quarta-feira, 4 de junho de 2014

JACKIE: UMA MULHER SINGULAR

Foto: Está chegando a hora! Vamos todos prestigiar as apresentações dos alunos concluintes 2014.1. Confiram!











     Estava pensando se devia (ou não) colocar, neste blog, este texto sobre Jackie Kennedy.Eu o escrevi em meados dos anos 90 para uma exposição, em homenagem à viuva do ex-  presidente norte-americano John Kennedy, que foi organizada por Hildegard Angel. 
     Mas ontem ao me deparar com o convite de apresentação das alunas de design de moda da UNIPÊ, resolvi postar o texto, já que a aluna  Fabiana Gadelha vai apresentar, amanhã, dia 05/06/2014, em João Pessoa, Paraíba -  um projeto de moda, chamado "Jaqueline Kennedy, um mito da moda no século XX". 
     Á UNIPÊ (Centro Universitário de João Pessoa) me unem laços familiares, laços de sangue, já que um dos seus fundadores é o meu primo, Marcos Trindade. E lá trabalhou Rachel Joffily Abath, minha irmã, doutora ou PhD DEGREE em Social Policy & Social Work pela Universidade de Manchester - Inglaterra.  
     A apresentação deste projeto é um sinal de que  Jackie Kennedy ainda vive no atual imaginário da estética nacional. 


                          
              JACKIE: UMA MULHER SINGULAR
                                

     Quando a repórter-fotográfica Jacqueline  Lee Bouvier encontrou-se, em 1951, com o deputado John Fitzgerald Kennedy, não era uma jornalista qualquer. Além do cargo no Times-Herald - onde assinava a coluna "o fotógrafo responde" - , a moça de 22 anos não escondia que possuía um cérebro por trás da aparência ingênua, marcada por grandes e luminosos olhos pretos, maxilares altos, cabelos escuros e ondulados, além de uma voz fanhosa, sussurante, típica de uma menininha desprotegida. 
     Se ele era um político rico, bem-sucedido e de uma família tradicional, Jackie não ficava atrás: vinha de uma família igualmente tradicional, seu padrasto, Hugo Auchincloss, era financista milionário e havia recebido dos pais (Jack e Janet Bouvier) uma educação refinada, que incluía o domínio de três linguas estrangeiras (francês, italiano e espanhol) e um curso na Sorbonne.
     Desde pequena, Jacqueline acalentava o desejo de não ser dona-de-casa. Mas seu pai a havia aconselhado a "esconder o saber e nunca parecer mais inteligente do que um homem". Daí ela ter cultivado, pela vida afora, um certo ar de tola, uma fala macia e dengosa, que chegou a merecer um artigo do escritor Norman Mailer, onde ele ironizava "aquela" (grifo do autor) voz baixinha, de quem, no íntimo, estava representando um papel." Jacqueline desarmava as pessoas com a fala sussurante, de quem segredava -- arma muito utilizada pela maioria das mulheres dos anos 50. Um bom exemplo foi Marilyn Monroe (um dos futuros fantasmas da vida de Jackie Kennedy), que falava como longplay fora de rotação e ainda fazia beicinho ...
     Cessam aí as características em comum, pois faltava à Jackie o corpo curvilíneo, a cintura finíssima, os seios fartos e os quadris largos da outra, que eram festejados naquela época. Ela possuía um porte atlético: corpo musculoso e geométrico, caracterizado por pouco busto e ausência de curvas e quadris exuberantes. Jackie era longilínea, calçava sapatos de número 42 e talvez tenha sido um prenúncio de um tipo fisico que ficaria muito em voga nos anos 60 e 70, época das Twiggys e da moda unissex. Este porte fisico diferente não passou desapercebido da sua futura sogra. Logo que a viu, Rose Kennedy comparo-a com um rapaz, conforme registrado na autobiografia "Times do Remember"
     Já Eunice Kennedy, irmã de John, foi irônica: comentou que o nome Jack-Lin rimava com  queen, ou seja, rainha em inglês. Talvez fosse um presságio. Jackie, sem dúvida, reinou absoluta como modelo de elegância e feminilidade, por mais de quatro décadas, causando o desespero de cunhadas e co-cunhadas, que morriam de inveja.
     Segundo a atriz e escritora esotérica Shirley MacLaine, "Jackie era capaz de antecipar, de alguma forma misteriosa, quando o trem daria um solavanco. E, como uma rainha, procurava segurar-se em alguma coisa, para não perder a pose".
     Na verdade, a vida de Jackie sofreu muitos solavanco, inclusive dois abortos naturais -- justamente quando ansiava por ser mãe --; morte do recém-nascido Patrick; a perda do pai; o assassinato do cunhado Bob Kennedy e, claro, a trágica viuvez em Dallas. Mais adiante, ficando novamente sózinha, com a morte de Aristóteles Onassis. Mas em todas estas ocasiões -- mesmo quando se instalou o cancer que acabaria com a sua vida -- Jackie manteve a magestade e dignidade, demonstrando possuir uma grande força interior.
     Nos anos felizes com John, ela protagonizou -- na visão da opinião pública norte-americana -- uma história de amor bem ao estilo de Romeu e Julieta. No dia do casamento, 12 de setembro de 1953, apareceu em tafetá de seda, com excesso de babados e pregas, costuras e flores. Atendia a um pedido do noivo que queria vê-la em "algo tradicional e antigo", a fim de não chocar o eleitorado de Massachusets. 
     Após a cerimônia, cercada pela familia Kennedy e pelos amigos mais próximos, a rainha do conto de fadas antecipou o espírito Camelot. Entre as mulheres maravilhosas, que dançavam com homens galantes, parecia inaugurar "os momentos mágicos" da Casa Branca, transformada num elegante centro do universo.          Ao sair -- para a lua-de-mel, a jovem senhora Kennedy vestia um tailleur cinzento, no estilo Chanel e usava como acessórios apenas uma pulseira de ouro e um discreto broche de brilhante. Era a inauguração do estilo madame minimum como diziam as redatoras de moda das revistas francesas. 
     Pesava, claro, o sobrenome da familia do pai, Bouvier, acostumado ao requinte austero dos europeus. Jackie só viria a adquirir hábitos mais norte-americanos durante a campanha de John para a presidência, em 1960: Durante cerca de nove meses foi obrigada a engolir os cardápios em lanchonete, quase sempre apoiada num balcão, coisa que ela odiava. Na mesma ocasião aprendeu a se virar com apenas três mudas de roupa, um colar de pérolas e um chapéu -- este reservado às emergências religiosas.         Seu reinado consagraria, entre outras coisas, o chapéu pillbox (em forma de caixa), os sapatos de salto baixo, o tailleur Chanel, as cores sóbrias, os tons pastéis e os vestidos de menina que anteciparam, em quase uma década, a linha  Courrèges.
     Em resumo: o estilo Jackie foi uma completa revolução da moda feminina norte-americana, derrubando os frous-frous, as cansativas estampas florais e outras frescuras e supérfluos bem ao gosto da mulher do país.
     Mas havia um certo parentesco do clean inaugurado por Jackie com a alma norte-americana: o visual calcado no básico, afinal de contas, nascera do próprio pragmatismo da indústria de moda dos E.U.A que também criara o ready-to-wear. Daí se originaria, na Europa do pós-guerra, o famoso prêt-à-porter francês, que ela levaria de volta para os  States. Em outras palavras: Jacqueline Kennedy nada mais fez que alçar a moda do país a um patamar internacional, temperando a funcionalidade e a praticidade do  basic, do casual wear, do sportwear inventados pela grande estilista Claire McCardell, e filhos do  american way of life e, naturalmente, do time is money -- com o refinamento e a fantasia artística da moda francesa. Para Givenchy, por isso mesmo, "ela foi a embaxatriz do charme e da beleza norte-americana."
     A classe e o bom-gosto de Jackie podiam ser detectadas nos menores gestos, num simples passeio pelo Central Park ou nas sofisticadas recepções da Casa Branca, e até na discreta combinação de lenço e óculos escuros, que durante meses escondeu do mundo seus olhos entristecidos com a trágédia de Dallas. Nesta área , um dos poucos palpites que ela admitiu foram os de Oleg Cassini, não por acaso um judeu russo que fora criado em Florença, na Itália, e se transformara em seu costureiro particular.
     Mas a mídia norte-americana só ficaria realmente enciumada quando Jackie -- vestindo um mini duas-peças de Valentino, na ilha de Skorpios -- disse sim ao armador grego Aristóteles Onassis em outubro de 1968. Segundo os repórteres, a América perdia uma santa e John Kennedy morria pela segunda vez. Naquele mesmo dia a ex-primeira dama diria uma frase bem definidora da independência e da ironia que caracterizaram os últimos quatorze (14) anos da sua vida -- já ao lado do financista belga Maurice Tepelsmann --: "É melhor cair do pedestral que ficar congelando para sempre."


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