, o Greg tería dito algumas palavras muito feias disso. Perdao o mau escrito. Nao sou do Brasil......mais conheci o Gregorio como poucas pessoas.... e doi......

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    1. Simmmm, com certeza o Gregório iria falar a sua opinião com toda franqueza,sobre muitos detalhes importantes que não foram incluídos aqui. Mas tudo bem, porque o que ele e a esposa Ada fizeram, faz por merecer o nosso respeito. Gratidão.

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  7. Olá,tudo bem? Me emocionei e me encantei com a história do Gregório Faganello. Apesar de ter convivido com ele e a Esposa Adda por um bom tempo, não conhecia a história dele. Linda história por sinal. Quando eu e minha irmã ainda eramos meninas, minha mãe Alcione (falecida), e minha tia, foram costureiras do Gregório Faganello no seu galpão de costura em São Cristóvão. Que alegria poder relembrar de tanta coisa maravilhosa vivida naquele lugar. Sem falar do carinho dele com todos, e principalmente com a minha mãe e minha tia. Ele realmente era uma pessoa muito especial. Apesar de criança, 3u me lembro bem do carinho e respeito que ele nutria pela mamãe, e como ele admirava o trabalho dela, como costureira, e nunca ter estudado modelagem, ou ter tido qualquer tipo de instrução oficial, mamãe era autodidata. Nós tínhamos a alegria de diversas vezes ir com ela entregar os trabalhos, que ela realizada em casa, por conta de nós. Ele sempre permitia que andássemos pela fábrica, escolhendo tecidos em caixas grandes, sobras que certamente seriam doados. Brincávamos de modelos....rsrs e ainda saímos com muitos cortes de tecidos, para mamãe fazer os nossos looks fashion...rsrs que akwgria6 reviver esse momento. Maravilhosa lembrança. Obrigada por isso! Pena ele ter nos deixado tão cedo. Gratidão!!!!!

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  8. Mas, certamente ele deixou um legado, ele merece essa homenagem. Foi um destemido.

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  9. Eu era adolescente quando ele morreu. Mas lembro que minha irmã tinha uma amiga chamada Cristiana que era modelo nos desfiles dele. Ela o adorava!

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  10. Eu o conheci quando era ainda uma criança, mas meu pai era muito seu amigo e um grande professor da Irmandade Espiritual Estrela Dalva.
    Lembro das diversas vezes em que íamos a sua casa, para as reuniões de estudo, onde eles estudavam sobre os Ensinamentos da Irmandade Espiritual Estrela Dalva e eu ainda garoto, brincava pela área de lazer.
    Tenho tantas recordações que me lembro até do carro que ele tinha na ocasião, uma Belina 4x4.
    Grandes recordações, deixo aqui meu abraço à família

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  11. Minha mãe dona Vera faganello não foi mencionada mas ela foi a pessoa que mais se dedicou a ele do começo ao fim

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