quinta-feira, 15 de maio de 2014

COM VOCÊS, GIL BRANDÃO - PARTE II



Gil Brandão lançou, em 1959, nas páginas do Jornal do Brasil, onde trabalhava na época, moldes prontos para roupa. Foi o primeiro e o maior divulgador desse método, no Brasil.

PALAVRAS DE GIL BRANDÃO: (declarações de Gil Brandão retiradas de uma reportagem de Mário Fonseca, jornal Correio da Manhã - 1971)

"Procurei desde o começo atingir o maior número de mulheres. Com os moldes, editados no Jornal do Brasil, elas têm, por dois cruzeiros, uma coisa estruturada na mão. Procuro dar um cunho social e utilitário à minha atividade."

"Não sou costureiro. Sei cortar. Dos meus estudos de geometria descritiva na faculdade de arquitetura, bolei um método de corte que é todo baseado em regras geométricas."

"Só podem vanguardear a moda, estritamente no sentido estético e funcional, aqueles que tenham uma consciência profunda do tempo em que vivem e de seus problemas, além de uma visão histórica do passado."

"A moda sempre reflete o condicionamento econômico, político e social de uma época. Isto acontece também em todas as artes plásticas. A moda sempre andou junta com as artes de uma maneira geral. Não se concebe, por exemplo, colocar uma Madame Pompadour numa igreja gótica ou numa igreja romântica. No entanto ficaria perfeitamente numa igreja barroca caindo para o rococó. A moda também existe em função da concorrência, da disputa entre classes, entre níveis de estratificação da sociedade. Em países em que a sociedade é rigidamente estratificada, como, por exemplo, a India, a moda dificilmente evolui. Então, até a maneira de se vestir na India é a mesma de séculos atrás: o sari, o turbante."

"Nas sociedades mais elásticas existe a moda. E quando ela surge aí, num primeiro momento não são as classes menos abastadas que a usam, mas sim as elites. Isso porque a moda é lançada por um mecanismo que está juntamente ligado à parte mais favorecida econômicamente. Então essas mulheres passam a usar.
Mas percebem que a empregada está usando a mesma moda, passam a querer outra coisa. Em virtude desta concorrência, de um status que a mulher quer aparentar através da roupa, a moda existe e muda constantemente."

"Então uma moda pega na medida em que facilmente pode atingir as diversas camadas. Mas ao mesmo tempo toda moda que pega rápida também desaparece rapidamente. Ela se espraia muito, mas tem a vida curta. Quando atinge uma mulher humilde. as que estão lá em cima não querem mais usar."


"Apesar dessa correlação entre a moda e todas as contingências político-sociais, às vezes ela peca por ilogicidade. Na Idade Média, por exemplo, as armaduras eram antifuncionais. As pessoas que as usavam tinham que ser colocadas por hários homens em cima de um cavalo e não tinham movimento. O homem lutava, é verdade, mas era quase fingimento de luta, porque não podia mover-se. Então nem sempre a roupa traduz a necessidade funcional e lógica de quem a usa e nem sempre a moda é coerente."

"Toda moda é sempre uma volta ao passado. Porque, por mais que se invente, a moda tem limites: pegar um pano e cobrir um corpo não possibilita muita coisa. A moda se exauriu. A maxissaia não deveria voltar nunca. Mas o que acontece: você não pode variar muito além do comprimento da saia. Que é que se pode fazer com uma saia, além de ficar movimentando a barra para baixo e para cima? Quando a minissaia cansou desceram as barras. Mas qualquer comprimento de saia significa uma volta ao passado. Assim foi com a minissaia. Ela é plasticamente pobre, paupérrima, lembra tanga de gladiador romano. É muito mais masculina que feminina. A maioria das pessoas acha que a moda é algo que tem que mudar. Por que tem que mudar? Por que essa mania? Por que uma mulher que se vestiu em 1971 de um jeito, em 1972 tem que se vestir de maneira diferente?

"O que está havendo atualmente na moda é o reflexo do que acontece no mundo inteiro; é o problema principal da humanidade em todos os aspectos: a defasagem entre a evolução tecnológica e a evolução do próprio homem.
O homem evolui muito lentamente, enquanto a evolução técnica é rapidíssima. O homem ainda não está preparado para essa evolução tão rápida; ele não progrediu interiormente e não está preparado para um novo mundo que está surgindo."

(Agradeço à talentosa costureira Carminha, mestre no corte e na costura, que muito bem educou seu dois filhos costurando, em casa. Agora, filhos formados - inclusive com doutorado -, e ambos trabalhando, ela diminuiu - um pouco - o ritmo de trabalho, mas não se aposentou, pois ama o que faz e tem contas a pagar, mensalmente. Ela me entregou alguns (poucos) recortes de entrevistas com o Gil Brandão. Os recortes, amarelados pelo tempo, que Carminha manteve colados em um caderno, trouxeram para mim os pensamentos de Gil Brandão que compartilho, aqui, com vocês)



2 comentários:

  1. ah, que vontade louca eu tenho de conseguir uma revista do gil brandão,pois eu estou apaixonada por costura alguem pode me enformar onde consigo revistas antidas desse grande artista da moda? obrigada brasilia -df. meu gmail suelibrv@gmail.com

    ResponderExcluir
  2. Confesso minha emoção... Você descreve fatos sobre o Estilista Gil Brandão, que eu não conhecia. Muito obrigada pela sua colaboração, em prestar essa homenagem a um GÊNIO como foi o nosso querido Gil! Parabens pelo seu artigo.

    ResponderExcluir