domingo, 8 de junho de 2014

JORNALISMO DE MODA - UMA PASSARELA ENTRE O GLAMOUR E O PRECONCEITO - PARTE III



FALA QUEM FAZ -  ADRIANA BECHARA E ÉRIKA PALOMINO, entrevistadas por José Reinaldo Marques - jornal da ABI  - trechos das entrevistas:




Jornal da ABI - Você saberia dizer se no jornalismo de moda há mais mulheres do que homens em atividade e por quê?

Adriana Bechara - Há mais mulheres. Acredito que seja porque vivemos em um país machista, onde os jornalistas não gays tenham um certo constrangimento em lidar com o assunto. E ainda, por causa disso, acho que os jornalistas da geral, economia e política, por exemplo, preferem lidar com mulheres do que com homens que gostem de moda.

Jornal da ABI - Muitos jornalistas consideram o jornalismo de moda superficial. Qual a sua opinião a esse respeito?

Érika Palomino - Bem, essa é a crítica no que diz respeito à moda como um todo. De toda forma, há diferentes abordagens, mesmo dentro da moda. Acho que tudo depende também do veículo. Não dá para fazer tese de sociologia numa revista de moda, mas dá para tentar ensaios mais sofisticados em cadernos de cultura mais elitizados.

Jornal da ABI - Os jornalistas de moda são bem remunerados? Que veículo paga melhor e quem são as estrelas das redações desse segmento no País? Você é uma dessas estrelas?

Érika Palomino - Não são bem remuneradas na mídia impressa, não. As estrelas deste mercado são Glória Kalil, campeã de palestras no Brasil todo; Constanza Pascolato, que escreve para a Vogue e é consultora. Se sou uma dessas estrelas? Bem, trabalho há 16 anos no maior jornal do país, onde sou editora de  revista de moda, editora de moda na Revista da Folha e colunista. Também dirijo meu site com 2 milhões de page views por mês, tenho duas colunas na Vogue, além de atuar como consultora e palestrante  em todo o país. Trabalho muito e acho que acabo ganhando pela onipresença!!


Breve história da imprensa feminina no Brasil:

Os historiadores Dulcília Busttone e Gondim da Fonseca contam que o primeiro periódico feminino brasileiro foi o jornal  O Espelho Diamantino, lançado em 1827 , no Rio de Janeiro, quase 20 anos depois da chegada da imprensa no Brasil. Gondim da Fonseca é autor do livro "A biografia do jornalismo feminino carioca", lançado pela editora Quaresma do Rio de Janeiro, em 1941. No final do século XIX, a imprensa feminina começou a se estabelecer nos folhetins, que editavam literatura e poesia com os assuntos de moda.

 ---O alicerce da imprensa feminina nos seus primórdios era a moda e a literatura. Outra curiosidade era que muitos veículos tinham nome de flor  e de pedras preciosas, como metáfora da figura feminina. Nesse período foram editados os jornais A Camélia, O Lírio, a Crisálida e A Violeta  -- conta a jornalista e historiadora Ruth Joffily.

     Em 1914 foi lançada a revista Feminina, primeira do gênero no Brasil. Mas foi na década de 1960, com o lançamento da revista Manequim, pela Editora Abril, em 1959, que as publicações dirigidas às mulheres passaram a espelhar a mudança de comportamento das brasileiras e a realidade do crescimento da indústria de moda no País, publicando matérias bem editadas, com fotos e moldes que permitiram que as mulheres pudessem confeccionar os seus modelos prediletos. Esse fato coincide com os movimentos de libertação da mulher, que começa a sair de casa em busca de educação e trabalho. Nos seus primeiros anos, a imprensa brasileira apenas reproduzia os figurinos que vinham diretamente de Paris (França). Como as estações do ano não coincidiam, era comum se vestir , em pleno verão tropical, modelos em tecidos quentes, com peles, apropriados para proteger os corpo do rigoroso inverno europeu.

     O costume brasileiro de se inspirar nas referências francesas teve início ainda no Brasil colônia e dominou toda a cultura  estética nacional até meados do século XX, conforme conta Ruth Joffily, que é mestre em moda pela UFRJ e autora de vários livros sobre moda na mídia, dentre eles Jornalismo e Produção de moda, editado pela Nova Fronteira.

     No jornal  A Estação (1879-1904), eram comuns as gravuras que traziam moldes, riscos, monogramas, literatura, figurinos de moda francesa.
     Em 1908, a revista Careta costumava publicar anúncios chamando os clientes para uma grande liquidação, oferecendo os artigos pelo nome original em francês. Num desses anúncios a grande atração era "a exposição de 8 mil cortes confeccionados para vestidos de senhoras, próprios para passeios,visitas, teatro, bailes e corsos, em filó, laine, seda,pongenette, voil religieuse de lã , comprados com saldo de estação de uma grande casa de Paris". Sobre esse costume a professora Ruth Joffily conta que "na rua do Ouvidor vivia-se uma pequena Paris da moda. Ali estavam as lojas como Torre Eiffel, Notre Dame, Mme Coulon, Paris Royal, a Raunier". Segundo a professora, Machado de Assis chamava a Rua do Ouvidor de "a via dolorosa para os maridos pobres."

(Terceira e última parte de Jornalismo de Moda, uma passarela entre o glamour e o preconceito - jornal da ABI - Associação Brasileira de Imprensa - - reportagem de José Reinaldo Marques - Rio de Janeiro - 2005)








  


























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