sexta-feira, 13 de junho de 2014

EDITANDO FICÇÕES: AS IMAGENS NAS REVISTAS II









 




    Para o jornalista Roberto Barreira, a imagem de uma revista é um conjunto de corpo e alma, como se fosse a imagem de uma pessoa. Engloba desde o formato, tipologia, a qualidade do papel e da impressão (no caso da revista impressa), ao design gráfico, o espírito e a linha editorial. Todos esses elementos criam uma linguagem gráfica, que pode ser agressiva, romântica, clássica, etc. A linguagem gráfica é a moldura para o espírito da revista. Ou seja, ela define quem é a revista, a quem se destina,que cultura ela espelha, quem é o seu público alvo. E tudo caminha de acordo com o espírito da publicação.
   
 

     Segundo Roberto Barreira, ao longo do tempo, as revistas existentes no mercado foram marcando uma linguagem. Há a linguagem visual do estilo Vogue; a revista Times "gerou" a revista brasileira Veja; há linguagem das franquias como Elle (que une no Brasil, um pouco do "estilo filosófico" da Elle francesa com o "estilo-serviço" ou, melhor dizendo, do pragmatismo do "time is money"(tempo é dinheiro) da Elle norte-americana. Já a Marie Claire nacional se assemelha (e muito) ao estilo da Marie Claire italiana, sobretudo quando o assunto em pauta é moda. Todas estas franquias viraram escolas, inclusive a revista Nova (da editora Abril) inspirada na norte-americana Cosmopolitan.

     Roberto Barreira também destacou que mesmo as revistas tidas como 100% brasileiras, como a Claudia, Manequim, a (extinta) Desfile, a Criativa nasceram em moldes estrangeiros. Perguntava-se sobre a imagem da brasileira diante do autêntico bombardeio da cultura norte-americana, intensificado com o neo-liberalismo, a era Bush, a globalização e todas as implicações aí inscritas. A cara, a altura, o porte, o peso da brasileira média seria tarefa de sociólogos e antropólogos.

     Roberto destaca que ainda não temos uma modelagem que defina os físicos, os corpos brasileiros. Cada confecção, cada grife, cada marca, mais ou menos famosa, tem a sua modelagem, geralmente inspirada em padrões estrangeiros. Nós que tanto copiamos os Estados Unidos, ainda não criamos, para nós, uma modelagem nacional, uma necessidade para podermos evoluir enquanto indústria, de olho, inclusive, na venda pela internet. Por sua vez, os norte-americanos possuem várias tabelas que representam os diversos tipos físicos existentes num país representado por diversas etnias. E baseado nestes tabelas (geradas após intensas pesquisas em todo território norte-americano) eles criaram a modelagem, utilizada para a planificação da roupa, assim como a planta baixa é utilizada, pela arquitetura, na construção de uma casa ou de um prédio.

     A propósito das reuniões de pauta da extinta revista Desfile, Roberto Barreira reafirma que a moda ali apresentada era copiada, ou melhor "chupada" das revistas estrangeiras. Usávamos as páginas das revistas estrangeiras como l.outs para se "criar" a imagem da moda nacional, da mesma maneira como há ainda quem viaje ao exterior e copie, sem adaptação, as tendências lançadas nos grandes centros do primeiro mundo. Viajar ao exterior transmite ao brasileiro uma incrível segurança, de status e de poder. Comprar uma marca estrangeira ou, quando fabricada no Brasil, como um nome estrangeirado, complicado, também dá status, poder, sensação de participar , de fazer parte do 'andar de cima', da elite. E a imagem feminina, socialmente construída, reúne vários ingredientes que foram construídos de fora para dentro, de cima para baixo.
  
     A jornalista Marilda Varejão, ex-discipula de Roberto Barreira,  pensa que as fotos publicadas nas nossas revistas femininas dificilmente refletem a realidade do país. Dificilmente trazem modelagens condizentes com os corpos nacionais. Ao contrário: são imagens glamourosas, produzidas, geralmente por produtores e editores que conhecem a estética e o requinte do primeiro mundo, e sonham que aquilo que vêem lá fora, possa ser curtido e usado pelas brasileiras.

         Ledo engano, à exceção das mulheres de classe A e B, nossas patrícias se espelham ou no que mostra a televisão ou, na maioria das vezes, nas vitrines de lojas populares, cujos preços condizem com seus bolsos. Ao menos  foi assim, até pouco tempo. Digo isto porque  hoje, no Grupo Abril, há revistas destinadas às leitoras de baixa renda. E as publicações editadas pela unidade de negócio "Alto Consumo" - que edita títulos como "Ana Maria", "Minha Novela!", "Viva Mais", "Contigo" e mais recentemente "Manequim" - procuram exibir em suas páginas algo mais próximo do que se vê nas ruas. Mas mesmo nessas publicações, a idéia é sempre procurar levar à leitora alguma coisa atraente, próxima do sonho do que da realidade que ela vive ...!


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