A publicidade de moda se impõe, invadindo e conquistando os meios de comunicação com imagens e textos, às vezes até didáticos, que despertam o desejo de moda numa parcela cada vez maior da população. Não há hoje um intervalo na TV em que não se assista a um anúncio de moda.
Segundo o estilista Gregório Faganello, presidente da Câmara da Moda do Rio de Janeiro, a indústria de moda garante empregos diretos a 1% da população brasileira. Em contrapartida o jornalismo de moda continua a sofrer uma discriminação tão grande que não é sequer cotado para concorrer ao Prêmio Esso de Jornalismo. Até pelos demais jornalistas é visto como uma especialização menor, pouco digna de respeito.
Mas o jornalismo de moda está aí, nos jornais e nas revistas. Ele existe há várias décadas e conta com profissionais sérios no mercado. Para eles, coloca-se sempre uma restrição, como se não fossem tão competentes quanto seus colegas especializados em áreas como economia, política, saúde, esporte ou educação.
Numa conversa com Regina Guerreiro, diretora de moda da Revista Vogue, escutei um desabafo que resume toda a má vontade em relação aos jornalistas de moda. "As pessoas acreditam que para entender de moda basta ser mulher ou homossexual" - o que em si já enfatiza um preconceito contra a mulher e contra o homossexual. Não acredito que a moda seja um assunto de interesse exclusivamente feminino, no sentido mais caricatural da palavra, restrito a conversas vazias em cabeleireiros e chás-de-caridade. É preciso que todos saibam que a moda avai muito além de combinar isto com aquilo. Ela engloba toda uma análise de comportamento e um importante estudo dos costumes da sociedade.
Nos anos 60, as roupas expressavam o desejo de libertação. Foi descoberta a pílula anticoncepcional e também a minissaia. A mulher deixou o corpo mais à mostra no momento em que pode dominar o ciclo reprodutivo. Lutou-se pela igualdade entre os sexos. Surgiu a moda unissex. A interação destes fatos mostra a evolução dos costumes.
O vestir é um produto da cultura que atinge homens e mulheres. É uma maneira de comunicação entre nossos semelhantes. No entanto, as faculdades de comunicação não se dedicam ao estudo da moda através dos diferentes momentos sociais.
Mas alguém pode afirmar "isso é sonho. Afinal tudo é copiado do estrangeiro."Mas atire a primeira pedra quem for capaz de negar o fascínio do brasileiro pela cultura importada. Quando fui assistir ao filme "Òpera do Malandro" de Ruy Guerra, o som do cinema estava tão ruim que perdi preciosos trechos das letras de Chico Buarque. A explicação é simples: como vivemos de legendas, muitos proprietários de cinema não se preocupam em atualizar seu equipamento de som. O mito do importado perdurou por muitas décadas e brecou o desenvolvimento das nossas expressões culturais. Para refletir esse aspecto do comportamento do brasileiro, o jornalismo de moda sofre uma maciça discriminação. O que tem glamour vende mais. E a moda também é consumo. Daí incomodar tanto.
Pouquíssimo estudantes de comunicação desejam abraçar o jornalismo de moda. Afinal, os salários não são compensadores. Mas é preciso acreditar nas possibilidades de informação que uma reportagem de moda pode oferecer. A negação da moda como fonte de conhecimento de uma sociedade nada acrescenta. Não impede o seu avanço, a sua inegável importância econômica para o país e nem sua capacidade de refletir mudanças sociais.
Escrever sobre moda é falar de uma sociedade e registrar os anseios de um povo. Escrever sobre moda é falar sobre a estética, economia, história e até sobre política situadas em um dado momento. Escrever sobre moda é refletir sobre o comportamento da comunidade. Escrever sobre moda é opinar, criticar, ponderar e apontar direções e rumos.
Escrevi este artigo em 1986 ou 1987. E ele foi publicado no extinto Jornal do Brasil. Na época, creio que fui visionária, tão visionária que o Luis Fernando Veríssimo publicou, embaixo do artigo escrito por mim, uma curta história em quadrinhos com os personagens "As cobras" - em uma 'zona de miragens ...' - Vejam, por favor, os quadrinhos escaneados. Obrigada pela atenção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário